domingo, 23 de abril de 2017

Além dos clássicos ingleses.


Tenho realizado diversos posts para evidenciar o avanço de Marx em relação aos economistas clássicos ingleses, que ficaram na “produção”, enquanto o alemão foi até o consumo. Vale lembrar que o capítulo inicial do livro I do Capital é “A mercadoria”. E sua seção 4 – “O fetichismo da mercadoria e seu segredo “ - antecipa a sociedade de consumo.  Selecionei um trecho do livro “Marx”, do filósofo francês Pierre Fougeyrollas ( 1922 – 2008 ) – editora Ática,  1989, tradução de Lólio Lourenço de Oliveira – onde o professor da Universidade Paris VII registra que para Marx “o capitalismo reside na generalização completa e na vitória total da economia mercantil”.

“ Herdeiro dos mestres da economia política inglesa (Adam Smith e David Ricardo), Marx supera-os ao estabelecer que o trabalho assalariado e o capital, o salario e o lucro não passam de categorias históricas que pertencem ao modo de produção capitalista, cujo nascimento remonta ao século XV, e a respeito do qual podemos prever que, como os modos de produção anteriores, chegará um dia a seu fim, devido ao antagonismo entre o trabalho e o capital. Em suma, Marx imergiu no devir histórico aquilo que a economia politica clássica tratava como uma espécie de natureza dotada de leis imutáveis.” .................................................. “Marx mostra que o capitalismo reside na generalização completa e na vitória total da economia mercantil. Com isso, todos os produtos do trabalho humano tornam-se mercadorias que se vendem e se compram.”


quarta-feira, 19 de abril de 2017

Encontre o seu lugar.


A globalização no Manifesto Comunista.

Em janeiro de 1848, Marx e Engels liberam o “Manifesto de Partido Comunista” que dedica amplo espaço ao papel transformador da burguesia. Cabe um destaque especial à antecipação da globalização:

“A burguesia, pela sua exploração do mercado mundial, configurou de um modo cosmopolita a produção e o consumo de todos os países. Para grande pesar dos reacionários, tirou a indústria o solo nacional onde firmava os pés. As antiquíssimas indústrias nacionais foram aniquiladas, e são ainda diariamente aniquiladas. São desalojadas por novas indústrias cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas, por indústrias que já não laboram matérias-primas nativas, mas matérias-primas oriundas das zonas mais afastadas, e cujos fabricos são consumidos não só no próprio país como simultaneamente em todas as partes do mundo. Para o lugar das velhas necessidades, satisfeitas por artigos do país, entram [necessidades] novas que exigem para a sua satisfação os produtos dos países e dos climas mais longínquos. Para o lugar da velha autossuficiência e do velho isolamento locais e nacionais, entram um intercâmbio omnilateral, uma dependência das nações umas das outras. E tal como na produção material, assim também na produção espiritual. Os artigos espirituais das nações singulares tornam-se bem comum. A unilateralidade e estreiteza nacionais tornam-se cada vez mais impossíveis, e das muitas literaturas nacionais e locais forma-se uma literatura mundial.”

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Fetichismo da mercadoria - uma recaída no hegelianismo ?

Em todos os cursinhos e palestras do Partidão nos anos 60, nunca ouvi qualquer referência à Seção 4 do primeiro capítulo do livro I de O Capital. A leitura do artigo do filósofo alemão Anselm Jappe ( Bonn, 1962 ) “Alienação, reificação e fetichismo da mercadoria”  - publicação Lumiar vol. 1, nº 2 , 1º semestre 2014, tradução Silvio Rosa Filho, revisão Jacira Freitas - ajuda a entender os bloqueios dos marxistas. A tese equivocada de que o hegelianismo seria uma postura da juventude, ainda permanece presente na maioria dos leitores de Marx. Seguem 2 trechos do artigo:

“Mesmo em autores pertencentes ao marxismo crítico, tal conceito era bem raro antes dos anos 1970. Por exemplo, nas mil páginas de A teoria da alienação de Marx de Istvan Meszaros, publicado em 1970, o “fetichismo” praticamente nunca aparece. O sub capítulo sobre “O fetichismo da mercadoria e seu segredo”, que encerra o primeiro capítulo d’O Capital, era então considerado como uma digressão tão incompreensível quanto inútil, uma recaída no hegelianismo, um capricho metafísico. Sempre é preciso lembrar que, em 1969, Louis Althusser queria proibir os leitores d’O Capital de começar pelo primeiro capítulo – no qual se inscreve a passagem sobre o fetichismo da mercadoria –, julgando-o difícil demais. O argumento de Althusser consistia em afirmar que os leitores, para melhor compreender O Capital, deveriam perceber o conflito visível entre trabalho vivo e trabalho morto como ponto de partida e “pivô” da crítica marxiana, e considerar a análise da forma-valor, com a qual se abre O Capital, somente como uma precisão suplementar, a ser aprofundada num segundo momento.”

"Se atualmente as referências ao termo “fetichismo” se tornaram mais frequentes, todavia elas não são acompanhadas de aprofundamento. Assim como o termo “sociedade do espetáculo”, o “fetichismo da mercadoria” parece resumir a baixo custo as características de um capitalismo pós- moderno que supostamente voltou-se essencialmente para o consumo, a publicidade e a manipulação dos desejos. Certo uso popular da palavra, influenciado principalmente por seu uso em psicanálise, nela enxerga somente um amor excessivo pelas mercadorias e a adesão aos valores que elas representam (velocidade, sucesso, beleza etc.).

segunda-feira, 10 de abril de 2017

No tempo do liceu...

De 1830 a 1835, Marx frequenta o liceu Friedrich-Wilhelm, em Trier. Sua dissertação de final de curso – “Meditação de um adolescente diante da escolha de uma profissão” – contém duas frases que antecipam sua vida futura:
“Nem sempre podemos abraçar a profissão para a qual acreditamos estar preparados; nossa posição na sociedade está em certa medida definida antes que tenhamos condições de determiná-la.”

“A natureza do homem é de tal maneira que ele não pode atingir a própria perfeição senão agindo para o bem e a perfeição da humanidade.”