domingo, 24 de novembro de 2013

Aliança com o diabo.


1º de dezembro de 1852. Marx faz, no New York Daily Tribune, comentário que poderia servir de advertência para alianças políticas tipo Lula/Maluf, na eleição de Fernando Haddad.
“ Na política, a pessoa pode se aliar até com o próprio diabo – só precisa garantir que é ela que está enganando o diabo, em vez de estar sendo enganada por ele.”

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O Corpo e a Alma das Mercadorias.


“O Fetichismo demonstrou que as mercadorias possuíam corpo e alma. Assim, a partir dos anos 60, essa alma passou a se chamar “MARCA” e surgiu uma disciplina chamada MARKETING que se dedicou a cuidar da “alma’ das mercadorias.”
Em 24 de outubro pp, participei do Painel 5  - Marxismo, Filosofia e Ideologia – do II Congresso Internacional Karl Marx, realizado pelo Instituto de História Contemporânea, da Universidade Nova de Lisboa.
O tema da minha intervenção – Karl Marx, precursor do marketing – teve, surpreendentemente, uma boa repercussão, mesmo entre os marxistas mais “clássicos”. Segue o roteiro, ao qual foram “agregados” diversos “cacos”, durante a apresentação.


“Vamos iniciar Imaginando duas bolsas femininas exatamente iguais – mesmas matérias primas, mesmo design, mesmo acabamento, mesmo fabricante. Apenas uma pequena, mas não imperceptível, diferença: uma delas tem a etiqueta Dolce & Gabbana e  custa 10 vezes mais......
A mesma situação poderia ser reproduzida com milhares de mercadorias encontradas em cada loja de cada esquina ou shopping.
Em 1867, ano de lançamento da 1ª edição de O Capital, Marx antecipou a explicação da diferença ao identificar o  “Fetichismo das Mercadorias”. Ou como enfatiza Isaak Rabin, Marx vislumbrou “relações humanas por trás das relações entre as coisas, revelando a ilusão da consciência humana que se origina da economia mercantil”.
Sempre a frente do seu tempo, Marx anteviu  as dificuldades de compreensão, na época, das reflexões do Capitulo 1 – A Mercadoria - e fez o registro no prefácio da 1ª edição : “Todo o começo é difícil — isto vale em qualquer ciência. A compreensão do primeiro capítulo, nomeadamente da secção que contém a análise da mercadoria, constituirá, portanto, a maior dificuldade. Tornei o mais possível popular aquilo que mais de perto diz respeito à análise da substância do valor e da magnitude do valor.”
É provável que seguidores de “alguns marxismos” considerem um delírio a afirmativa  que  a Seção 4 – “O Fetichismo da Mercadoria e seu Segredo” – do Capítulo I, do único volume de O Capital, escrito, revisado e prefaciado em várias edições por Marx, seja o precursor do conceito de marketing.
Para algumas correntes marxistas a “Parte I Mercadoria e Dinheiro” deve ser ignorada. No prefácio da edição francesa do Capital, Althusser sugere que o leitor comece  livro pela Parte II – “ A transformação de dinheiro em capital” – e deixe a leitura da primeira somente após a conclusão do resto do livro. E recomenda cautela, já que , na sua opinião “estão imiscuídas aí certas confusões hegelianas”.
Acredito, até, que Althusser tenha razão – veremos na sequência a transcrição de alguns trechos da Seção 4, que enfatizam o caráter místico/religioso na relação dos consumidores com as mercadorias – o que reforçaria a tese de uma reaproximação de Marx, na idade madura, com o Hegel de sua juventude.
Conceituados marxólogos, como Denis Collin, Moishe Postone e mesmo o guru de todos nós , Hobsbawn, afirmam que a teoria do fetichismo da mercadoria seria a descoberta que levou Marx a ultrapassar os postulados da Economia Clássica. Leitor atento de Ricardo, Marx foi muito além ao detectar no fetiche da mercadoria a explicação para as relações de troca e as formas de distribuição. Collin considera a Seção 4 um dos capítulos  filosoficamente mais importantes de O Capital.
Nos três primeiros parágrafos de O Capital, estão duas citações de Nicholas Barbon em anotações de pé-de-página. Barbon (1640 /1698) é um dublê de médico e economista e criador do seguro de incêndio, após a catástrofe que destruiu Londres, em 1666. E que o fez um milionário.....
Nas notas de pé-de-página, Marx cita a obra “ A discourse on coining the new Money lighter, de 1696. Em rápida pesquisa, encontrei outro texto de Barbon, não citado por Marx, “A Discurse of Trade” – Um discurso sobre o Comércio, de 1690 – onde ele faz reflexões muito interessantes sobre mercadorias e que podem ter “inspirado” Marx, na criação do Fetichismo da Mercadoria. Vejamos um trecho:
“Mercadorias, que têm o seu valor estabelecido como suprimento das necessidades da mente, satisfazem desejos. Desejo provoca demanda. É o apetite da alma, e é tão natural para a alma, como a fome para o corpo.
As demandas da mente são infinitas, o homem naturalmente aspira, e como a sua mente é elevada, seus sentidos se tornam mais refinados e mais aptos ao prazer, seus desejos são ampliados, e sua demanda cresce com os seus desejos, e a escassez das coisas, gratifica os seus sentidos, adorna seu corpo, e promove a facilidade, o prazer, e o esplendor da vida.
Entre a grande variedade de coisas para satisfazer as demandas da mente, aquelas que adornam o corpo, e fazem avançar o esplendor da vida, tem o uso mais geral, e em todas as idades, e entre todos os tipos da humanos, são as de maior valor.”
O Dicionário Soviético de Filosofia – Ediciones Pueblos Unidos .Montevideo 1965 – apresenta uma versão “tranquilizadora” : “ o fetichismo da mercadoria tem um caráter histórico e desaparecerá quando se destruir o modo capitalista de produção”. No entanto, a responsável pela publicação – URSS – acabou muito antes.
Segundo Richard Sennet, a compreensão do fetichismo da mercadoria ajuda a entender os fundamentos da Sociedade do Consumo – o que a perspectiva exclusiva da produção não permitiria.
Quando a consumidora compra a bolsa Dolce&Gabana não o faz pela necessidade de ter onde guardar seus objetos de uso. Ela vê no objeto um meio de satisfação de seus desejos de atração, sensualidade e ascensão social.
Ou, com afirma Marx na Seção 4: A primeira vista, uma mercadoria parece uma coisa trivial e que se compreende por si mesma. Pela nossa análise mostramos que, pelo contrário, é uma coisa muito complexa, cheia de sutilezas metafísicas e de argúcias teológicas.”
E no segundo parágrafo, do texto inicial de O Capital: “A mercadoria é, antes de tudo, um objeto exterior, uma coisa que, pelas suas propriedades, satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie. Que essas necessidades tenham a sua origem no estômago ou na fantasia, a sua natureza em nada altera a questão”.
Ou como define Phillip Kotler – guru de todos os “marqueteiros” - , em 1967, exatamente 100 anos após a publicação de “O Capital”, no clássico “Marketing Management”: Marketing é a atividade humana dirigida para satisfação das necessidades e desejos, através dos processos de troca. Um produto é tudo aquilo capaz de satisfazer a um desejo”.
Ainda na Seção 4, é possível  entender como a madeira se transforma em dançarina quando  se converte na mercadoria mesa ( o autor não antecipa, mas,  o ritmo da dança deve variar com a grife): “Por exemplo, a forma da madeira é alterada, ao fazer-se dela uma mesa. Contudo, a mesa continua a ser madeira, uma coisa vulgar, material. Mas a partir do momento em que surge como mercadoria, as coisas mudam completamente de figura: transforma-se numa coisa a um tempo palpável e impalpável. Não se limita a ter os pés no chão; face a todas as outras mercadorias, apresenta-se, por assim dizer, de cabeça para baixo, e da sua cabeça de madeira saem caprichos mais fantásticos do que se ela começasse a dançar.”
Marx faz aqui uma referência bem humorada às mesas girantes que eram modismo na Europa, na metade do século 19.......
Em 1993, Sal Randazo segue a mesma linha fantástica, em “ A criação de mitos na publicidade”: “A maioria das pessoas nem chega a se dar conta de que há literalmente um outro mundo operando dentro de nós. ......É um reino mitológico, um desconhecido mundo cheio de seres arquétipos, demônios e toda uma horda de entidades estranhas.”
O Fetichismo demonstrou que as mercadorias possuíam corpo e alma. Assim, a partir dos anos 60, essa alma passou a se chamar “MARCA” e surgiu uma disciplina chamada MARKETING que se dedicou a cuidar da “alma’ das mercadorias.
Na sociedade do consumo e do espetáculo que estamos vivendo neste início de século 21 o fetichismo está abrindo mão do corpo da mercadoria, que está se tornando desnecessário.
Estou me referindo á “economia do acesso” – quando se promove o acesso a serviços e experiências, a fim de que se possa deles gozar, sem que se obtenha a propriedade do serviço. Ou seja: o capitalismo está entrando em uma nova fase na qual o acesso a um bem ou serviço passa a ser mais importante do que a compra/propriedade desse serviço. E isso altera radicalmente a noção de propriedade, um dos elementos centrais do capitalismo industrial e do contrato social moderno. Assim como a questão do valor: veicula-se agora o valor da experiência.”
Um dos mais radicais exemplos de mercadoria sem corpo e apenas com alma é a mercadoria fé.
E pra encerrar mais um trecho da Seção 4 do Capítulo 1 de O Capital:
“Uma mercadoria, portanto, é algo misterioso simplesmente porque nela o caráter social do trabalho dos homens aparece a eles como uma característica objetiva estampada no produto deste trabalho; porque a relação dos produtores com a soma total de seu próprio trabalho é apresentada a eles como uma relação social que existe não entre eles, mas entre os produtos de seu trabalho(…). A existência das coisas enquanto mercadorias, e a relação de valor entre os produtos de trabalho que os marca como mercadorias, não têm absolutamente conexão alguma com suas propriedades físicas e com as relações materiais que daí se originam… É uma relação social definida entre os homens que assume, a seus olhos, a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. A fim de encontrar uma analogia, devemos recorrer às regiões enevoadas do mundo religioso.
Neste mundo, as produções do cérebro humano aparecem como seres independentes dotados de vida, e entrando em relações tanto entre si quanto com a espécie humana.
O mesmo acontece no mundo das mercadorias com os produtos das mãos dos homens. A isto dou o nome de fetichismo que adere aos produtos do trabalho, tão logo eles são produzidos como mercadorias, e que é, portanto inseparável da produção de mercadorias."

domingo, 27 de outubro de 2013

Marxketing - o "X" que faltava....

O site Carta Maior cobriu o II Congresso Internacional Karl Marx que aconteceu em Lisboa, de 24 a 26 de outubro de 2013, no Instituto de História Contemporânea - Universidade Nova de Lisboa. Minha intervenção está em

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

"Te lo prometió Marx y Fidel te lo cumplió".


Conheci Nicolás Guillén em 1962, no coquetel da embaixada cubana em Copacabana (Rio de Janeiro) nos festejos do 26 de julho. Após um longo papo, Gullén marcou uma reunião no dia seguinte para me entregar uma poesia, com dedicatória, para publicar na Época - revista do Centro Acadêmico Candido de Oliveira, que eu editava.
Nicolás Guillén, grande poeta cubano, me “apresentou” a José Martí – poeta e seguidor de Marx e que morreu lutando contra os colonizadores espanhóis em maio de 1895.
Correspondente do La Nación de Buenos Aires, Martí escreveu um longo e original necrológio quando da morte de Marx, em 1883.
Na sequência, o trecho final do texto de Martí e a poesia que recebi das mãos de Guillén e que “inspirou” o título desta postagem.

“Y entre salvas de aplausos tonantes, y frenéticos hurras, pónese en pie, en unánime movimiento, la ardiente asamblea, en tanto que leen desde la plataforma en alemán y en inglés dos hombres de frente ancha y mirada de hoja de Toledo, las resoluciones con que la junta magna acaba, en que Karl Marx es llamado el héroe más noble y el pensador más poderoso del mundo del trabajo. Suenan músicas, resuenan cantos; pero se nota que no son los de la paz.”

“ Te lo prometió Martí
y Fidel te lo cumplió
ay Cuba, ya se acabó
se acabó por siempre aquí,
se acabó
el cuero del manatí
con que el yankee te pegó.
Se acabó.
Te lo prometió Martí
y Fidel te lo cumplió.
Se acabó.”

sábado, 21 de setembro de 2013

Pré-Fetichismo, em 1859


Um dos textos selecionados por Hobsbawn para integrar o 1º volume da História do Marxismo – A crítica da economia política, de Maurice Dobb ( 1900-1976) – identifica em “Contribuição para a Critica da Economia Política”(1859) uma “antecipação” do “Fetichismo da Mercadoria”, conceito diferencial da obra de Marx  e definido no volume 1 de O Capital (1867). Segue o trecho:
“Marx sublinha, portanto, que “se é exato dizer que valor de troca é uma relação entre pessoas, é preciso porém acrescentar: uma relação oculta sob o véu das coisas”. E continua assim: “Somente o hábito da vida cotidiana é que faz aparecer como coisa banal, como coisa óbvia, o fato de que uma relação de produção social assuma a forma de um objeto”, quando, na verdade, “a relação das mercadorias como valores de troca é uma relação entre as  pessoas e suas atividades produtivas recíprocas”. Temos aqui uma primeira enunciação do fenômeno que, mais tarde, Marx chamará de “fetichismo da mercadoria”; é esclarecido um aspecto de importância fundamental na análise marxista da troca e do dinheiro.”

domingo, 15 de setembro de 2013

Mercadoria e Fantasia. O Capital.


Os dois primeiros parágrafos do volume 1 de O Capital antecipam o  envolvimento total de Marx com o conceito que o diferencia dos economistas clássicos  ingleses: o Fetichismo da Mercadoria. O conceito precursor do marketing e do neuro-marketing. Um destaque especial para a nota de pé-de-página, onde o velho Karl cita Nicholas Barton, que lida, em pleno século 17, com dois temas da “marquetagem”: necessidade e desejo. A cada nova edição do Capital, Marx fazia revisões no primeiro capítulo (“Mercadoria”). Vide sua observação no prefácio da 2ª edição alemã: “A última secção do primeiro capítulo, «O caráter de feitiço da mercadoria, etc.», foi em grande parte alterada.” 
Meu sonho de principiante é poder ler esse capítulo na primeira edição (1867).

“A riqueza das sociedades em que domina o modo-de-produção capitalista apresenta-se como uma "imensa acumulação de mercadorias". A análise da mercadoria, forma elementar desta riqueza, será, por conseguinte, o ponto de partida da nossa investigação.
A mercadoria é, antes de tudo, um objeto exterior, uma coisa que, pelas suas propriedades, satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie. Que essas necessidades tenham a sua origem no estômago ou na fantasia, a sua natureza em nada altera a questão. ( * ) Não se trata tão pouco aqui de saber como são satisfeitas essas necessidades: imediatamente, se o objeto é um meio de subsistência, [objeto de consumo,] indiretamente, se é um meio de produção.”

( * ) "O desejo implica a necessidade; é o apetite do espirito, que lhe é tão natural quanto a fome para o corpo (...) A maior parte [das coisas] retiram o seu valor do fato de satisfazerem as necessidades do espirito" (Nicholas Barbon, A Discourse on coining the new Money lighter 1696, pp. 2 e 3).


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Marx e a mais recente crise do capitalismo.


O documentário, de Jason Barker, “Marx Reloaded” ( 2011 ) pretende avaliar a relevância das teses do velho Karl no entendimento da crise global de 2008/09. Os depoimentos – diversificados – abrigam equívocos e acertos. Postado, na íntegra, no youtube em julho de 2013, convida a uma atenta permanência de 52 min. e 29 s em frente à tela.
Abaixo url de entrevista – em inglês - de Jason Barker ao versobooks:
http://www.versobooks.com/blogs/900-an-interview-with-jason-barker-director-of-marx-reloaded

terça-feira, 6 de agosto de 2013

O maior socialista ricardiano

O título acima foi extraído do artigo de Hobsbawm "Marx, Engels e o socialismo pré-marxiano".
Delfim Netto defende a tese que Marx foi profundamente influenciado pela leitura de Ricardo.
Hobsbawm vai além: "...Marx foi o último - e, de longe, o maior - dos socialistas ricardianos".

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O Marx do "pé-de-página". Parte 2


Tenho me dedicado, nos últimos dias, à leitura das notas de pé de página do Capital. Segue mais um trecho da seção 4 – O Fetichismo das Mercadorias e seu Segredo – do Capítulo I, onde Marx enfatiza a “...formação social em que a produção e as suas relações comandam o homem em vez de serem por ele comandadas”.
Na nota de pé-de-página”, aproveita para manifestar seu tradicional repúdio às ideias de Bastiat – defensor intransigente do modo capitalista de produção. Vale lembrar que Schumpeter comungava com o pensamento do velho Karl: “Eu nunca achei que Bastiat fosse um mau teórico. Eu defendo que  ele nunca foi um teórico”.
Primeiro o texto e, a seguir, a nota de pé-de-página:
O texto:
Fórmulas, que logo à primeira vista mostram pertencer a uma formação social em que a produção e as suas relações comandam o homem em vez de serem por ele comandadas, surgem à sua consciência burguesa como uma necessidade tão natural como o próprio trabalho produtivo. Nada de espantar que as formas de produção social que precederam a produção burguesa sejam tratadas da mesma maneira que os Padres da igreja tratam as religiões que precederam o Cristianismo.(Vide nota)
A Nota:
"Os economistas têm uma maneira singular de proceder . Para eles existem apenas duas espécies de instituições, as artificiais e as naturais. As instituições feudais são instituições artificiais; as da burguesia são instituições naturais. Nisto assemelham-se aos teólogos, que também distinguem duas espécies de religiões: qualquer religião que não seja a sua é uma invenção dos homens, enquanto que a sua própria religião é uma emanação de Deus. Deste modo, houve história, mas já não há" (Karl Marx, Misere de la Philosophie. Réponse à la Philosophie de la Misere de M. Proudhon 1837, p. 113). O mais divertido é Bastiat, que imagina que os gregos e os romanos viviam apenas da rapina. Mas para se viver da rapina durante vários séculos, é necessário que tenha existido sempre qualquer coisa para roubar ou que o objeto das rapinas continuas se reproduza constantemente. É de crer, pois, que os gregos e os romanos tivessem também o seu processo de produção, e portanto uma economia que constituía tanto a base material da sua sociedade, quanto a economia burguesa constitui a base da sociedade actual. Ou pensará Bastiat que um modo-de-produção assente no trabalho dos escravos é um sistema de roubo? Coloca-se então num terreno perigoso. Quando um gigante do pensamento como Aristóteles  pode enganar-se na sua apreciação do trabalho escravo, por que é que um economista anão como Bastiat haveria de acertar na sua apreciação do trabalho assalariado? Aproveito esta oportunidade para responder sucintamente a uma objecção que me foi feita por um jornal germano-americano a propósito da minha obra: Zur Kritik der Politischen Ökonomie, publicada em 1859. Segundo ele, a minha opinião de que o modo-de-produção determinado e as relações sociais que dai derivam, numa palavra, "a estrutura económica da sociedade, é a base real sobre a qual se eleva o edifício jurídico e político", de tal maneira que "o modo-de-produção da vida material domina em geral o desenvolvimento da vida social, política e intelectual", segundo ele, esta opinião seria justa para o mundo moderno, dominado pelos interesses materiais, mas não para a Idade Média, onde dominava o catolicismo, nem para Atenas e Roma, onde dominava a política. Desde logo, é estranho que alguém se disponha a crer que alguém ignora estas trivialidades sobre a Idade Média e a antiguidade. O que é evidente e que nem a primeira podia viver do catolicismo, nem a segunda da política. Pelo contrário, as condições económicas de então explicam a razão por que, no primeiro caso o catolicismo e no segundo a política, desempenhavam o papel principal. De resto, um mínimo de conhecimentos sobre a história da república romana, por exemplo, basta para ver que o segredo da sua história é a história da propriedade fundiária. Por outro lado, ninguém ignora que já D. Quixote teve que se arrepender por ter acreditado que a cavalaria andante era compatível com todas as formas econômicas da sociedade.

terça-feira, 30 de julho de 2013

O Marx do "pé-de-página". Parte 1


Tenho me dedicado, nos últimos dias, à leitura das notas de pé de página do Capital. Nas  próximas postagens vou selecionar algumas muito curiosas da seção 4 – O Fetichismo das Mercadorias e seu Segredo – do Capítulo I.
Neste primeiro ensaio, destaco a critica de Marx a  Adam Smith e Ricardo que tratam a forma-valor como qualquer coisa de indiferente ou sem qualquer relação intima com a natureza da própria mercadoria”. O detalhe é revelador do todo: o fetichismo da mercadoria é a diferenciação básica de Marx/Engels dos economistas clássicos ingleses – a forma-valor tem relação íntima com a natureza da mercadoria.
Primeiro o texto e, a seguir, a nota de pé de página:
O texto:
“É certo que a economia política, embora de uma forma muito imperfeita, analisou o valor e a grandeza do valor [e descobriu o conteúdo escondido nessas formas]. Mas nunca pôs a questão de saber [porque é que esse conteúdo reveste essa forma,] por que é que o trabalho se representa no valor, e a medida do trabalho pela sua duração na grandeza do valor dos produtos.(vide nota)
A Nota:
“Uma das falhas principais da economia política clássica é nunca ter conseguido deduzir da sua análise da mercadoria, e especialmente do valor dessa mercadoria, a forma[-valor] sob a qual ela se torna valor-de-troca. São precisamente os seus melhores representantes, tais como Adam Smith e Ricardo que tratam a forma-valor como qualquer coisa de indiferente ou sem qualquer relação intima com a natureza da própria mercadoria. Não se trata somente de a sua atenção ser absorvida pelo valor como grandeza. A razão disso é mais profunda. A forma-valor do produto de trabalho é a forma mais abstrata e mais geral do atual modo-de-produção, [burguês], que adquire, por isso mesmo, um caráter histórico, o caráter de um modo particular de produção social. Se se comete o erro de a tomar pela forma natural, eterna, de toda a produção em todas as sociedades, perde-se necessariamente de vista o lado especifico da forma-valor, logo, da forma mercadoria e, em maior grau, da forma-dinheiro, da forma-capital, etc. É isto que explica a razão por que se encontram em economistas, completamente de acordo entre si sobre a medição de grandeza do valor pela duração do trabalho, as ideias mais diversas e mais contraditórias sobre o dinheiro, ou seja, sobre a forma acabada do equivalente geral. Nota-se isto sobretudo quando se trata de questões como a dos bancos, por exemplo; é então um nunca mais acabar de definições do dinheiro e de lugares-comuns constantemente debitados a este propósito. [Por isso surgiu em sentido contrário um sistema mercantilista restaurado (Ganilh, etc.) que vê no valor apenas a forma social, ou melhor, apenas a sua aparência desprovida de substância.] Aproveito para chamar a atenção, uma vez por todas, que entendo por economia política clássica toda a economia que, a partir de Willlam Petty procura penetrar no conjunto real e intimo das relações de produção na sociedade burguesa, por oposição à economia vulgar, que se contenta com as aparências, rumina sem cessar, por necessidade própria e para vulgarização dos fenômenos mais notórios, os materiais já elaborados pelos seus predecessores, limitando-se a erigir pedantemente em sistema e a proclamar como verdades eternas as ilusões com que os burgueses gostam de povoar o seu mundo, para eles o melhor dos mundos possíveis. “

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Marx ganha 400 libras, na Bolsa.


Em  1864, termina a fase da “miséria londrina” na vida da família Marx. Karl recebe 850 libras da herança da mãe e  cerca de  700 libras de um amigo (Lupus) que morre celibatário. Segundo o livro de Françoise Giroud “Jenny Marx ou a mulher do diabo” ( Record, tradução de Christina Cabo) os Marx mudam-se para “uma grande casa de três andares, clara e espaçosa, em um bom bairro em frente a um parque” e “mouro”, com Karl era tratado na intimidade, resolve aplicar parte do dinheiro na Bolsa. Seguem trechos de duas carta – a primeira para o tio Phillips, que morava na Holanda, e a segunda para o amigo de sempre, Engels.

“Não ficará surpreso em saber que apliquei na bolsa de valores americana, mas especialmente nas ações inglesas, que proliferam este ano como cogumelos. Ganhei, desta maneira, mais de 400 libras e vou recomeçar. Este tipo de operação não toma muito tempo e podemos arriscar algum dinheiro para apanhar o do inimigo!”

“É de novo o momento em que, com inteligência e muitos poucos meios pode-se ganhar dinheiro em Londres.”
Destaque para o comentário da autora, Giroud – fundadora da revista L’Express:
“ Mas não é encantadora essa imagem de Marx fazendo frutificar, prudentemente, sua herança na bolsa de Londres ?”

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Nicholas Barbon. A "inspiração" do fetichismo da mercadoria?


Nos primeiros parágrafos de O Capital ( volume 1) Marx cita Nicholas Barbon (1640-1698)  em duas notas de pé de página. Barbon é dublê de médico e economista e criador do seguro de incêndio, a partir da catástrofe que destruiu Londres, em 1666. Já fiz uma postagem sobre o tema e resolvi pesquisar um pouco mais a obra de Barbon. Nas notas de O Capital, é citada a obra A Discourse on coining the new Money lighter, de 1696. Encontrei um outro texto, de 1690, que, segundo especialistas, seria o mais importante da produção de Barbon. Com todas as dificuldades de traduzir um texto em inglês do século 17, aceitei o desafio e reproduzo um pequeno trecho do “ Um discurso sobre o Comércio” ( A Discurse of Trade).
http://www.marxists.org/reference/subject/economics/barbon/trade.htm

“Do valor e do preço das mercadorias

O valor de todas as mercadorias tem origem na sua utilização. Coisas sem uso, não tem nenhum valor, como diz o ditado Inglês, elas são boas pra coisa alguma.

O uso das coisas, são para suprir as demandas e necessidades do homem. Há duas demandas genéricas que nascem com a humanidade: as demandas do corpo e as demandas da mente. Para suprir essas duas necessidades, todas as coisas sob o sol devem tornar-se úteis e, portanto, ter valor.
Mercadorias, úteis para suprir as demandas do corpo, são todas as coisas necessárias para sustentar a vida, como na estimativa comum, todos esses bens que são úteis para suprir as três necessidades básicas do homem: alimentos, roupas e alojamento. Porém, se cuidadosamente examinadas, nada é absolutamente necessário para sustentar a vida, com exceção da comida. Para a maior parte da humanidade andar sem roupa, e morar em cabanas e cavernas é aceitável, mas algumas coisas são absolutamente necessárias para suprir as necessidades do corpo.

Mercadorias, que têm o seu valor estabelecido como suprimento das necessidades da mente, satisfazem desejos. Desejo provoca demanda. É o apetite da alma, e é tão natural para a alma, como a fome para o corpo.
As demandas da mente são infinitas, o homem naturalmente aspira, e como a sua mente é elevada, seus sentidos se tornam mais refinados e mais aptos ao prazer, seus desejos são ampliados, e sua demanda cresce com os seus desejos, e a escassez das coisas, gratifica os seus sentidos, adorna seu corpo, e promove a facilidade, o prazer, e o esplendor da vida.

Entre a grande variedade de coisas para satisfazer as demandas da mente, aquelas que adornam o corpo, e fazem avançar o esplendor da vida, tem o uso mais geral, e em todas as idades, e entre todos os tipos da humanos, são as de maior valor.”



terça-feira, 16 de julho de 2013

Delfim. De novo.....


Mais uma vez, o “marxista infiltrado” – tese do jornalista Milton Coelho da Graça – Antonio Delfim Netto cita Marx em sua coluna no Valor Econômico (13/07/13). Primeira citação: “O abuso das generosas ideias de Karl Marx ajudaram a dar credibilidade ao chamado “socialismo real” de Lenin e Stalin. Marx, um libertário, seguramente o consideraria nada menos  que abjeto....”.
Segunda citação: “ não é o tempo de trabalho, mas o tempo disponível que mede a riqueza (Mark, K – “Grundrisse”, Ed. Anthropus, Paris, T.2 (1968):226).”
E o mais relevante: o macaco tá certo!

sábado, 13 de julho de 2013

Marx antes do marxismo.

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O jornal O Globo publica hoje – 13/07/2013 – matéria, com chamada na 1ª página, sobre o lançamento do “terceiro volume de “O Capital” editado a partir dos manuscritos”. O texto de Jorge Grespan destaca o interesse pela obra do velho Karl neste momento de crise econômica e duas décadas depois do fim da URSS. Faria apenas uma sugestão ao Professor Grespan: agregar um s ao título original – Marx antes dos marxismos. Afinal, faz tempo que a expressão não existe no singular.
Segue o parágrafo inicial.
“ A persistência da crise econômica atual, cada vez mais grave e disseminada, vem jogando por terra todas as teorias que a consideram fruto de uma situação passageira, do desarranjo de variáveis conjunturais ou de práticas de gestão fraudulenta. Neste contexto, cresce o interesse pela obra de Karl Marx (1818-1883) cuja explicação para as crises as colocam na base mesma da valorização do capital, como um fenômeno estrutural e de ocorrência inevitável.”

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Marx. " O pequeno negro selvagem".

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Em agosto de 1841, dois anos antes de seu casamento com Marx, Jenny escreve uma amorosa carta a seu noivo – o “pequeno negro selvagem”. Destaque para o registro da política como “a atividade mais arriscada de todas”. Seguem alguns trechos.
“Meu pequeno negro selvagem,
Estou tão feliz por você estar feliz e por saber que minha carta te alegra, que está torcendo por mim, que está morando em quartos de papel de parede, que bebeu champanhe em Colônia, que existem sociedades de Hegel aí, que você vem sonhando e que, resumindo, você é meu, meu amor, meu querido negro selvagem.”
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“Ah, querido, meu querido amor, você agora também está envolvido com política. Realmente essa é a atividade mais arriscada de todas. Querido Karl, lembre-se sempre que aqui você tem uma namorada que o espera e está sofrendo, e depende totalmente do seu destino. Querido, meu querido amor, como eu desejaria poder ver-te novamente.”
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“Apenas um beijo em cada dedo e, depois, a distância. Voem, voem para o meu Karl, e apertem seus lábios tão calorosamente como se fossem quentes e carinhosos quando forem de encontro a eles e, então, não sejam mais os tolos mensageiros de amor e sussurrem todas as minúsculas, doces e secretas expressões do amor, o amor que lhe darei — contem-lhe tudo — mas, nem tudo, deixem um pouco para a sua amada.”
                                             Marx e Jenny
Íntegra : http://www.marxists.org/portugues/jenny/1841/08/carta.htm

segunda-feira, 1 de julho de 2013

O papel do Estado na crise mundial.


Denis Collin afirma, em seu blog, que a crise financeira mundial confirma, de maneira clara, as análises do velho Karl. Segue minha tradução livre.

“A crise financeira de 2007/2008 e suas consequências confirmam de maneira clara as análises de Marx : o modo de  produção capitalista somente pode funcionar reproduzindo o capital sempre em uma escala  ampliada. Ou a busca de um processo de acumulação exige o recurso crescente ao credito e a todas as formas de investimento financeiro que permitam a distribuição, não de lucros reais, gerados no processo de produção, mas de ganhos antecipados, isto é, que não correspondam a um capital produtivo gerado pela mais valia.
É o que Marx chama de “capital fictício”. A massa do capital fictício terminou por incorporar o capital realmente investido, que é, ele mesmo, confrontado aos problemas crescentes de ajuste de valor, que Marx denominava de baixa tendencial  da taxa de lucro.
O exemplo da industria automobilística é particularmente esclarecedor para compreender, ao mesmo tempo, esta baixa das taxas de lucro e o peso crescente dos “produtos financeiros”.
Nesta situação e em uma escala gigantesca, encontramos ainda as análises de Marx sobre o papel da dívida pública na formação deste capital fictício. Que o Estado seja reduzido a “conselho de administração dos negócios comuns da burguesia” é certamente, desta maneira geral, uma concepção muito redutora. Durante as “trente glorieuses” ( obs. do tradutor: Período de grande crescimento de 1945 a 1973, nos países membros da OCDE, tb conhecido, na França, como a Revolução Invisível) o Estado foi o lugar da aposta nas lutas sociais para assegurar um desenvolvimento próximo da estabilidade do modo de produção capitalista, e  ele teve que proteger e , por vezes, organizar as conquistas sociais correspondentes às reivindicações dos assalariados.
Mas o se que chamou usando a expressão inadequada de “revolução neo-liberal” foi uma vasta operação política remetendo o Estado à sua clássica definição marxista.
A percepção da falência do sistema financeiro e sua consequência nos custos para os cidadãos acabou por reposicionar os governos como simples apoios de poder do capital financeiro.”

Fetichismo. A visão soviética.


O Dicionário Soviético de Filosofia – Ediciones Pueblos Unidos, Montevideo 1965 – afirma que “o fetichismo da mercadoria tem um caráter histórico e desaparecerá quando se destruir el modo capitalista de produção”. Segue o texto em espanhol.

“Representación tergiversada, falsa e ilusoria del hombre acerca de las cosas, mercancías y relaciones de producción; surge cuando impera el régimen de la producción de mercancías basado en la propiedad privada, sobre todo bajo el capitalismo. La aparición del fetichismo de la mercancía se explica por el hecho de que los vínculos de producción entre los individuos, en la sociedad basada en la propiedad privada, no se establecen de manera directa, sino a través del intercambio de cosas en el mercado, a través de la compra y venta de mercancías, adoptan la envoltura de una mercancía (se materializan), y, como consecuencia, adquieren el carácter de relaciones entre cosas, se convierten aparentemente en propiedades de las cosas, de las mercancías. Las cosas, las mercancías creadas por los hombres empiezan, en apariencia, a dominar sobre los propios hombres. Esta materialización de las relaciones de producción entre los hombres, de la dependencia en que el hombre se encuentra respecto al movimiento espontáneo de las cosas, de las mercancías, constituye la base objetiva del fetichismo de la mercancía. En los hombres surge la idea ilusoria de que las cosas mismas, las mercancías, por su propia naturaleza, poseen ciertas propiedades misteriosas, que en realidad no poseen. El fetichismo de la mercancía oculta la verdadera situación: la subordinación del trabajo al capital, la explotación de la clase obrera. En la superficie de los fenómenos, los relaciones entre los capitalistas y los obreros aparecen como relaciones entre poseedores iguales de mercancías. Todas las ideas ilusorias sobre la igualdad y la libertad engendradas por el capitalismo se apoyan en dicha forma tergiversada, inevitable en la sociedad capitalista, en que se manifiestan las categorías económicas. La economía política burguesa, vulgar, utiliza el fetichismo de la mercancía con el propósito de encubrir la auténtica naturaleza del capital y ocultar la causa verdadera de la explotación de la clase obrera. El primero en develar el secreto del fetichismo de la mercancía, sus raíces, su base objetiva, fue Marx. El fetichismo de la mercancía tiene un carácter histórico; desaparecerá cuando se aniquile el modo capitalista de producción.

domingo, 2 de junho de 2013

Marx e as mulheres.


Anna Marina Madureira de Pinho Bárbara Pinheiro, doutoranda em História Social da UFF, produziu uma original visão de Marx, a partir de sua relação com as mulheres mais próximas – mãe, esposa, filhas e empregada ( mãe de um filho seu, “perfilhado” por Engels) – e o nascente feminismo.
A autora dedica espaço especial para sua relação com Jenny ( Joanna Bertha Julie Jenny von Westphalen) sua namorada de infância, com quem se casou, depois de um noivado de sete anos, em 19 de junho de 1843 – sem a presença de seus familiares.
Marx e Jenny – 4 anos mais velha – conviveram durante 38 anos e ela se foi em dezembro de 1881, quinze meses antes de Marx.
Selecionei um trecho das “Conclusões” e a url para acessar a íntegra.

“Quem era Marx? Um emigrado prussiano que acabou se tornando um pequeno-burguês da sociedade inglesa vitoriana? Um pai de família e marido amoroso que teve um filho com a empregada?
Antes de tudo, Marx era um homem de seu tempo, interpelado pelo caldo de cultura de sua época. Como intelectual, levou a extremos o objetivo de conciliar teoria e prática, não apenas em função de sua militância política, mas especialmente porque vivia suas ideias. Mesmo na esfera mais recôndita das relações que estabeleceu com o mundo, a esfera familiar, suas ideias reverberavam, e vice-versa. Como marido, pai e filho, Marx personificou a contradição.
Nunca conseguiu romper completamente com seus vínculos familiares de origem. E embora, mais tarde, Freud demonstrasse que a realização deste projeto não era possível a ninguém, Marx, apesar de ter-lhe antecedido e voltar sua atenção para questões de outra ordem, teve importantes intuições a esse respeito. Desta forma, a afirmação presente “n’O 18 Brumário” de que  “a tradição de todas as gerações mortas, pesa como uma montanha na mente dos vivos”, parece não apenas, explicar o papel fundamental da subjetividade naquele momento da história francesa, como resumir sua própria vida.
O aspecto que escolhemos desenvolver desta vida, relacionando-o à sua obra, não é aquele que traz à tona toda a genialidade do “mago de Trier”, mas o que revela a fragilidade do homem por trás da grande teoria. Consideramos, contudo, que o fascínio que Marx exerceu sobre as pessoas que mais de perto conviveram com ele – sua esposa e filhas, a empregada e Engels – estivesse também aí, nesse conjunto de paixões e contradições que ele era e não somente, no brilhantismo de suas ideias. “

Jenny von Westphalen