quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Fetichismo: uma espiritualização do corpo-mercadoria.

Isleide Arruda Fontenelle, professora da FGV, faz uma profunda análise do conceito de “fetichismo da mercadoria” no artigo “O trabalho da ilusão: produção, consumo e subjetividade na sociedade contemporânea”. Selecionei um pequeno trecho onde a autora conclui que, para Marx, “o fetichismo da mercadoria indicava uma espiritualização do corpo-mercadoria”.

“O termo “fetichismo da mercadoria” já é amplamente consagrado na teoria sociológica marxista, sendo tomado especialmente como ponto de partida para sua crítica à Economia Política do século XIX, no período de consolidação do capitalismo industrial. A construção do conceito deu-se, portanto, a partir de uma interpretação da realidade da época, enfocando aspectos objetivos e subjetivos ligados à nova forma social estabelecida pelo capitalismo vigente. Portanto, a uma organização social da produção, poderíamos dizer que Marx respondeu com uma “organização social da ilusão”.
Dos muitos aspectos trabalhados no “fetichismo da mercadoria”, um em especial ainda se sustenta (e, não por acaso, precisa ser retomado em uma discussão sobre o novo estatuto do fetichismo na sociedade de consumo contemporânea): de que o valor da mercadoria não está no próprio corpo da mercadoria. Para Marx, ele é produto de uma organização social: da que produz a mercadoria (força-trabalho/valor- trabalho/mais-valia) e da que consome a mercadoria, que mediante valores culturais da época, também passa a valorizar a mercadoria (valor-desejo/valor-de-gozo). Portanto, em Marx, o fetichismo da mercadoria indicava uma espiritualização do corpo-mercadoria, embora a mercadoria ainda fosse vendida como aquilo que era: algodão, café etc.


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