sábado, 26 de novembro de 2011

Marx, Adam Smith e Keynes. Parte 7

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A mais eficaz medida de interesse por um tema na web é o numero de “resultados” em uma busca no Google. Em 6 de janeiro de 2011, eram os seguintes os resultados para Marx – 24,4 milhões; Adam Smith – 11 milhões e Keynes – 13,5 milhões.  Em 3 de março os números eram Marx – 48,7 milhões; Adam Smith – 14,8 milhões; Keynes – 22,3 milhões. Em 18 de maio, Marx – 50,9 milhões; Adam Smith – 15,3 milhões; Keynes – 33,7 milhões. Em 26 de novembro, Marx – 91 milhões; Adam Smith – 28 milhões; Keynes – 47,7 milhões.
A cada dia, o velho Karl é mais revisitado !!!!!!!

 

Marx na moda.

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A crise de 2007/2009 promoveu mais um renascimento de Marx. A nova crise 2011/20?? está trazendo o velho Karl ao centro dos debates sobre o futuro (futuro?) do capitalismo. Nesta sexta-feira, 25/11/11, o conservador jornal de economia Valor Econômico aproveita a comemoração dos 20 anos do “esfacelamento da URSS” para ocupar a capa de seu caderno “EU & Fim de Semana” com a chamada “Os Marx. A história da vida privada de um revolucionário”. Na matéria de Cyro Andrade - de 6 páginas – vale destacar os “olhos”: 1. “Marx e Engels mostraram que sua teoria investigava a realidade da época e apontava para uma direção que poderia mudar com a história.” 2. “Marx e Engels preocupavam-se com leituras equivocadas de suas ideias  no futuro – e por isso se documentavam, escrevendo.” Na entrevista com Mary Gabriel, autora de livro sobre a vida amorosa de Marx e Jenny ( sua mulher), um trecho interessante: “Penso que Jenny também ajudou a fazer de Marx mais que um filósofo. Sua influência, com a de Engels, ampliou sua perspectiva de modos muito importantes. Ela injetou um pouco de poesia na vida de Marx e, por extensão, em seus escritos”.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Marxismo e Espiritismo.


Em 1969, Jocob Holzmann Netto (1934-1994) publica o livro com o titulo acima, que , em 1970, tem sua edição digital do PENSE – Pensamento Social Espírita  (viasantos,com/pense). Segue um trecho interessante em que o autor reduz o “socialismo científico” ao estágio da  ciência no tempo de Marx.

“Karl Marx, ao erigir o socialismo que ele classificou de científico em contraposição ao socialismo utópico de seus precursores, julgou ser irreconciliável o socialismo com a realidade espiritual do homem; contudo, ao contrário do que ele supôs, o materialismo não          é de modo algum essencial nem ao socialismo e nem à ciência, e é mesmo uma lástima que a palavra socialismo esteja hoje comprometida com a ideologia marxista como um todo, pois que a comunidade de bens, ou propriedade coletiva, antes que ao marxismo pertence, como sistema social,ao primitivo cristianismo. Marx e Engels criaram o socialismo científico sobre os alicerces          da ciência de sua época; por isso, suas teorias assumiram uma forma necessariamente materialista. Aplicando-se unicamente à consideração do mundo material, que é apenas um dos aspectos da realidade, a ciência do século XIX foi materialista e, além de materialista, foi também dogmática, como dogmático é o marxismo. Hoje, porém, a ciência enfrenta problemas e enigmas antes insuspeitados e que a forçam a abandonar sua crença acentuadamente materialista: a técnica moderna pôs o homem em contacto com aspectos novos da realidade e, em face da Física quântica e da teoria da relatividade, até o conceito clássico de matéria perde seu sentido e sua razão de ser; a Medicina é agora psicossomática; tanto a Biologia quanto a Psicologia tiveram de se defrontar com a realidade da psique, que se expressa além da conduta e dos processos fisiológicos; e a Parapsicologia, provando que a mente transcende a matéria e independe de suas leis, está a um passo de admitir, por decorrência lógica de suas premissas, a sobrevivência do psíquico ao material. Despojada assim do dogma do materialismo absoluto, a ciência moderna deslegitima o marxismo como base única e indiscutível para o socialismo.”

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Marx hoje.

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A excelente coluna semanal do Prof. Renato Janine Ribeiro no jornal Valor Econômico abre hoje – 21/11/11 – com citação do velho Karl : “Em nosso tempo, nada rivaliza com a economia, em termos de poder. Menos de dois séculos atrás, Karl Marx chocava o mundo ao dizer que a política (estou simplificando) seguia a economia.”  E completa mais adiante: “ Quase todo o receituário dos economistas, salvo os keynesianos e os (poucos) marxistas, é conservador”.
As teses marxistas, liberadas do jugo do leninismo e do stalinismo, estão mais vivas do que nunca. Agora resta aguardar amanhã/terça, no mesmo espaço, a coluna do Delfim Netto - “marxista infiltrado”, segundo o jornalista Milton Coelho da Graça – e suas constantes referências ao parceiro de Engels.

domingo, 20 de novembro de 2011

Marx poeta, criticado por ele mesmo.


Em 1º de agosto de 1946, a publicação quinzenal “Divulgação Marxista” – editada no Rio por Calvino Filho e S.O. Hersen – circula com um artigo que transcreve  carta de Marx onde ele faz uma autocrítica de seus poemas. Duas referências da carta – “Oulanem” e “Skorpion e Felix” – serão objetos de postagens na próxima semana. Por causa de “Oulanem”, fanáticos religiosos, ainda hoje, identificam o velho Karl como “parceiro do diabo”.

“ Em dezembro de 1836, três meses depois de sua entrada para a Universidade de Berlim, Marx abandonou em mãos de Jenny Von Westphalen, com quem secretamente noivara durante as férias de 1836 em Treves, três cadernos de poesias. No fim do semestre universitário (fevereiro-março de 1837), enche novo caderno de versos e manda-o para seu pai, em comemoração de seu 55º aniversário.
Algum tempo depois, Marx, com dezenove anos, julga severamente, numa carta escrita a seu pai em 10 de novembro de 1837, esses ensaios da mocidade, impregnados de um romantismo então na moda, contra o qual se levantará tão asperamente, mais tarde. Os três primeiros cadernos de poesia de Marx perderam-se. O Instituto Marx-Engels-Lenin conseguiu encontrar o caderno de 1837 que contém, além disso, parte dos poemas incluídos nos primeiros manuscritos.
No estado de espírito em que me encontrava, a poesia lírica devia, necessariamente, constituir o primeiro objeto do meu estudo, ou, pelo menos, o mais agradável e o mais indicado; minha situação e toda a minha anterior evolução faziam com que essa poesia fosse puramente idealista. Fiz, de um “mais além” tão distante quanto meu amor, todo o meu céu e a minha arte. Uma realidade que se esfuma e dissipa no infinito, acusações contra os tempos presentes, sentimentos vagos e confusos, uma ausência total de naturalidade, construções nas nuvens, uma oposição absoluta entre o ideal e a realidade, retórica e raciocínios em lugar de inspiração poética, entretanto, com certo calor de sentimentos e certo esforço para voos líricos: eis o que caracteriza todas as poesias dos três primeiros cadernos que Jenny de mim recebeu. A amplitude dessas aspirações vagas e sem limites, que se manifestam sob as formas mais variáveis, expandem-se nesses poemas, em lugar de neles se concentrar (1).
......No fim desse semestre, procurei novamente a dança das musas e a música dos sátiros, e, no último caderno que lhe mandei, o idealismo brilha através de um humor forçado (Skorpion e Felix) ou ainda através de um drama fantástico e imperfeito (Oulanem) até que enfim se transforma inteiramente e evolui para uma fórmula de arte para, a mais das vezes a propósito de assuntos sem inspiração e de ideias sem impulsos.
Esses últimos poemas são, entretanto, os únicos que me fizeram entrever de repente, como por meio de uma varinha mágica – ah! esse toque me transformou – o reinado da verdadeira poesia, como algum longínquo palácio feérico, e todas as minhas criações se desfizeram em pó. (2)
(1)  Marx opõe aqui Dickten a Breiten fazendo um jogo de palavras intraduzível.
(2)  As poesias de Marx, seu drama Oulanem e alguns capítulos de Skorpion e Felix, romances humorísticos, figuram no tomo I das Obras editadas pelo Instituto Marx-Engels-Lenin.”

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O poeta Engels.


Nem somente de Marx, vive a poesia marxista. Aqui dois poemas de Engels: “Paisagens”, publicado em julho de 1840 no Telegraph für Deustchland e “Aos Inimigos”, em fevereiro de 1839, “Der Bremer Stadtbote” – reproduzidos na Revista Continente. O jovem poeta estava na flor de seus 19/20 anos

PAISAGENS
E agora esqueça os males
que te foram feitos,
e vá com coração inteiro
pelo grande caminho livre.
Curva-se o céu,
confunde-se com o mar –
e tu queres, outra vez rasgado,
andar no meio dessa situação?
Curva-se o céu,
abraça o mundo,
feliz pelas belas partes
que toca,
como se o mundo quisesse beijá-lo.
E assim saltou a onda,
e tu, rasgado,
queres completar teu caminho?
Vê como o deus do amor
mergulha no mundo,
e vê que o deus do amor permanece para o mundo
e, fazendo-se homem, como dádiva, a ele se entrega!
Tu não levas por tudo
o deus em teu seio?
Assim, deixe-o livremente mover-se
e ser digno de si próprio.

AOS INIMIGOS

Não podeis nunca deixar que séria e confiável ambição,
bem intencionada palavra,
ao seu modo se eleve
e sem ruído tenha consequência?
Decerto, quem quer, pode torcer
toda palavra sem qualquer esforço.
Oh! Vós podeis ver o mal no bem,
mas nunca podeis tornar o bem em mal!
Pensais que tereis vantagem,
quando degradais a obra e palavra de outros?
Não! A honra fugirá de vós
Se não a sustentais com a própria força!
Se quereis subir, deveis então agir por vós mesmos,
produzir com vosso próprio espírito;
não vos dará vantagem
ir pelos caminhos que outros caminharam, depreciá-los!
para o qual maliciosamente pondes armadilhas?
Deixai-o então andar no seu caminho,
quando ele traz suas mensagens por toda a parte!
Pois, se ele traz a verdade, a verdade permanece verdade,
e, erguendo-se por cima da astúcia e da fraude,
um antigo provérbio no coração dele penetra:
“Honrada ambição é auto-suficiente!”


Epigramas Marxianos. Parte 2.


O Marx poeta – versos pra Jenny, pra mãe e pro pai – já se fez presente aqui no blog. Hoje seguem, mais alguns sutis  “Epigramas” em que ele critica Goethe e o povo alemão. Publicados na Revista Continente, tradução de Moniz Bandeira.

III

Os alemães uma vez partiram,
até alcançaram a vitória sobre os povos.
E, quando isso aconteceu,
podia-se ler em todos os cantos:
“Aconteceram coisas estranhas,
ir-se-á logo em três pernas.”
Todos então enormemente se afligiram,
começaram a ter vergonha deles próprios,
“É que coisas demais aconteceram de uma vez,
tem-se que andar bem calmo outra vez
e o resto poderia ser encadernado em livros.
Fregueses decerto seriam facilmente achados.”

IV

Tirai deles as estrelas por vós próprios,
logo palidamente ardem, depois vivamente demais;
o sol logo queima os olhos,
e logo está por demais longe.

V

Assim criticaram Schiller,
que não pode deleitar bastante humanamente,
que também leva as coisas alto demais,
e não trabalha como devido nos dias úteis.
Diz-se que decerto brinca com relâmpago e trovão,
mas a ele falta completamente a graça das ruas.

VI

Porém, Goethe é excessivamente belo,
prefere ver Vênus a ver farrapos,
e, apesar de que comece em nível baixo
tem-se obrigatoriamente que se elevar à altura;
dá às coisas uma forma sublime,
e por isso falta toda a consistência da alma.
Pois Schiller fora melhor,
o público podia ler as idéia em letras
e dizer que foram impressas,
mesmo que não encontrasse a profundeza.

VII

NUMA CERTA CARECA

Pallas Athene, sublime no impulso da vitória,
saltou da testa de Zeus, cheia de pensamentos,
como um raio nascido do relâmpago,
e faísca, da distante sede das estrelas.
E ela, penetrada de desejo,
pulou em sua cabeça,
E se Zeus, não venceu na profundeza,
sabe com certeza, que por cima dele se encontra Pallas Athene.

NADA DISSO!
(Aos falsos anos de peregrinação)

1

Schiller, pensa ele, fora razoável,
se só tivesse lido mais na bíblia;
seu Glocke seria até um excelente poema,
se ainda só contivesse a história da ressurreição,
e de como Cristo entrou na cidade
montado num burrinho.
Também deveria ainda acrescentar ao Wallenstein
a vitória de David e as marchas dos Filistinos.

2

Goethe é um horror para mulheres,
pois não combina direito com as velhas;
ele só agarrou a natureza
e não a poliu com a moral.
Deveria ter estudado o catecismo de Lutero,
e daí então fabricar versos.
Embora tenha às vezes percebido o belo
esqueceu de dizer: “Deus o fez.”
3
Estranho o interesse
de estimar tanto Goethe.
Ignóbil foi mesmo sua grande aspiração.
Já deu ele sentido aos sermões?
Apresentam-se nele firmes núcleos,
com os quais o camponês e o sapateiro podem aprender,
mas Goethe não tem o cunho divino dos gênios,
nem resolveu um problema de aritmética.

4

Ouvi agora como tudo do Fausto se evadiu
e o poeta erroneamente o cantou.
Fausto tinha demais dividas,
foi desmazelado, dedicava-se ao jogo de azar,
e quando não viu qualquer ajuda dos céus,
quis vergonhosamente perecer,
e por isso ficou com medo
do inferno e da tristeza do desespero.
Então pensou sobre a vida e a morte,
A sabedoria, a ação e a perdição,
e até falou muito
no sentido obscuro e místico.
Se o poeta não o podia ornar,
não podia contar como dividas levam ao diabo,
e como aquele, que perde o crédito,
vende facilmente sua salvação!

5

Fausto ousa pensar, no dia de Páscoa.
Assim, não necessita ele se dar como dádiva ao diabo!
Quem ousa pensar em dias como esse
é pelo próprio inferno recusado.

6

Também a probabilidade foi golpeada.
Poderia a policia senão o tolerar?
Não o teria posto na prisão?
Ele viajou e não paga as dividas!

7

Só o vício pode elevar Fausto,
porque ele só quer viver para si mesmo.
Ousou duvidar de Deus e do mundo
e esqueceu que Moisés bem o segura.
A estúpida Grete tinha de amá-lo,
ao invés de apelar diretamente para a sua consciência,
quando ele caiu à mercê do diabo
e o dia do Juízo logo chegasse.

8

Ainda poderia ser usada a “bonita alma”,
mas ainda tem de ser apoiada com óculos e barrete de freira.
“O que deus faz, faz bem!”
Assim começa o verdadeiro poeta.


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Epigramas Marxianos. Parte 1.


O Marx poeta – versos pra Jenny, pra mãe e pro pai – já se fez presente aqui no blog. Hoje seguem os sutis  “Epigramas” em que ele critica o povo alemão e debocha de Hegel. Publicados na Revista Continente, tradução de Moniz Bandeira.
EPIGRAMAS
I
Em sua poltrona, confortavelmente estúpido,
está sentado, mudo, o povo alemão.
Brama a tempestade para cá, para lá,
fica nublado o céu, escuro e ainda mais coberto,
sibilam os raios, serpenteando,
e nada importa ao seu espírito.
Porém, quando o sol desponta,
os ventos sussurram, a tempestade acalma-se,
o povo então se levanta, grita
e escreve um livro: "o barulho passou".
Começa a fantasiar sobre isso,
quer sentir o elemento da coisa,
pensa que não é a maneira certa,
diz que o céu também brincava bastante esquisito,
que deve fazer tudo mais sistematicamente,
esfregar primeiro a cabeça, depois os pés.
Porta-se até como criança,
procura coisas, que apodreceram,
teria, ao mesmo tempo, de compreender a atualidade,
deixar o correrem céu e a terra,
que apenas seguiam seu curso normal,
enquanto a onda estoura tranqüilamente sobre as pedras.

II
EPIGRAMAS HEGELIANOS
1.
Porque descobri o mais alto e encontrei a profundeza, refletindo,
sou rude, como um deus, cubro-me de escuro, como ele.
Por muito tempo investiguei e boiei nas ondas do pensamento,
e então achei a palavra, e não a solto.
2.
Ensino palavras, misturadas em movimento diabolicamente
perturbado,
e então que todos pensem o que quiserem pensar.
Pelo menos, o poeta não é mais limitado pelas barreiras, que o
encadeiam,
inventa as palavras e pensamentos das pessoas amadas,
como se fossem águas bramindo, caindo da rocha,
e o que pensa e reconhece, e o que sente, cria.
Toda pessoa pode sugar o refrescante néctar da sabedoria,
e tudo eu sugo de vós, porque eu, um ninguém, vos disse!
3
Kant e Fichte vão com prazer ao espaço,
procuraram lá um país distante,
porém, eu só tentei entender bem,
o que achei – na rua!
4.
Perdoai a nós, que fazemos epigramas,
quando cantamos fatais melodias.
Temos estudado Hegel,
e ainda não purgamos sua estética.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

"Superioridade Germânica".


A dupla Marx/Engels, vez por outra, resvala em afirmativas (racistas?) sobre uma pretensa  superioridade germânica que nos remete ao tenebroso cabo austríaco. Um bom exemplo da germanofilia de Engels  é este texto, publicado em agosto de 1859, no jornal Das Volk. Já postei aqui outro texto do mesmo autor e com proposta semelhante http://marxrevisitado.blogspot.com/2010/09/alemanha-o-1-pais -comunista.html
“Em todos os domínios científicos, desde há muito que os alemães demonstraram que estão ao nível das restantes nações civilizadas e, na maior parte deles, que são superiores. Apenas uma ciência não contava com qualquer nome alemão entre os seus corifeus: a Economia Política. A razão é evidente. A Economia Política é a análise teórica da sociedade burguesa moderna e pressupõe, portanto, condições burguesas desenvolvidas, condições que, na Alemanha, desde as guerras da Reforma e dos Camponeses e, sobretudo, desde a Guerra dos Trinta Anos, não se puderam estabelecer durante séculos.”

domingo, 13 de novembro de 2011

O aroma espiritual da religião.


O leitor BR sugere a transcrição do trecho da “Critica da Filosofia do Direito de Hegel”(1843) em que o jovem Marx (25 anos) usa a expressão “a religião é o ópio do povo”. A comparação não é propriamente uma originalidade de Marx. Outros filósofos, como Kant, Herder, Moses Hess e Heinrich Heine já haviam estabelecido a relação. Heine, escreve, em 1840: “Bendita seja uma religião que derrama no amargo cálice da humanidade sofredora algumas doces e soporíferas gotas de ópio espiritual...”
Mesmo assim, vale a leitura do jovem Karl:
“É este o fundamento da crítica irreligiosa: o homem faz a religião, a religião não faz o homem. E a religião é de fato a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ou não se encontrou ainda ou voltou a se perder. Mas o Homem não é um ser abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Este Estado e esta sociedade produzem a religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. A religião é a teoria geral deste mundo, o seu resumo enciclopédico, a sua lógica em forma popular, o seu point d'honneur espiritualista, o seu entusiasmo, a sua sanção moral, o seu complemento solene, a sua base geral de consolação e de justificação. É a realização fantástica da essência humana, porque a essência humana não possui verdadeira realidade. Por conseguinte, a luta contra a religião é, indiretamente, a luta contra aquele mundo cujo aroma espiritual é a religião.
A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma. A religião é o ópio do povo.”

sábado, 12 de novembro de 2011

Cristianismo e socialismo. Caminhos da libertação?


Em 1895, ano de seu falecimento e doze anos após a morte de Marx, Engels publica um texto – “Contribuição para a história do cristianismo primitivo” – onde traça comparações entre o cristianismo e o “socialismo operário”. Registra que “três séculos depois do seu nascimento, o cristianismo é reconhecido como a religião do Estado” e que o socialismo, em menos de sessenta anos, conquistara “uma posição tal que o seu triunfo definitivo está absolutamente assegurado”. Engels não menciona a igreja católica, em nome de seu “criador”, praticando os horrores da Inquisição e não poderia imaginar um movimento semelhante de um seguidor do velho Karl, um tal de Joseph Stalin.

“A história do cristianismo primitivo oferece curiosos pontos de contato com o movimento operário moderno. Como este, o cristianismo era, na origem, o movimento dos oprimidos: apareceu primeiro como a religião dos escravos e dos libertos, dos pobres e dos homens privados de direitos, dos povos subjugados ou dispersos por Roma. Os dois, o cristianismo como o socialismo operário, pregam uma libertação próxima da servidão e da miséria; o cristianismo transpõe essa libertação para o Além, numa vida depois da morte, no céu; o socialismo coloca-a no mundo, numa transformação da sociedade. Os dois são perseguidos e encurralados, os seus aderentes são proscritos e submetidos a leis de exceção, uns como inimigos do gênero humano, os outros como inimigos do governo, da religião, da família, da ordem social. E, apesar de todas as perseguições, e mesmo diretamente servidos por elas, um e outro abrem caminho vitoriosamente. Três séculos depois do seu nascimento, o cristianismo é reconhecido como a religião do Estado e do Império romano: em menos de sessenta anos, o socialismo conquistou uma posição tal que o seu triunfo definitivo está absolutamente assegurado.”
www.marxists.org/portugues/marx/1895/mes/cristianismo.htm

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Carta de Marx a Engels.Volume 1 de O Capital OK!


London, 2 da manhã, 16 de Agosto de 1867
Dear Fred,
O último granel (49.) do livro acabado agora mesmo de corrigir. O apêndice — forma-valor — impresso em corpo pequeno compreeende 1¼ granéis.
Prefácio ditto corrigido ontem, devolvido. Portanto, este volume está pronto. Devo meramente a ti que isto tenha sido possível! Sem o teu sacrifício por mim, ter-me-ia sido impossível realizar os enormes trabalhos para os três volumes. I embrace you, full of thanks!
Junto 2 granéis de provas limpas.
As £ 15 recebidas com os melhores agradecimentos.
Salut meu querido e caro amigo!
Teu K. Marx
Só preciso das provas limpas de volta assim que o livro todo tenha saído.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Marx e a Guerra de Secessão.


Em maio de 1869 – quatro anos após o encerramento da Guerra de Secessão (1861-1865) – Marx envia mensagem à União Operária Nacional dos Estados Unidos conclamando seus afiliados a impedir o conflito armado EUA X Inglaterra. Segundo ele, o estado de beligerância seria estimulado pela Rússia, que se aproveitara da Guerra de Secessão, para expandir as suas exportações de matérias primas. Marx faz referência à mensagem enviada a Lincoln em sua posse ( já postada aqui em 1º de agosto de 2011).

“Camaradas operários,
No programa iniciador da nossa Associação afirmamos:
“Não foi a sabedoria das classes dominantes, mas a resistência heróica das classes operárias de Inglaterra à sua loucura criminosa, que salvou o Ocidente da Europa de mergulhar de cabeça numa cruzada infame pela perpetuação e propagação da escravatura do outro lado do Atlântico.
Chegou agora a vossa vez de impedir uma guerra cujo resultado mais claro seria o de fazer recuar, por um período indefinido, o movimento ascendente da classe operária de ambos os lados do Atlântico.
Quase que não precisamos de vos dizer que existem potências europeias ansiosamente determinadas a arrastar os Estados Unidos para uma guerra com a Inglaterra. Uma vista de olhos às estatísticas comerciais mostrará que a exportação russa de matérias-primas — e a Rússia não tem mais nada para exportar — cedia rapidamente ante a concorrência americana, até que a guerra civil subitamente inverteu as posições. Converter as relhas do arado americanas em espadas salvaria precisamente agora da bancarrota iminente aquela potência despótica que os vossos estadistas republicanos, na sua sagacidade, escolheram para seu conselheiro confidencial. Mas, muito para além dos interesses particulares deste ou daquele governo, não é do interesse geral dos nossos opressores comuns transformar a nossa cooperação internacional que cresce rapidamente numa guerra exterminadora?
Em mensagem de congratulações ao Sr. Lincoln pela sua reeleição como presidente, expressamos a nossa convicção de que a guerra civil americana se mostraria de tão grande importância para o avanço da classe operária como a guerra da independência americana se mostrou para o avanço da classe média.  E, em matéria de fato, a conclusão vitoriosa da guerra contra a escravatura abriu uma nova época nos anais da classe operária. Nos próprios Estados Unidos, ganhou vida desde essa data um movimento operário independente, mal visto pelos vossos velhos partidos e pelos seus políticos profissionais. Para frutificar requer anos de paz. Para o esmagar, é requerida uma guerra entre os Estados Unidos e a Inglaterra.”

domingo, 6 de novembro de 2011

Marx by Engels. Parte 4


Em junho de 1877, Engels escreve para o Volks-Kalender – um almanaque que circula em 1878 – uma resumida biografia de seu amigo Karl. Nesta parte 4, Engels comenta as repercussões da queda da Comuna de Paris (1871) e a tomada do poder pela burguesia na evolução do feudalismo para o capitalismo. Engels antecipa, ainda, teses do volume 2 do Capital, ainda em processo de gestação.

“A queda da Comuna de Paris  levou a Internacional a uma situação impossível. Ela era empurrada para o primeiro plano da história europeia, num momento em que, por toda a parte, lhe era cortada a possibilidade de qualquer ação prática bem sucedida. Os acontecimentos que a elevaram a sétima grande potência impediram-na, ao mesmo tempo, de mobilizar as suas forças de combate e de as empregar ativamente, sob pena de derrota inevitável e de retrocesso do movimento operário por decênios. Além disso, de diversos lados, empurraram-se para a frente elementos que procuravam explorar a reputação tão subitamente acrescida da Associação para fins de vaidade pessoal ou de ambição pessoal, sem compreensão da situação real da Internacional ou sem atender a ela. Tinha que ser tomada uma decisão heróica, e foi de novo Marx que a tomou e a levou a cabo no Congresso da Haia. A Internacional,  numa resolução solene, declarou-se livre de qualquer responsabilidade pelas manobras dos bakuninistas, que formavam o centro daqueles elementos sem sentido e sujos; então, em presença da impossibilidade de corresponder, face à reação geral, às exigências crescentes que também lhe eram postas e de manter a sua plena eficácia de outro modo que não fosse por uma série de sacrifícios em que o movimento operário teria tido de morrer de hemorragia — em presença desta situação, a Internacional retirou-se provisoriamente da cena, ao transferir o Conselho Geral para a América. O que se seguiu demonstrou como esta resolução — na altura e desde então frequentemente reprovada — era correta. Por um lado, embotaram-se — e continuaram embotadas — todas as tentativas para fazer golpes [Putsche] inúteis em nome da Internacional; por outro lado, porém, o íntimo intercâmbio contínuo entre os partidos operários socialistas dos diversos países provou que a consciência da igualdade de interesses e da solidariedade do proletariado de todos os países, desperta pela Internacional, sabe manter a sua validade, mesmo sem o vínculo — tornado, de momento, uma peia — de uma associação internacional em forma.
Depois do Congresso da Haia Marx encontrou finalmente de novo tempo e vagar para retomar os seus trabalhos teóricos e espera-se que dentro de não muito mais tempo possa entregar para impressão o segundo volume do Capital.
Das muitas descobertas importantes com que Marx inscreveu o seu nome na história da ciência, podemos aqui pôr em evidência apenas duas.
A primeira é a revolução, por ele completada, em toda a concepção da história mundial. Toda a visão da história até aqui repousava sobre a representação de que era de procurar os fundamentos últimos de todas as mudanças históricas nas ideias, que mudam, dos homens, e que, de todas as mudanças históricas, de novo, as políticas seriam as mais importantes, dominando toda a história. De onde vêm, porém, aos homens as ideias e quais são as causas motoras das mudanças políticas, por isso nunca se tinha perguntado. Só à escola mais moderna de historiógrafos franceses e, em parte, também à dos ingleses se impôs a convicção de que, pelo menos, desde a Idade Média, na história europeia, a força motora foi a luta da burguesia, que se desenvolvia, contra a nobreza feudal pela dominação social e política. Ora, Marx demonstrou que toda a história até aqui é uma história de lutas de classes, que em todas as múltiplas e complexas lutas políticas se trata apenas da dominação social e política de classes da sociedade, da manutenção da dominação pelo lado das classes mais antigas, da conquista da dominação pelo lado das classes recentemente ascendentes. Mas, por que nascem e continuam a existir estas classes? Pelas condições materiais, grosseiramente sensíveis, de cada altura, em que a sociedade, num dado tempo, produz e troca o sustento da sua vida. A dominação feudal da Idade Média repousava sobre a economia auto-suficiente de pequenas comunidades de camponeses, produzindo elas próprias quase tudo o que lhes era necessário, quase sem troca, às quais a nobreza belicosa concedia proteção contra o exterior e coesão nacional ou, pelo menos, política; quando vieram as cidades e, com elas, uma indústria oficinal separada e um intercâmbio comercial — primeiro, no espaço do país, mais tarde: internacional —, a burguesia citadina desenvolveu-se e conquistou para si, em luta com a nobreza, ainda na Idade Média, a sua inserção como estado [Stand] igualmente privilegiado na ordem feudal. Mas, com a descoberta da Terra extra-europeia, a partir de meados do século quinze, esta burguesia adquiriu um campo de comércio muito mais abrangente e, com isso, um novo acicate para a sua indústria; nos ramos mais importantes, a oficina artesanal [Handwerk] foi suplantada pela manufatura já fabril e esta o foi de novo pela grande indústria, tornada possível pelas invenções do século anterior, nomeadamente, a máquina a vapor, [grande indústria essa] que, de novo, retroagiu sobre o comércio, ao suplantar, nos países que tinham ficado para trás, o antigo trabalho manual e ao criar, nos mais desenvolvidos, os presentes novos meios de comunicação: máquinas a vapor, as estradas de ferro, telégrafos elétricos. A burguesia reuniu, assim, cada vez mais, as riquezas sociais e o poder social nas suas mãos, enquanto, durante longo tempo ainda, permaneceu excluída do poder político que se encontrava nas mãos da nobreza e da realeza apoiada pela nobreza. Mas, num certo estágio — na França, desde a grande revolução —, ela conquistou também este [poder político] e, pelo seu lado, tornou-se, então, classe dominante face ao proletariado e aos pequenos camponeses. A partir deste ponto de vista — com conhecimento suficiente da situação econômica da sociedade de cada altura, o qual falta, sem dúvida, totalmente aos nossos historiógrafos de profissão — explicam-se todos os fenômenos históricos da maneira mais simples e explicam-se, do mesmo modo, de maneira sumamente simples as representações e ideias de cada período da história, a partir das condições econômicas de vida e das relações sociais e políticas desse período, por aquelas por sua vez condicionadas. A história foi pela primeira vez colocada sobre as suas bases reais; o fato palpável, mas sobre o qual até aqui se passou totalmente por cima, de que os homens, antes de tudo, têm de comer, beber, abrigar-se e vestir-se, portanto, têm que trabalhar, antes de poderem lutar pela dominação, fazer política, religião, filosofia, etc. — este fato palpável acedeu agora finalmente ao seu direito histórico.
Para a visão socialista, porém, esta nova concepção da história teve o maior significado. Ela demonstrou que toda a história até aqui se move em oposições de classes e lutas de classes, que sempre houve classes dominantes e dominadas, exploradoras e exploradas e que a grande maioria dos homens sempre esteve condenada a trabalho duro e pouca fruição. Porquê isto? Simplesmente porque, em todos os estágios anteriores do desenvolvimento da humanidade, a produção estava ainda tão pouco desenvolvida que o desenvolvimento histórico só podia ocorrer nesta forma oposicional, que o progresso histórico, grosso modo, estava remetido à atividade de uma pequena minoria privilegiada, enquanto a grande massa permanecia condenada a conseguir pelo seu trabalho o magro sustento da vida para si e, além disso ainda, para os privilegiados que se tornavam sempre mais ricos. Mas, a mesma investigação da história que, desta maneira, explica natural e racionalmente a dominação das classes até aqui — de outro modo só explicável a partir da maldade dos homens — leva também à compreensão [Einsicht] de que, em consequência das forças de produção [Produktionskräfte], tão colossalmente aumentadas, do presente, se desvaneceu também o último pretexto para uma separação dos homens em dominantes e dominados, exploradores e explorados, pelo menos, nos países que mais progrediram; de que a grande burguesia dominante [já] cumpriu a sua vocação histórica, de que não está mais à altura da direção [Leitung] da sociedade e se tornou mesmo um obstáculo para o desenvolvimento da produção, como as crises comerciais e, nomeadamente, o último grande craque, e a situação deprimida da indústria em todos os países demonstram; de que a direção histórica passou para o proletariado, uma classe que, por toda a sua situação na sociedade, só se pode libertar se, em geral, eliminar toda a dominação de classe, toda a servidão e toda a exploração; e de que as forças produtivas [Produktivkräfte] sociais que extravasam das mãos da burguesia apenas anseiam pela tomada de posse [delas] pelo proletariado associado para estabelecerem um estado [de coisas] que possibilite a cada membro da sociedade a participação, não apenas na produção, mas também na repartição e administração das riquezas sociais e que aumente de tal modo as forças produtivas sociais e os seus rendimentos [Erträge], pela exploração planificada de toda a produção, que a satisfação de todas as necessidades racionais de cada um permaneça assegurada numa medida sempre crescente.
A segunda descoberta importante de Marx é o esclarecimento [Aufklärung] definitivo da relação de capital e trabalho, por outras palavras, a demonstração de como, na sociedade atual, no modo de produção capitalista existente, se completa a exploração [Ausbeutung] do operário pelo capitalista. Desde que a economia política estabeleceu o princípio de que o trabalho é a fonte de toda a riqueza e de todo o valor, tornara-se inevitável a pergunta: como é, então, conciliável com isso que o operário assalariado não receba toda a soma de valor criada pelo seu trabalho, mas tenha de entregar uma parte dela ao capitalista? Tanto os economistas burgueses como os socialistas se esforçaram por dar uma resposta cientificamente sólida à pergunta, mas em vão, até que finalmente Marx avançou com a solução. Esta solução é a seguinte: o modo de produção capitalista hodierno tem por pressuposto a existência de duas classes da sociedade; de um lado, os capitalistas, que se encontram na posse dos meios de produção e dos meios de vida e, do outro lado, os proletários que, excluídos dessa posse, apenas têm para vender uma única mercadoria: a sua força de trabalho; e que, portanto, têm que vender esta sua força de trabalho para ficarem de posse de meios de vida. O valor de uma mercadoria é, porém, determinado pela quantidade de trabalho socialmente necessário incorporado na sua produção, portanto, também na sua reprodução; o valor da força de trabalho de um homem médio durante um dia, mês, ano, [é determinado], portanto, pela quantidade de trabalho que está incorporada na quantidade de meios de vida necessária para a manutenção desta força de trabalho durante um dia, mês, ano. Se admitirmos que os meios de vida do operário, para um dia, requerem seis horas de trabalho para a sua produção ou, o que é o mesmo, que o trabalho neles contido representa uma quantidade de trabalho de seis horas — então o valor da força de trabalho por um dia exprime-se numa soma de dinheiro que igualmente incorpora em si seis horas de trabalho. Se admitirmos, além disso, que o capitalista que emprega o nosso operário lhe paga essa soma, [paga-lhe], portanto, o valor completo da sua força de trabalho. Se, agora, o operário trabalha seis horas do dia para o capitalista, ele reembolsou de novo completamente esse seu desembolso — seis horas de trabalho por seis horas de trabalho. Com isto, não ficava por certo nada para o capitalista e este concebe por isso a coisa de uma maneira totalmente diferente: Eu comprei, diz ele, a força de trabalho deste operário, não por seis horas, mas por um dia todo e, em conformidade, faz o operário trabalhar, segundo as circunstâncias, 8, 10, 12, 14 e mais horas, de tal modo que o produto da sétima, oitava e seguintes horas seja um produto de trabalho não-pago e, que antes do mais, entra para o bolso do capitalista. Deste modo, o operário ao serviço do capitalista reproduz, não apenas o valor da sua força de trabalho, pelo qual ele é pago, mas produz também, além e acima disso, uma mais-valia que, apropriada antes do mais pelo capitalista, no curso ulterior, se reparte pela classe toda dos capitalistas, segundo leis econômicas determinadas, e forma o fundo básico [Grundstock] de onde saem renda fundiária, lucro, acumulação de capital, em suma, todas as riquezas consumidas ou acumuladas pelas classes não-trabalhadoras. Com isto era também demonstrado que a aquisição de riqueza pelos capitalistas de hoje consiste tanto na apropriação de trabalho alheio não-pago como a do dono de escravos ou a do senhor feudal que explorava o trabalho servo e que todas estas formas da exploração só se diferenciam pela maneira diversa em que o trabalho não-pago é apropriado. Com isto, porém, retirava-se também de debaixo dos pés a todos os ditos hipócritas das classes com posses a última base, segundo a qual na ordem social atual reinam direito e justiça, igualdade de direitos e de deveres e harmonia geral de interesses; e desvendava-se a sociedade burguesa de hoje, não menos do que as suas predecessoras, como uma grandiosa instituição para exploração da imensa maioria do povo por uma minoria mínima e que se torna cada vez mais pequena.
O socialismo científico, moderno, fundamenta-se nestes dois fatos importantes. No segundo volume do Capital, estas e outras não muito menos importantes descobertas científicas [referentes] ao sistema capitalista de sociedade serão mais desenvolvidas e, com elas, também os aspectos da economia política ainda não aflorados no primeiro volume serão submetidos a uma evolução/revolução. Assim possa Marx em breve poder entregá-los para impressão. “
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