quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Karl Marx versus Bill Gates.

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Em 1998, o caderno de economia do jornal português “Expresso” publica um interessante artigo sobre “As  três revoluções do capitalismo no século XX” a partir de uma tese de Bruno Lemaire (1).
íntegra em http://www.blemaire.com/siad2/Books/Marx_Init.htm.
Selecionei 3 trechos que permanecem atuais.

“O que levará um professor de gestão francês a querer perceber o itinerário histórico entre dois personagens tão diferentes como Karl Marx e Bill Gates, é no mínimo intrigante.
"São dois símbolos um pouco míticos do imaginário deste século. O primeiro é do século passado, mas a influência dele foi muito profunda em diversas gerações do século XX. O segundo é um símbolo de uma geração ganhadora de final de século e tem a ver com outro paradigma", explica-nos Bruno Lemaire (blemaire@club-internet.fr), professor do HEC, uma escola de gestão dos arredores de Paris, que acaba de tornar público um projeto de investigação precisamente intitulado "De Marx a Gates", tendo disponíveis duas versões - uma mais abreviada na Web (começando em www.reseau.org/rad/lemaire1.htm) e outra em livro.
O seu trabalho permite uma reflexão sobre o trajeto do capitalismo através das três revoluções «internas» que mais o marcaram no século XX - a revolução política, a revolução da gestão e a revolução do saber.
Todas elas tiveram os seus protagonistas principais - a política foi levada a cabo por uma organização de «revolucionários profissionais», a da gestão corporificou a nova organização empresarial e foi feita pelos gestores profissionais, e a do saber trouxe para a primeira linha os empreendedores inovadores e as suas organizações flexíveis que cavalgaram a revolução da informação e, mais recentemente, a revolução das comunicações.
Como se vê todos eles são «profissionais» - um termo que ganharia carga de marketing - e todos eles têm «organizações» coladas ao seu dia-a-dia.
Mas, houve diferenças de monta entre elas.
A primeira revolução foi ruidosa, idealista nos seus primórdios, provocou grandes alterações geo-políticas e da forma de governar no próprio capitalismo durante várias décadas, mas fracassou. Teve um profeta, Karl Marx (1818-1883), e um «prático», o russo V. I. Lenine (1870-1924). Marx, diz Lemaire, foi dos primeiros «economistas» a perceber que o capitalismo era "um sistema adaptativo, onde os diferentes agentes interagem, tendo como resultado a emergência do fenômeno da luta de classes, que ele julgava ser o motor da história econômica e social".
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Karl Marx já não move paixões extremadas de um lado e de outro e, por isso, a sua avaliação pode ser feita em sossego utilizando o processador de Gates e não o megafone. Marx foi claramente um dos profetas da descontinuidade.
"No plano puramente teórico da economia, ele estava extraordinariamente avançado em relação aos economistas da sua época, incluindo os afetos ao modelo do equilíbrio geral. Os esquemas marxianos de reprodução simples e alargada que vêm no O Capital eram intrinsecamente dinâmicos", refere-nos Bruno Lemaire. O que o mataria teoricamente "foi ele continuar prisioneiro de modelos lineares e deterministas, típicos, aliás, da época", sublinha o autor de De Marx a Gates.
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AS TRÊS REVOLUÇÕES
DO SÉCULO XX
E OS SEUS PROTAGONISTAS
# A revolução política e o «revolucionário profissional»
# A revolução da gestão e o gestor profissional
# A revolução do saber e o empreendedor da «terceira vaga»
OS TRÊS ECONOMISTAS DA DESCONTINUIDADE
# Karl Marx que pretendeu dar consciência do seu papel histórico a uma das classes que seria a coveira do sistema industrial
# Joseph Schumpeter que deu consciência do seu papel ao empreendedor inovador
# Peter Drucker que deu consciência do seu papel ao gestor
OS TRÊS «PRÁTICOS»
# V. I. Lenine que criou a organização dos revolucionários profissionais
# Alfred P. Sloan Jr. que criou a grande organização empresarial gerida por gestores profissionais
# Bill Gates que é o protótipo do empreendedor da terceira vaga

(1) Não confundir Bruno Lemaire com Bruno Le Maire (ex-ministro de Villepin). Nosso Bruno tem 56 anos, é professor do HEC, uma escola de gestão próxima de Paris, no departamento de Sistemas de Informação e de Apoio à Decisão, e tem um currículo com um diploma na Harvard Business School, bem como uma forte influência de autores de gestão e futurólogos norte-americanos (Peter Drucker, Tom Peters, Michael Porter, Alvin Toffler, Michael Hammer são citados com frequência), o que faz dele um prof. de gestão francês "politicamente incorreto". Para conhecer mais de Bruno: http://www.blemaire.com/siad2/index.php
    

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