quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Epigramas Marxianos. Parte 2.


O Marx poeta – versos pra Jenny, pra mãe e pro pai – já se fez presente aqui no blog. Hoje seguem, mais alguns sutis  “Epigramas” em que ele critica Goethe e o povo alemão. Publicados na Revista Continente, tradução de Moniz Bandeira.

III

Os alemães uma vez partiram,
até alcançaram a vitória sobre os povos.
E, quando isso aconteceu,
podia-se ler em todos os cantos:
“Aconteceram coisas estranhas,
ir-se-á logo em três pernas.”
Todos então enormemente se afligiram,
começaram a ter vergonha deles próprios,
“É que coisas demais aconteceram de uma vez,
tem-se que andar bem calmo outra vez
e o resto poderia ser encadernado em livros.
Fregueses decerto seriam facilmente achados.”

IV

Tirai deles as estrelas por vós próprios,
logo palidamente ardem, depois vivamente demais;
o sol logo queima os olhos,
e logo está por demais longe.

V

Assim criticaram Schiller,
que não pode deleitar bastante humanamente,
que também leva as coisas alto demais,
e não trabalha como devido nos dias úteis.
Diz-se que decerto brinca com relâmpago e trovão,
mas a ele falta completamente a graça das ruas.

VI

Porém, Goethe é excessivamente belo,
prefere ver Vênus a ver farrapos,
e, apesar de que comece em nível baixo
tem-se obrigatoriamente que se elevar à altura;
dá às coisas uma forma sublime,
e por isso falta toda a consistência da alma.
Pois Schiller fora melhor,
o público podia ler as idéia em letras
e dizer que foram impressas,
mesmo que não encontrasse a profundeza.

VII

NUMA CERTA CARECA

Pallas Athene, sublime no impulso da vitória,
saltou da testa de Zeus, cheia de pensamentos,
como um raio nascido do relâmpago,
e faísca, da distante sede das estrelas.
E ela, penetrada de desejo,
pulou em sua cabeça,
E se Zeus, não venceu na profundeza,
sabe com certeza, que por cima dele se encontra Pallas Athene.

NADA DISSO!
(Aos falsos anos de peregrinação)

1

Schiller, pensa ele, fora razoável,
se só tivesse lido mais na bíblia;
seu Glocke seria até um excelente poema,
se ainda só contivesse a história da ressurreição,
e de como Cristo entrou na cidade
montado num burrinho.
Também deveria ainda acrescentar ao Wallenstein
a vitória de David e as marchas dos Filistinos.

2

Goethe é um horror para mulheres,
pois não combina direito com as velhas;
ele só agarrou a natureza
e não a poliu com a moral.
Deveria ter estudado o catecismo de Lutero,
e daí então fabricar versos.
Embora tenha às vezes percebido o belo
esqueceu de dizer: “Deus o fez.”
3
Estranho o interesse
de estimar tanto Goethe.
Ignóbil foi mesmo sua grande aspiração.
Já deu ele sentido aos sermões?
Apresentam-se nele firmes núcleos,
com os quais o camponês e o sapateiro podem aprender,
mas Goethe não tem o cunho divino dos gênios,
nem resolveu um problema de aritmética.

4

Ouvi agora como tudo do Fausto se evadiu
e o poeta erroneamente o cantou.
Fausto tinha demais dividas,
foi desmazelado, dedicava-se ao jogo de azar,
e quando não viu qualquer ajuda dos céus,
quis vergonhosamente perecer,
e por isso ficou com medo
do inferno e da tristeza do desespero.
Então pensou sobre a vida e a morte,
A sabedoria, a ação e a perdição,
e até falou muito
no sentido obscuro e místico.
Se o poeta não o podia ornar,
não podia contar como dividas levam ao diabo,
e como aquele, que perde o crédito,
vende facilmente sua salvação!

5

Fausto ousa pensar, no dia de Páscoa.
Assim, não necessita ele se dar como dádiva ao diabo!
Quem ousa pensar em dias como esse
é pelo próprio inferno recusado.

6

Também a probabilidade foi golpeada.
Poderia a policia senão o tolerar?
Não o teria posto na prisão?
Ele viajou e não paga as dividas!

7

Só o vício pode elevar Fausto,
porque ele só quer viver para si mesmo.
Ousou duvidar de Deus e do mundo
e esqueceu que Moisés bem o segura.
A estúpida Grete tinha de amá-lo,
ao invés de apelar diretamente para a sua consciência,
quando ele caiu à mercê do diabo
e o dia do Juízo logo chegasse.

8

Ainda poderia ser usada a “bonita alma”,
mas ainda tem de ser apoiada com óculos e barrete de freira.
“O que deus faz, faz bem!”
Assim começa o verdadeiro poeta.


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