Isleide Arruda Fontenelle, professora da FGV, faz uma
profunda análise do conceito de “fetichismo da mercadoria” no artigo “O trabalho da
ilusão: produção, consumo e subjetividade na sociedade contemporânea”. Selecionei
um pequeno trecho onde a autora conclui que, para Marx, “o fetichismo da mercadoria
indicava uma espiritualização do corpo-mercadoria”.
“O termo ““fetichismo da mercadoria”” já é amplamente consagrado na teoria sociológica
marxista, sendo tomado especialmente como ponto de partida para sua crítica à
Economia Política do século XIX, no período de consolidação do capitalismo
industrial. A construção do conceito deu-se, portanto, a partir de uma
interpretação da realidade da época, enfocando aspectos objetivos e subjetivos
ligados à nova forma social estabelecida pelo capitalismo vigente. Portanto, a
uma organização social da produção, poderíamos dizer que Marx respondeu com uma
““organização
social da ilusão””.
Dos muitos aspectos trabalhados no ““fetichismo da mercadoria””, um em especial ainda se
sustenta (e, não por acaso, precisa ser retomado em uma discussão sobre o novo
estatuto do fetichismo na sociedade de consumo contemporânea): de que o valor
da mercadoria não está no próprio corpo da mercadoria. Para Marx, ele é produto
de uma organização social: da que produz a mercadoria (força-trabalho/valor-
trabalho/mais-valia) e da que consome a mercadoria, que mediante valores
culturais da época, também passa a valorizar a mercadoria (valor-desejo/valor-de-gozo).
Portanto, em Marx, o fetichismo da mercadoria indicava uma espiritualização do
corpo-mercadoria, embora a mercadoria ainda fosse vendida como aquilo que era:
algodão, café etc.
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