quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Atualidade de Marx, em 1983.


Em 14 de março de 1983, para comemorar - com pontualidade germânica – os 100 anos da morte de Marx, Ernest Mandel escreve artigo sobre “A Atualidade do Marxismo” onde registra a capacidade do velho Karl de compreender “a dinâmica grandiosa e aterradora das revoluções tecnológicas inerentes ao modo de produção capitalista”. Embora tendo sido enviado para um campo de concentração, já no final da guerra, Mandel faleceu em julho de 1995, tendo, portanto, testemunhado a simbólica queda do muro. A frase final do trecho selecionado parece profeticamente elaborada para 2009 ou 2012 : “A grande depressão que atingiu o capitalismo internacional é uma clara confirmação da justeza da análise científica de Karl Marx. “

“O primeiro aspecto – o da capacidade de análise e de previsão científico – é particularmente positivo. Se compararmos o mundo de 1883, ao de 1983, se nos questionarmos se as transformações principais que se produziram são aquelas previstas por Marx e se elas resultam da natureza da sociedade burguesa e das contradições que a rasgam, tais que ele nos ensinou a conhecer, a resposta só pode ser "sim", sem nenhum "mas" importante.
Marx compreendeu, melhor que qualquer sábio ou moralista do seu tempo, a dinâmica grandiosa e aterradora das revoluções tecnológicas inerentes ao modo de produção capitalista, em função mesmo da propriedade privada, da economia de mercado, da concorrência e da sede insaciável que resulta da extorsão crescente da mais-valia do trabalho vivo afim de poder acumular sempre mais capital. Dinâmica grandiosa, porque ela contém a promessa de libertar o Trabalho de todo o esforço produtivo cansativo, não criador e alienante, graças à automatização. Dinâmica aterradora, por que ela conduz à transformação periódica das forças produtivas em forças destrutivas que sapam o progresso da humanidade, destroem o ambiente e arriscam a destruição de todo o planeta.
Ele compreendeu que da concorrência brotaria o monopólio, por sua vez submetido a uma concorrência cada vez mais feroz. Os pequenos capitais seriam absorvidos sem piedade ou esmagados pelos grandes. A sociedade burguesa evoluiria em direção de uma estrutura de forma piramidal, fundada sobre uma imensa maioria de salariados, mas se concentrando em cada país em algumas dezenas de firmas e grupos financeiros gigantescos e, à escala internacional, em algumas centenas de multinacionais que ditariam suas leis a todos os Estados burgueses e esmagariam trabalhadores e povos numa máquina infernal que subordina tudo ao imperativo do lucro.
Ele compreendeu que esta mesma máquina iria se avariar periodicamente, que o regime capitalista produziria, em intervalos regulares, crises econômicas e guerras, cujo custo humanitário aumentaria a longo termo ao ponto de se tornar insuportável e mesmo mortal. Hoje, esses apóstolos que pretenderam, durante os anos 50 e 60, que o Capital tinha finalmente exorcizado seus demônios, que ele garantiria o pleno emprego, o crescimento, o aumento do nível de vida e a paz eterna. A grande depressão que atingiu o capitalismo internacional é uma clara confirmação da justeza da análise científica de Karl Marx. “

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Amor sexual em Marx.


Marshall Berman abre um bom espaço em seu “Aventuras no marxismo” – tradução Sonia Moreira, Companhia das Letras – para o sexo na vida de Marx. Discorre, inclusive, sobre estimulante ambiente sexual do Quartier Latin quando o casal Marx/Jenny para lá se transfere, no início do casamento.
Selecionei um trecho onde Marshall fala do filho de Marx com a criada recebida como “presente de casamento” e a adoção por Engels.

“ Uma das principais forças propulsoras da síntese de Marx parece ter sido o amor sexual. Certos biógrafos já observaram, bem como até mesmo alguns policiais, que o casamento de Karl e Jenny, ainda que envolto em muita turbulência e sofrimento, foi um casamento apaixonado e feliz que durou quarenta anos e só terminou com a morte.
De fato, Marx foi um dos raros grandes pensadores de toda  a história que tiveram um casamento e uma vida familiar felizes. Alguns biógrafos se esforçaram bastante para aumentar as dimensões de todas as rachaduras que puderam encontrar na vida dele: em especial, o caso passageiro de Marx com sua governanta na década de 1850 e seu filho ilegítimo, “Freddy”, adotado por Engels, que viria tornar-se ativista do sindicato britânico dos trabalhadores. Mas mesmo esses biógrafos costumam admitir que não dispõem de muito material com que trabalhar neste sentido.
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Seigel mostra como o amor sexual desempenhou um papel vital na formação da identidade de Marx, ajudando a livrá-lo do isolamento psíquico e centrá-lo no mundo real. Marx pensou e escreveu muito sobre o amor sexual em meados da década de 1840,pouco depois de seu casamento, quando tentava perseguir o ideal de levar uma vida em meio às outras pessoas, como queria seu pai.”
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Podemos perceber um leve vulto num outro comentário sobre o amor, feito na mesma época: o amor, diz Marx, é “a primeira coisa que ensina o homem a acreditar no mundo objetivo fora dele mesmo”.