sábado, 24 de junho de 2017

Marx não morreu.

A edição de sexta-feira ( 23/06/17) do jornal Valor Econômico publica extensa matéria de Helena Celestino com o título acima. A “chamada”: “O Capital, monumental obra sobre a gênese do capitalismo, completa 150 anos e volta a ser estudado em tempos de crise econômica e política.”
Evidentemente, uma obra complexa como a do filósofo de Trier não pode ser resumida em 4 nem em 4 mil páginas. Gostaria de fazer um pequeno e relevante acréscimo. Faltou o registro de algo que hoje, mais que nos tempos de Marx, foi amplificado, muitas vezes, na sociedade de consumo : o fetichismo da mercadoria. Vale lembrar que o 1º capítulo do livro 1 de O Capital é dedicado à mercadoria e a sua seção 4  define o “Fetichismo da Mercadoria e o seu Segredo”.
Para estimular  sua leitura, segue o primeiro parágrafo: “A primeira vista, uma mercadoria parece uma coisa trivial e que se compreende por si mesma. Pela nossa análise mostramos que, pelo contrário, é uma coisa muito complexa, cheia de sutilezas metafísicas e de argúcias teológicas.”

terça-feira, 20 de junho de 2017

O Hegel de Engels

Um equívoco comum em seguidores do marxismo tradicional é a convicção  que o  Engels e o Marx maduros teriam abandonado o hegelianismo da juventude. Segue trecho definitivo de Engels de agosto de 1859:

“O que distinguia o modo de pensar de Hegel de todos os outros filósofos era o enorme sentido histórico que lhe estava subjacente. Por abstrata e idealista que fosse a forma, o desenvolvimento do seu pensamento não deixava de ir sempre em paralelo com o desenvolvimento da história universal, e esta última, propriamente, não deverá ser senão a prova do primeiro.
Ainda que, por este fato, a relação correta tenha sido também invertida e posta de pernas para o ar, o seu conteúdo real penetrou, contudo, por todo o lado, na filosofia; tanto mais que Hegel se diferenciava dos seus discípulos em que não se gabava, como eles, da sua ignorância, mas era uma das cabeças mais sábias de todos os tempos.
Foi ele o primeiro a procurar mostrar um desenvolvimento, um encadeamento interno, na história e, por estranha que agora muita coisa na sua filosofia da história nos possa parecer, a grandiosidade da própria visão fundamental é ainda hoje digna de admiração, quando se lhe comparam os seus predecessores ou mesmo aqueles que depois dele se permitiram reflexões universais sobre a história.”


sexta-feira, 16 de junho de 2017

Marx-tese versus Marx-antítese. Existe Marx-síntese?

Denis Collin, em seu “Compreender Marx”, encerra o prefácio enfatizando as contradições de Marx. Sabemos todos que Marx, sabiamente, não aceitava ser “enquadrado” como marxista. Afinal, marxismo é uma palavra que não pode ser usada no singular.... Confesso que ainda não estou seguro na resposta à questão do titulo, até porque, quanto tempo leva a síntese para se transformar em tese? Quanto mais conheço o velho Karl, mais sei que nada sei sobre o companheiro de Engels e que inspirou o fracassado “socialismo real”. Fica a provocação de Collin.


“Marx é hegeliano e anti-hegeliano, materialista e critico do materialismo, critico da economia política e o último economista clássico, antiestatal e estatal, etc. É interessante, isto não é decisivo, saber se ele é materialista ou não, meio materialista ou seja lá o que for, mas mostrar como a própria contradição, que Marx não destaca, é interessante, quer dizer, nos leva a um problema interessante.”

quinta-feira, 15 de junho de 2017

O TRABALHO. DO TEAR A VAPOR `A ERA DA AUTOMAÇÃO.

Trabalho, mercadoria e capital. Três temas presentes em toda a obra da maturidade de Marx. Sobre o tema trabalho, selecionei dois trechos de sua obra maior – O Capital (1867) No segundo trecho sublinhei a referência à ciência e tecnologia na determinação da “força produtiva do trabalho”.
Na sequência, seguem trechos do artigo de Laura Tyson ( Valor Econômico – 12/06/2017) que descrevem como os avanços na inteligência artificial e na robótica estão transformando o trabalho, eliminando cerca de 400 mil empregos anualmente nos EUA. Com certeza, mudanças radicais também ocorreram na mercadoria e no capital nesses 150 anos. Um desafio a cada postagem deste blog.

O Capital Livro 1 – Karl Marx (1867)
“Após a introdução do tear a vapor na Inglaterra, por exemplo, passou a ser possível transformar uma dada quantidade de fio em tecido empregando cerca de metade do trabalho de antes. Na verdade, o tecelão manual inglês continuava a precisar do mesmo tempo de trabalho para essa produção, mas agora o produto de sua hora de trabalho individual representava apenas metade da hora de trabalho social e, por isso, seu valor caiu para a metade do anterior. “ 
“Essa força produtiva do trabalho é determinada por múltiplas circunstâncias, dentre outras pelo grau médio de destreza dos trabalhadores, o grau de desenvolvimento da ciência e de sua aplicabilidade tecnológica, a organização social do processo de produção, o volume e a eficácia dos meios de produção e as condições naturais.”

O trabalho na era da automação  - Laura Tyson (2017)

“Os avanços em inteligência artificial e robótica estão provocando uma nova onda de automação, com máquinas que combinam ou superam os seres humanos numa rapidamente crescente gama de tarefas, inclusive algumas que exigem capacidades cognitivas complexas e educação de nível superior. Esse processo superou as expectativas dos especialistas; não é de surpreender que seus possíveis efeitos negativos sobre a quantidade e a qualidade do emprego levantaram sérias preocupações.”

“Com base nas simulações do estudo, os robôs custam provavelmente cerca de 400 mil postos de trabalho por ano nos EUA. Muitos deles são empregos de renda média na produção, especialmente em setores como o automobilístico, de plásticos e de produtos farmacêuticos.”

“Ao longo dos últimos 30 anos, as mudanças tecnológicas que privilegiam os mais capacitados alimentaram a polarização tanto dos empregos como dos salários, e assim os trabalhadores médios que enfrentam estagnação salarial real e os trabalhadores sem curso superior sofrem um declínio significativo em seus ganhos reais. Essa polarização alimenta a crescente desigualdade na distribuição da renda da mão de obra, o que por sua vez impulsiona o crescimento da desigualdade geral de renda - dinâmica enfatizada por muitos economistas, de David Autor a Thomas Piketty.”

Laura Tyson, ex-presidente do Conselho de Assessores Econômicos do presidente dos EUA, é professora da Haas School of Business da Universidade da Califórnia


quarta-feira, 7 de junho de 2017

Marx by George Magnus e Walter Molano


Em agosto de 2011, George Magnus – consultor sênior da União de Bancos Suíços (UBS) – publica artigo no site da Bloomberg com o titulo “Give Marx a chance to save de world economy”. Segue um pequeno trecho.
“Como dizia Marx em O Capital: a razão última de todas as crises reais ainda é a pobreza e o consumo restrito das massas.
Como enfrentar esta crise? Para colocar o espírito de Marx em ação, os dirigentes políticos devem ter como prioridade a criação de postos de trabalho, e considerar outras medidas pouco ortodoxas. A crise não é temporária, e certamente não vai se curar pela paixão ideológica dos governos pela austeridade.”
Magnus é autor de uma frase surrealista sobre Marx: “o velho era um analista bastante sagaz”.
Mas, George Magnus não está isolado em sua admiração pelo velho Karl entre os mais destacados economistas consultores de grandes grupos econômicos. Walter Molano, da BCB Securities, considera Marx um dos grandes economistas clássicos, e teve enormes contribuições para o desenvolvimento das ciências sociais”. Segundo Molano, “Marx estabeleceu uma teoria do trabalho que lhe permitiu explicar a determinação dos salários, assim como a segmentação da sociedade em três classes – o proletariado e à burguesia, nos extremos, e à pequena burguesia, ou classe média, como grupo intermediário.”