domingo, 29 de julho de 2012

A onipresença de Marx. Deu na Exame.


O site da revista  de negócios Exame publicou, no dia 11/07/12, que a imagem do velho Karl passou a ilustrar cartões Master Card do banco alemão Sparkasse Chemnitz. Atual símbolo maior do fetichismo da mercadoria, o cartão de crédito reverencia a “descoberta” genial de Marx, quando as pessoas agem como coisas  e as coisas como pessoas. Segue um trecho da matéria.
“O filósofo alemão Karl Marx, fundador das bases teóricas do comunismo, quem diria, virou estampa de um grande símbolo do capitalismo, o cartão de crédito.
A ironia aconteceu na cidade de Chemnitz, no centro-leste da Alemanha, onde o banco Sparkasse Chemnitz, criou um cartão cuja ilustração é um busto de Marx, construído em 1953.
A imagem foi escolhida em uma votação popular pela internet, e teve na disputa 10 importantes instalações da cidade. A mais votada estamparia o cartão de crédito, da bandeira Mastercard.
O busto de Marx venceu com 35% dos votos, à frente de castelos da Idade Média, e do escudo de um time de futebol da região.”

sábado, 28 de julho de 2012

Vida doméstica


Nesta 2ª década do século 21, quando menos se espera, está presente o velho Karl. Desta vez, quem me chamou a atenção foi Thereza, dublê de companheira e leitora voraz, interrompendo a leitura de “Em casa. Uma breve história da vida doméstica”, de Bill Bryson ( tradução de Isa Mara Lando – editado pela Cia das Letras). Segue o trecho em que o autor passa uma visão “doméstica” de Marx e relata, inclusive, a transa com a criada recebida como “presente de casamento” da nobre família de Jenny. É fato notório que o eterno quebrador de galhos Engels assume a paternidade. A descrição do ambiente não bate com a de Paul Lafargue, genro de Marx ao descrever a residência de Maitland Park Road,41.

“Karl Marx, vivendo no Soho, em Londres, cronicamente endividado e muitas vezes mal conseguindo pôr comida na mesa, empregava uma governanta e um secretário pessoal. A casa era tão superlotada que o secretário – um homem chamado Pieper – tinha que dormir com Marx na mesma cama. (Mesmo assim, de algum jeito, Marx conseguiu arranjar momentos de privacidade para seduzir e engravidar a governanta, que lhe deu um filho no ano da Grande Exposição.)”

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O Marxismo como teoria "finita".


Em abril de 1978, Althusser publica o texto com o título acima. Nas primeiras linhas critica  os “vestígios” da juventude que, segundo ele, estão presentes em O Capital. No final do trecho selecionado, defende que “somente uma teoria "finita" pode ser realmente "aberta" às tendências contraditórias que descobre na sociedade capitalista, e aberta ao seu devenir aleatório, aberta às imprevisíveis "surpresas" que sempre marcaram a história do movimento operário; aberta, portanto atenta, capaz de levar a sério e assumir em tempo a incorrigível imaginação da história”.
“Tão logo se liberta dos tons proféticos dos seus escritos de juventude e do socialismo utópico (que, diga-se de passagem, ainda permanecem, de certo modo, em O capital), Marx pensa o comunismo como uma tendência da sociedade capitalista. Essa tendência não é uma resultante abstrata. Existem já, concretamente, nos "interstícios da sociedade capitalista" (assim como existiam as trocas mercantis nos "interstícios da sociedade escravista e feudal") formas virtuais de comunismo: como nas formas de associação que, guardadas as devidas proporções, tendem a escapar das relações de mercado.
Por trás dessas questões há um problema teórico muito importante. Eu creio que a teoria marxista é "finita", limitada: que ela é limitada à análise do modo de produção capitalista, e de sua tendência contraditória, que abre a possibilidade da passagem para a abolição do capitalismo e sua substituição por "outra coisa", que se delineia já "como um vazio" e positivamente, na sociedade capitalista. Dizer que a teoria marxista é "finita" significa sustentar a idéia essencial de que a teoria marxista é totalmente distinta de uma filosofia da história, que pretenda "englobar" todo o devenir da humanidade pensando-o efetivamente, e que seria, portanto, capaz de definir, antecipadamente e de modo positivo, o seu fim: o comunismo. A teoria marxista (se se deixa de lado a tentação de uma filosofia da história, à qual o próprio Marx às vezes cedeu, e que dominou de modo esmagador a Segunda Internacional e o período staliniano) está inscrita na fase atual existente, e é limitada a ela: a fase da exploração capitalista. Tudo que ela pode dizer do futuro é o prolongamento alusivo e em negativo da possibilidade objetiva de uma tendência atual, a tendência ao comunismo, que pode ser observada em toda uma série de fenômenos da sociedade capitalista (da socialização da produção às formas sociais "intersticiais"). É preciso observar que é a partir da sociedade atual que pode ser pensada a transição (ditadura do proletariado, sob a condição de não se desvirtuar instrumentalmente esta expressão) e a extinção ulterior do Estado. Tudo o que se diz sobre a transição só pode ser uma indicação induzida por uma tendência atual que, como toda tendência em Marx é contraposta a outras tendências e só pode se realizar por meio de uma luta política. Porém, esta realidade não pode ser prevista já na sua forma positiva determinada: é apenas no curso da luta que as formas positivas podem aparecer à luz do dia, se descobrir, se tornar realidade.
Conseqüentemente, a idéia de que a teoria marxista é "finita" exclui totalmente a idéia de que ela seja uma teoria "fechada". Fechada é a filosofia da história, na qual está antecipadamente contido todo o curso da história. Somente uma teoria "finita" pode ser realmente "aberta" às tendências contraditórias que descobre na sociedade capitalista, e aberta ao seu devenir aleatório, aberta às imprevisíveis "surpresas" que sempre marcaram a história do movimento operário; aberta, portanto atenta, capaz de levar a sério e assumir em tempo a incorrigível imaginação da história.

sábado, 14 de julho de 2012

A forma social da mercadoria.


Os professores Ciro Bezerra e Sandra  Regina Paes assinam a tese “A fetichização do conhecimento no contexto do Capitalismo Contemporâneo” Selecionei um texto onde os autores começam enfatizando que o caráter místico da mercadoria não provém do valor de uso e  nem do conteúdo das determinações de valor, mas da autonomização das coisas objetivadas pelos produtores. E terminam com a pergunta de Marx “de onde provém, então, o caráter enigmático do produto do trabalho, tão logo ele assume a forma mercadoria”? E com sua resposta categórica: “da própria forma social da mercadoria”.

“Segundo Marx, “o caráter místico da mercadoria não provém, portanto, de seu valor de uso, tampouco do conteúdo das determinações de valor” (Marx, 1985: 70), mas da autonomização das coisas objetivadas pelos produtores que, na modernidade capitalista, assume a forma de mercadoria.
Conseqüentemente, o conhecimento tende a ser mistificado quando assume a forma de mercadoria, quando se objetiva nas relações sociais de produção como conhecimento-mercadoria. Por essa razão, é importante explicar como ocorre esse processo. A mistificação é explicada por Marx quando a forma mercadoria exerce o seu império através da personificação das formas sociais pelas pessoas.
Marx rejeita a possibilidade de as formas de sociabilidade orientadas pelo valor de
uso se sujeitarem ao fetichismo da mercadoria. No processo dinâmico das sociedades em que as “comodidades” ainda não adquiriram proporções dominantes, as relações de produção e as formas sociais a elas vinculadas não podem desenvolver o fenômeno fetichista, pois os produtores ainda não foram expropriados dos meios necessários à reprodução da existência.
Conseqüentemente, a produção e apropriação social do conhecimento ainda não foi expropriada pelo capital, centralizada e concentrada sob o seu controle. Nas sociedades pré-capitalistas eles produzem para si, para a subsistência. Neste contexto, o conhecimento necessário à reprodução da vida é transparente aos olhos dos produtores e não há exclusividade em sua produção e apropriação.
Essa realidade muda quando entram em cena as determinações sociais da reprodução sociometabólica do capital, aquelas que inauguram propriamente a era da modernidade capitalista. Marx enumera os motivos que impedem o fetichismo de se manifestar antes da modernidade capitalista. Nas sociedades pré-modernas predominavam as seguintes características: (1º) o trabalho funcionava como
extensão do organismo humano; (2º) o número de horas de trabalho era definido pelas necessidades imediatas de subsistência; (3º) o fato de existir excedente econômico não determina a autonomização do produto do trabalho como mercadoria, apenas explicita o caráter de sociabilidade decorrente da evolução do trabalho humano.
Como esclarece Marx:
Primeiro, por mais que se diferenciem os trabalhos úteis ou atividades produtivas, é uma verdade fisiológica que eles são funções do organismo humano e que cada uma dessas funções, qualquer que seja seu conteúdo ou forma, é essencialmente dispêndio de cérebro, nervos, músculos, sentidos humanos, etc;
Segundo, quanto ao que serve de base à determinação da grandeza de valor, a duração daquele dispêndio ou a quantidade do trabalho, a quantidade é distinguível até pelos sentidos da qualidade do trabalho. Sob todas as condições, o tempo de trabalho, que custa a produção dos meios de subsistência, havia de interessar ao homem, embora não igualmente nos diferentes estágios de desenvolvimento;
Finalmente, tão logo os homens trabalham uns para os outros de alguma maneira, seu trabalho adquire também uma forma social (Marx, 1985a: 70).
Marx se pergunta: “de onde provém, então, o caráter enigmático do produto do
trabalho, tão logo ele assume a forma mercadoria”? (Marx, 1985a: 70). A resposta é categórica: da própria forma social da mercadoria.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Estado Hegeliano versus Estado Marxista.


José Paulo Bandeira da Silva, publica na Acantus 79 um precioso estudo sobre a “Nova ciência política da comunicação”. Na parte final do texto, faz uma comparação entre o conceito de Estado de Hegel e de Marx. Para Hegel, o Estado detém o poder; para Marx - ao contrário – “o poder de Estado é sempre o exercício de poder de uma classe social”.

“Há duas concepções modernas básicas do Estado. Na primeira, Hegel definiu o Estado-sujeito. Tal Estado hegeliano é um Estado ético, educador, um Estado civilizatório. Na versão hegeliana, o Estado detém o poder. Esta concepção foi desenvolvida, no século XX, por Gramsci no marxismo ocidental. É a fórmula do Estado ampliado, do Estado-hegemônico, do Estado dos aparelhos de hegemonia de uma classe social. Em Hegel, a burocracia estatal é um categoria universal; ela está além dos interesses particulares, privados, capitalistas e das práticas políticas particulares e dos aparelhos sociais da sociedade civil. Nesta posição, o Estado universal tem a consistência para assegurar a unidade de um país, de uma nação e de outras formações sociais. Em Gramsci, o Estado- hegemônico é uma estratégia do poder burguês para assegurar a dominação de classe. Nesta estratégia, o Estado articula uma adesão cultural das classes subalternas à civilização moderna. A crítica da civilização moderna é o método de Gramsci para estabelecer a estratégia da revolução socialista no século XX. Mas em Gramsci, o poder de Estado é exercido, por uma classe social, nos aparelhos de hegemonia da classe dominante.
Em Marx, há a concepção do Estado-coisa, Estado- instrumento de uma classe social dominante. Para Marx, o Estado não detém poder. O poder de Estado é sempre o exercício de poder de uma classe social. E para Marx, o Estado liberal é apenas o uso de violência social, isto é, um aparelho de repressão. O Estado liberal só é civilizatório no plano da ideologia. Há uma confluência das concepções de Hegel e Marx em Weber. Para este, o Estado moderno é a probabilidade dele possuir o monopólio legítimo da força física: Estado-coação. Trata-se de um conceito virtual. Além da repressão, o Estado moderno existe como um tipo puro de dominação weberiana.
Para Weber, a dominação racional-legal, dominação burocrático-moderna, pode existir como um mecanismo de integração dos indivíduos à ordem moderna. Uma leitura hegeliana de Weber, já usa esta idéia para caracterizar a burocracia como um discurso social. Nesta leitura, o Estado é o uso da violência mais um discurso social. Neste caso, o Estado não é apenas a soma dos aparelhos de Estado, das instituições, dos grupos que o povoam, das práticas administrativas e dos indivíduos que tomam as decisões. Aqui, a burocracia é matriz simbólica de um determinado discurso social. Este existe no funcionamento dos aparelhos, das instituições, das práticas estatais, das ações individuais dos agentes estatais, dos grupos estatais, das redes de poder e de fluxos econômicos que amealham permanentemente o Estado e sobredeterminam todo o resto: aparelhos, instituições etc. Nesta leitura, o Estado existe em função de um campo de poder. Trata-se de um campo de relações de forças que funciona através das redes de poder e de fluxos de uma economia geral do excedente econômico.
Na questão do Estado, Foucault segue Marx. Para ele assim como para Marx, o Estado não é o poder. O Estado é uma instituição, e as instituições: ” São práticas, mecanismos operatórios que não explicam o poder, já que supõe as relações e se contentam em fixá-las sob uma função reprodutora e não produtiva”(6). Na era moderna, a forma-estado capturou um número considerável de relações de poder e isto é a “estatização contínua” – na ordem pedagógica, na judiciária, na econômica, na familiar, na sexual – visando uma integração global. uma linha de força geral no campo dos poderes. Para Foucault, o “governo”( o poder de afetar sob todos os aspectos o ” modo de governar” as crianças, as almas, os doentes etc.) ilumina mais o poder do que o Estado.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Althusser versus fetichismo.


O caráter fetichista da mercadoria é um dos “divisores de água” das diversas correntes marxistas. Althusser, por exemplo, sugeria “pular” a primeira secção do livro I do Capital, que considerava muito “metafísico” e marcado pelo hegelianismo. Se lhe fosse dada a oportunidade, talvez Althusser estrangulasse o parágrafo 4 da primeira secção – “O caráter fetichista da mercadoria e seu segredo” – como fez com sua mulher Hélène Rytmann, em 16 de novembro de 1980.......

domingo, 1 de julho de 2012

Fetichismo na URSS e na China.


O professor da UFRJ, José Paulo Bandeira da Silveira, escreve artigo sobre Althusser – www.cce.ufsc.br/~fialho/BasesCogInfo/material/.../Althusser.doc - onde faz estimulante reflexão sobre o fetichismo no capitalismo de estado da URSS e da China de nossos dias. Silveira afirma que “na China, o Estado introduz o fetichismo do dinheiro e o fetichismo da mercadoria com o enclave das corporações capitalista mundiais”. E que “na URSS, as máfias russas são o agente da introdução do fetichismo do dinheiro na era final do colapso da sociedade soviética”. Segue um pequeno trecho.

“O fetichismo da mercadoria é a lógica do significante - ele é o modelo de lógica do significante como ideologia - que gera uma estrutura ideológica sob a soberania do dinheiro (Grundrisse).
Marx diz que o dinheiro é o nexo coisificado da sociedade, a verdadeira entidade comunitária que ocupou o lugar da antiga entidade comunitária, mantida em sua coesão por laços naturais e relações de dependência pessoal.
Destacando a questão do dinheiro, este existe para a sociedade capitalista como uma forma de produção das relações sociais. Ele existe como o significante-universal do laço capitalista. Este poder produtivo é o poder que gera e regenera a sociedade capitalista.
Na forma pura do capitalismo, a URSS e a China trocaram o poder do dinheiro pelo poder do capitalismo de Estado na produção e reprodução da sociedade. Estes países criaram um cotidiano liberado do fetichismo do dinheiro e do fetichismo da mercadoria. Uma parte considerável da humanidade viveu o século XX como fim da sociedade capitalista.
O partido revolucionário proletário foi o agente desta vasta e impressionante experiência histórica da humanidade. Curiosamente na URSS, as máfias russas são o agente da introdução do fetichismo do dinheiro na era final do colapso da sociedade soviética.
Na China, o Estado introduz o fetichismo do dinheiro e o fetichismo da mercadoria com o enclave das corporações capitalista mundiais. Hoje, a China usa o dinheiro como o significante universal na produção de duas sociedades capitalistas.
Trata-se da produção social de um nova sociedade capitalista na Ásia. Uma outra forma de ordem social capitalista está sendo inventada no mundo asiático. No Ocidente, o colapso das sociedades "socialistas" orientais pôs um ponto final no partido revolucionário do proletariado. Isto significou um derrota mundial e definitiva do capitalismo de Estado. Não foi uma derrota para o capitalismo ocidental, simplesmente. Esta derrota acabou com o recurso da planificação como modo de produzir uma sociedade livre do fetichismo da mercadoria e do fetichismo do dinheiro. O capitalismo de Estado deixou de existir como laço social, ou máquina ideológica de produção de um nova sociedade.”