quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Carta de Jenny ao jovem namoradinho Marx



Trier, 10 de agosto de 1841

Meu pequeno negro selvagem,

Estou tão feliz por você estar feliz e por saber que minha carta te alegra, que está torcendo por mim, que está morando em quartos de papel de parede, que bebeu champanhe em Colônia, que existem sociedades de Hegel aí, que você vem sonhando e que, resumindo, você é meu, meu amor, meu querido negro selvagem. Mas apesar de tudo isso, de uma coisa eu senti falta: você poderia ter elogiado um pouco o meu grego e dedicado um pequeno artigo louvando a minha erudição. Mas vocês são assim mesmo, vocês, cavalheiros hegelianos, não reconhecem coisa alguma, é o cúmulo da superioridade, tudo tem de ser exatamente como vocês pensam, e por isso mesmo eu devo ser modesta e descansar sobre meus próprios louros.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Fetichismo: uma espiritualização do corpo-mercadoria.

Isleide Arruda Fontenelle, professora da FGV, faz uma profunda análise do conceito de “fetichismo da mercadoria” no artigo “O trabalho da ilusão: produção, consumo e subjetividade na sociedade contemporânea”. Selecionei um pequeno trecho onde a autora conclui que, para Marx, “o fetichismo da mercadoria indicava uma espiritualização do corpo-mercadoria”.

“O termo “fetichismo da mercadoria” já é amplamente consagrado na teoria sociológica marxista, sendo tomado especialmente como ponto de partida para sua crítica à Economia Política do século XIX, no período de consolidação do capitalismo industrial. A construção do conceito deu-se, portanto, a partir de uma interpretação da realidade da época, enfocando aspectos objetivos e subjetivos ligados à nova forma social estabelecida pelo capitalismo vigente. Portanto, a uma organização social da produção, poderíamos dizer que Marx respondeu com uma “organização social da ilusão”.
Dos muitos aspectos trabalhados no “fetichismo da mercadoria”, um em especial ainda se sustenta (e, não por acaso, precisa ser retomado em uma discussão sobre o novo estatuto do fetichismo na sociedade de consumo contemporânea): de que o valor da mercadoria não está no próprio corpo da mercadoria. Para Marx, ele é produto de uma organização social: da que produz a mercadoria (força-trabalho/valor- trabalho/mais-valia) e da que consome a mercadoria, que mediante valores culturais da época, também passa a valorizar a mercadoria (valor-desejo/valor-de-gozo). Portanto, em Marx, o fetichismo da mercadoria indicava uma espiritualização do corpo-mercadoria, embora a mercadoria ainda fosse vendida como aquilo que era: algodão, café etc.


terça-feira, 27 de setembro de 2016

Marx e Ricardo


Conceituados marxólogos, como Denis Collin, Moishe Postone e mesmo o guru de todos nós , Hobsbawn, afirmam que a teoria do fetichismo da mercadoria seria a descoberta que levou Marx a ultrapassar os postulados da Economia Clássica. Leitor atento de Ricardo, Marx foi muito além ao detectar no fetiche da mercadoria a explicação para as relações de troca e as formas de distribuição. Collin considera a Seção 4 um dos capítulos  filosoficamente mais importantes de O Capital.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Marx X Adam Smith X Keynes

A mais eficaz medida de interesse por um tema é o numero de “resultados” em uma busca no Google. Às 20 horas de 26 de setembro de 2016, eram os seguintes os resultados para Marx – 78,2 milhões; “Adam Smith” – 8,7 milhões e Keynes – 36,2 milhões.  O velho Karl continua com a bola cheia!!!!!!!!

sábado, 24 de setembro de 2016

Os riscos da profecia na política....

Em 1886 – 3 anos após a morte de Marx -, Engels escreve o prefácio da primeira edição inglesa de O Capital e, no último parágrafo, reafirma a tese de Marx de que a Inglaterra reunia todas as condições para realizar, pacificamente, a revolução social.
“Certamente, em tal altura, terá de se ouvir a voz de um homem cuja teoria toda é o resultado do estudo, durante uma vida inteira, da história económica e da situação da Inglaterra, e a quem esse estudo levou à conclusão de que, pelo menos na Europa, a Inglaterra é o único país onde a inevitável revolução social pode ser efetuada inteiramente por meios pacíficos e legais. Certamente que ele nunca se esqueceu de acrescentar que dificilmente esperava que as classes dominantes Inglesas se submetessem a esta revolução pacífica e legal sem uma “pro-slavery rebellion”.
5 de Novembro de 1886
Frederick Engels


quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Althusser e o fetichismo.

O caráter fetichista da mercadoria é um dos “divisores de água” das diversas correntes marxistas. Althusser, por exemplo, sugeria “pular” a primeira secção do livro I do Capital, que considerava muito “metafísico” e marcado pelo hegelianismo. Se lhe fosse dada a oportunidade, talvez Althusser estrangulasse o parágrafo 4 da primeira secção – “O caráter fetichista da mercadoria e seu segredo” – como fez com sua mulher Hélène Rytmann, em 16 de novembro de 1980.......