quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Marx, Victor Hugo e Proudhon. Visões de Louis Bonaparte.

No prefácio da segunda edição (1869) do “18 Brumário”, Marx faz algumas críticas a duas obras de mesmo tema e publicadas também em 1852 e encerra com a concretização da sua profecia.
“Entre as obras que tratavam na mesma época do mesmo tema, apenas duas são dignas de menção: Napoléon le petit, de Victor Hugo e Coup d’état, de Proudhoun.
Victor Hugo limita-se a amargas e engenhosas invectivas contra o editor responsável do golpe de Estado. Quanto ao próprio acontecimento, parece, na sua obra, um raio que caísse de um céu sereno. Não vê nele mais do que um ato de força de um só indivíduo. Não se apercebe que aquilo que faz é engrandecer este indivíduo em vez de o diminuir, ao atribuir-lhe um poder pessoal de iniciativa sem paralelo na história universal.
Pela sua parte, Proudhon tenta apresentar o golpe de estado como resultado de um desenvolvimento histórico anterior. Mas, nas suas mãos, a construção histórica do golpe de Estado transforma-se numa apologia histórica do herói do golpe de Estado. Cai com isso no erro dos nossos pretensos historiadores objetivos. Eu, pelo contrário, demonstro como a luta de classes criou na França as circunstâncias e as condições que permitiram a um personagem medíocre e grotesco representar o papel de herói.
Uma reelaboração da presente obra tê-la-ia privado do seu colorido particular. Por isso, limitei-me simplesmente a corrigir as gralhas e a riscar as alusões que hoje já não seriam entendidas.
A frase final da minha obra: "Mas quando o manto imperial cair finalmente sobre os ombros de Louis Bonaparte, a estátua de bronze de Napoleão tombará do alto da Coluna de Vendôme”, já se realizou.”


quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Como mudar o mundo.


No prefácio do livro de Eric Hobsbawn com o titulo acima – e subtítulo “Marx e o marxismo, 1840-2011” – cabe um destaque muito especial para o último parágrafo:
“Não podemos prever as soluções dos problemas com que se defronta o mundo no século XXI, mas, quem quiser solucioná-los, deverá fazer as perguntas de Marx, mesmo que não queira aceitar as respostas dadas por seus vários discípulos”.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A Inglaterra "Única".


Em 28 de março de  1870, Marx publica, na revista Die Neue Zeit, artigo sobre a “preparação” da Inglaterra para a “aniquilação” do capitalismo. Devem ter faltado aos ingleses “espírito de generalização e  paixão revolucionária”.

“Apesar da iniciativa revolucionária partir da França, somente a Inglaterra pode servir de alavanca para uma revolução econômica séria. É o único país onde já não há mais nenhum camponês e onde a propriedade fundiária está concentrada em poucas mãos. É o único país onde a forma capitalista — ou seja, o trabalho combinado em grande escala sob empresários capitalistas — se apoderou de quase toda a produção. É o único país em que a grande maioria da população consiste em trabalhadores assalariados (wages labourers). É o único país onde a luta de classes e a organização da classe operária pelas Trade Unions alcançou um certo grau de maturidade e de universalidade. Graças à sua dominação sobre o mercado mundial, a Inglaterra é o único país em que toda a revolução nas relações econômicas tem imediatamente de se repercutir sobre o mundo inteiro. Se o sistema de senhores da terra [Landlordismus] e o capitalismo têm neste país a sua sede clássica, também, por outro lado, as condições materiais da sua aniquilação estão ao máximo amadurecidas. O Conselho Geral está agora na feliz situação de ter diretamente a mão nesta grande alavanca da revolução proletária; que loucura, sim, quase que se podia dizer: que crime não seria deixá-la apenas em mãos inglesas!
Os ingleses dispõem de todos os pressupostos materiais necessários para uma revolução social. Aquilo que lhes falta é o espírito de generalização e a paixão revolucionária.”