sábado, 31 de dezembro de 2011

A crise mundial "ressuscitou" Marx.

-->
Os Grundrisse - anotações e estudos de Marx entre 1857 e 1858 - e se constituem, segundo o Professor Ricardo Antunes da Unicamp, “em verdadeira mina, pistas, notas, indicações que depois vão aparecer em uma exposição mais sistemática e volumosa na sua obra maior e monumental: O Capital.”
Em entrevista para a IHU on line, da Unisinos, o Professor da Unicamp Ricardo Antunes define o principal desafio do marxismo atual – compreender o século 21.

“O principal desafio do marxismo hoje é duplo: primeiro, é desvendar o mundo atual. Por volta de 15 ou 20 anos atrás estávamos na onda pós-moderna de que o marxismo tinha acabado, de que Marx estava morto, sepultado, não tinha mais nada a nos oferecer. Nós adentramos em uma fase de crise estrutural profunda do capital que rejuvenesceu e “ressuscitou” a obra de Marx. Então, o primeiro desafio dos marxistas é compreender o século XXI, o nosso entorno. A obra de Marx, em seu conjunto, é fortemente inspiradora para uma alternativa para além do capital. Mas os Grundrisse têm a particularidade de serem anotações, indicações, textos inconclusos, que percebiam embriões de tendência no século XIX que hoje estão plenamente desenvolvidas. Por exemplo, a questão da ciência e da técnica e suas conexões com o trabalho. Essa obra é mais um ingrediente importante para esse decisivo processo de redescobrimento de Marx, que nos auxilia diante dos desafios radicais do século XXI.”

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Grundrisse, uma reflexão mais ampla que O Capital.


Em 1857/58, Marx produz os “Grundrisse”, integrado por dois documentos: o Prefácio do livro “Para a crítica da Economia Política” e o FORMEN - “Formações econômicas pré-capitalistas”. Em entrevista para a IHU on line, da Unisinos, o Prof. Emir Sader, do Laboratório de Políticas Públicas da UERJ faz uma rápida avaliação da obra e de seu significado.

“Muito mais do que O Capital, os Grundrisse constituem uma reflexão mais abrangente no sentido de que aborda temas econômicos mais amplos, temas históricos, políticos, culturais e sociológicos. O livro traz elementos para uma reflexão sobre a evolução histórica da humanidade em esferas muito diferenciadas. É uma obra monumental para o conhecimento da história e do capitalismo do mundo contemporâneo.
............................................................................................................................
Ele reflete sobre o método de trabalho ao qual Marx já tinha chegado e coloca em prática. Refiro-me a todo aquele caminho de descoberta de que a realidade não é compreensível aos olhos, ou como ele mesmo diz: se o mundo fosse compreensível empiricamente a ciência seria desnecessária. Trata-se de todo esse processo de desconstrução da positividade imediata do mundo, para depois voltar a compreendê-lo como síntese concreta de múltiplas determinações. Os Grundrisse é um festival de reflexões de colocações em prática do método de Marx. É um exemplo claro de uma aplicação da dialética às distintas circunstâncias e esferas do conhecimento e da prática humana.”

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Mais-valia ou mais-valor ?


O professor Mario Duayer - um dos tradutores dos Grundrisse, publicado pela Boitempo em 2011 – levanta polêmica ao traduzir "Mehrwert" por mais-valor ao invés de mais-valia. Veja  trecho de sua entrevista ao Estadão, em junho de 2011.

“Tendo em vista o caráter dos Grundrisse, isto é, material de trabalho, extratos, comentários e desenvolvimentos preliminares de sua crítica, a tradução ora publicada adotou o critério de não intervir estilisticamente no texto, de evitar sempre que possível a paráfrase do original. Por isso, não havia como atenuar expressões usadas por Marx que, a nosso ver, simplesmente manifestavam sua irritação com as ideias sob crítica. Com relação aos neologismos, na tradução do alemão dificilmente se pode prescindir deles. A tradução de "Mehrwert" por mais-valor em lugar de mais-valia é teoricamente indiscutível. No entanto, antes de adotá-la consultei vários pesquisadores brasileiros que trabalham no interior da tradição marxista. A opinião unânime foi de que o uso de mais-valor é de fato irreparável do ponto de vista teórico. Não saberia julgar de imediato se a tradução dos Grundrisse poderia contribuir para corrigir falhas nas traduções existentes. Todavia, é preciso sublinhar que muitas traduções dos textos de Marx não se basearam na edição crítica da MEGA (Marx-Engels-Gesamtausgabe ) e, por isso, trazem muitos problemas dos originais produzidos na antiga União Soviética. Esse problema não se restringe às traduções para o português, e explica a publicação de novas traduções em diversos idiomas a partir da MEGA. Diria que a Boitempo é pioneira nessa iniciativa em língua portuguesa.”
Para conhecer um pouco mais o pensamento do Prof. Duayer, leia a sua entrevista à revista IUHonline, da Unisinos:
http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4213&secao=381

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Homem - um animal político.


Em 1857/58, Marx produz os “Grundrisse”. Segundo estudiosos da obra - entre eles o professor da UFF, Mario Duayer, que traduziu a obra para a Editora Boitempo – os “Grundrisse” foram um laboratório de pesquisa de Marx. “Trata-se de um texto de trabalho, diz Duayer em entrevista ao Estadão, e, por isso, pode conter desenvolvimentos ainda incipientes, posteriormente completados”. “Equívocos,  afirma ainda,há inúmeros de cálculo, que, aliás, o próprio Marx assinala e segue adiante”.Constou basicamente de dois documentos: o Prefácio do livro “Para a crítica da Economia Política” e do texto “Formações econômicas pré-capitalistas” - “Formen”. No “Prefácio”, Marx apontou para as questões da formação das relações sociais de produção e sobre o conflito entre as forças produtivas e as relações de produção, à luz do método do materialismo histórico ou dialético. Selecionei um pequeno trecho em que ele classifica o homem como um animal político e, pra variar, dá uma alfinetada em Proudhon.

“O homem é, no sentido mais literal, um zoon politikon (animal político); não é simplesmente um animal social, é também um animal que só na sociedade se pode individualizar. A produção realizada por um individuo isolado, fora do âmbito da sociedade - fato excepcional, mas que pode acontecer, por exemplo, quando um indivíduo civilizado, que potencialmente possui já em si as forças próprias da sociedade, se extravia num lugar deserto - é um absurdo tão grande como a ideia de que a linguagem se pode desenvolver sem a presença de indivíduos que vivam juntos e falem uns com os outros. Não vale a pena determo-nos mais neste ponto. Nem seria sequer de abordar a questão, se esta tolice - que tinha sentido e razão de ser para os homens do século XVIII -não tivesse sido novamente introduzida, com a maior das seriedades, na economia política moderna por Bastiat, Carey, Proudhon, etc. claro que, para Proudhon, entre outros, se torna bastante confortável  explicar a origem de uma relação econômica cuja génese  histórica desconhece em termos de filosofia da história; e, assim, recorre aos mitos: essa relação foi uma ideia súbita e acabada que ocorreu a Adão ou Prometeu, os quais, em seguida a introduziram, etc. Não há nada mais enfadonho e árido do que o locus communus em derio.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Marxismo não dogmático.


O senador Cristovam Buarque publica em seu site uma interessante análise do último livro de Eric Hobsbawn – “Como mudar o mundo” -  Buarque destaca, de saída, a abertura original do livro que relata o encontro do historiador com o  milionário financista George Soros e enfatiza, em trecho a seguir, o caráter não dogmático do marxismo.

“Imaginem a cena: Eric Hobsbawm, reconhecido historiador inglês de corte marxista, e George Soros, uma das mentes financeiras mais importantes do mundo, encontram-se para um jantar. Soros, talvez para iniciar a conversa, talvez com o objetivo de continuar alguma outra, pergunta a Hobsbawm sobre a opinião que este tem de Marx. Hobsbawm escolhe dar uma resposta ambígua para evitar o conflito, e respondendo em parte a esse culto à reflexão antes que ao confronto direto que caracteriza seus trabalhos. Soros, ao contrário, é conclusivo: “Há 150 anos esse homem descobriu algo sobre o capitalismo que devemos levar em conta”.
.........................................................................................................................
Que coisas de Marx é preciso conservar? Em primeiro lugar, a natureza política de seu pensamento. Para ele, mudar o mundo é o mesmo que interpretá-lo (parafraseando uma das míticas “Teses de Feuerbach”); Hobsbawm considera que há um temor político em vários marxistas de se verem comprometidos com uma causa, sabendo de antemão que para entrar na leitura de Marx teve que haver primeiro um desejo de tipo político: a intenção de mudar o mundo.
Em segundo lugar, a grande descoberta científica de Marx, a mais-valia, também tem lugar neste ensaio histórico de erro e acerto. Reconhecer que há parte do salário do operário que o capitalista conserva para si com o objetivo de aumentar os lucros, com a passagem do tempo é encontrar a prova de uma opressão histórica, o primeiro passo para chegar a uma verdadeira sociedade sem classes, sem oprimidos. Os operários estão conscientes dessa injustiça e só mediante uma organização política coerente poderão “dar uma reviravolta”. Ao contrário do que acreditavam os gurus da globalização, nem os operários nem o Estado são conceitos em desuso: Hobsbawm esclarece que “os movimentos operários continuam existindo porque o Estado-nação não está em vias de extinção”.
Por último, a existência de uma economia globalizada demonstra aquilo que Marx reconheceu como a capacidade destruidora do capitalismo, mais um problema a resolver que um sistema histórico definitivo. Hobsbawm chama a atenção, a partir do filósofo alemão, para essa “irresistível dinâmica global do desenvolvimento econômico capitalista e sua capacidade de destruir todo o anterior, incluindo também aqueles aspectos da herança do passado humano dos quais o capitalismo se beneficiou, como, por exemplo, as estruturas familiares”. O capitalismo é selvagem por natureza e seu final – ao menos, o final da ideia clássica de capitalismo – é evidente para qualquer pessoa no mundo.
É muito difícil dizer que da análise de Marx se possa tirar um plano de ação “à prova de bala”. A teoria marxista clássica falou muito pouco sobre modelos de Estado ou do que aconteceria uma vez instalada a revolução, mas muito sobre análise econômica: pensando o que acontece é que se pode saber como agir. O que Marx deu foram ferramentas, não receitas dogmáticas. Como bem disse Hobsbawm, os livros de Marx “não formam um corpus acabado, mas são, como todo pensamento que merece este nome, um interminável trabalho em curso. Ninguém vai convertê-lo em dogma, e menos ainda em uma ortodoxia institucionalmente ancorada”.
Íntegra do comentário em
 http://www.cristovam.org.br/portal2/index.php?option=com_content&view=article&id=4402:como-mudar-o-mundo-novo-livro-de-hobsbawm-&catid=1&Itemid=100038


sábado, 24 de dezembro de 2011

FORMEN.Propriedade: unidade natural de trabalho.


As notas de Marx (1857/58) sobre as FORMAS QUE PRECEDERAM A PRODUÇÃO CAPITALISTA ( Formen die der Kapitalistischen Produktion), comumente identificadas por FORMEN, usam uma linguagem simples e de fácil entendimento. As FORMEN integram os “Grundrisse” – série de manuscritos “preparatórios” de “O Capital”. Segundo Delfim Netto – “marxista infiltrado”, segundo o jornalista Milton Coelho – nos “Grundrisse” está o verdadeiro Marx, ainda não influenciado por Ricardo.
No início, Marx relaciona os pressupostos do trabalho assalariado e as condições históricas do capital: a) a existência do trabalho livre e a sua respectiva troca por dinheiro; b) a separação do trabalho livre das condições objetivas de sua efetivação. Marx posiciona o conceito de “propriedade”, como unidade natural do trabalho: “o relacionamento do trabalhador com as condições objetivas de seu trabalho é de propriedade; esta constitui a unidade natural do trabalho com seus pré-requisitos materiais”

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A prisão de Marx, em Bruxelas.


No dia 3 de março de 1848, Marx recebe ordem para deixar a Bélgica em 24 horas. Naquela noite, um comissário de policia, com dez guardas, invade a casa de Marx e o levam preso alegando “falta de documentos”. No dia 8, o La Reforme publica carta do “ex-prisioneiro” relatando os fatos, inclusive a prisão de Jenny que é levada e “trancada em uma sala escura com prostitutas”. A seguir, o trecho final da carta.

“Imediatamente após a minha prisão, minha esposa foi à casa do Sr. Jottrand, Presidente da Associação Democrática de Bruxelas, para pedir que ele tomasse as medidas necessárias. No retorno para casa, ela encontrou em sua porta um policial que contou a ela, com impecável polidez, que se ela queria falar com o Sr. Marx, ela devia apenas segui-lo. Minha esposa aceitou a oferta animadamente. Ela foi levada para a delegacia e o comissário, primeiramente, contou que o Sr. Marx não estava lá; depois ele brutalmente perguntou quem era ela, por que ela tinha ido à casa do Sr. Jottrand, e se ela tinha documentos com ela. Um democrata belga, Sr. Gigot, acompanhou minha esposa até a delegacia com o guarda municipal, e quando ele protestou fortemente contra as questões insolentes e absurdas do comissário, ele foi silenciado por guardas que o prenderam e o jogaram em uma cela. Minha esposa, sob a acusação de “vagabundagem”, foi levada para a prisão em Hôtel de Ville e trancada em uma sala escura com prostitutas. Às 11 horas da manhã, ela foi levada, sob escolta policial e à luz do dia, para o escritório do magistrado responsável. Por duas horas, ela foi mantida sob forte custódia, apesar dos mais vigorosos protestos emitidos por todos os lados. Ela foi mantida lá, no frio congelante, exposta aos comentários mais vergonhosos feitos pelos policiais.
Finalmente ela apareceu perante o magistrado responsável, que estava surpreso porque a polícia, em sua solicitude, não prendeu ao mesmo tempo as crianças. O interrogatório foi, naturalmente, uma fraude, e o único crime de minha esposa consiste no fato de que, apesar de pertencer à aristocracia prussiana, ela possui as mesmas opiniões democráticas de seu marido.
Eu não entrei em todos os detalhes desse caso revoltante. Eu meramente devo adicionar que, quando fomos soltos, as 24 horas dadas já tinham se passado, e nós tivemos que sair sem levar o mais essencial de nossos pertences.
Karl Marx,
Vice-Presidente da Associação Democrática de Bruxelas”

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Karl Marx versus Bill Gates.

-->
Em 1998, o caderno de economia do jornal português “Expresso” publica um interessante artigo sobre “As  três revoluções do capitalismo no século XX” a partir de uma tese de Bruno Lemaire (1).
íntegra em http://www.blemaire.com/siad2/Books/Marx_Init.htm.
Selecionei 3 trechos que permanecem atuais.

“O que levará um professor de gestão francês a querer perceber o itinerário histórico entre dois personagens tão diferentes como Karl Marx e Bill Gates, é no mínimo intrigante.
"São dois símbolos um pouco míticos do imaginário deste século. O primeiro é do século passado, mas a influência dele foi muito profunda em diversas gerações do século XX. O segundo é um símbolo de uma geração ganhadora de final de século e tem a ver com outro paradigma", explica-nos Bruno Lemaire (blemaire@club-internet.fr), professor do HEC, uma escola de gestão dos arredores de Paris, que acaba de tornar público um projeto de investigação precisamente intitulado "De Marx a Gates", tendo disponíveis duas versões - uma mais abreviada na Web (começando em www.reseau.org/rad/lemaire1.htm) e outra em livro.
O seu trabalho permite uma reflexão sobre o trajeto do capitalismo através das três revoluções «internas» que mais o marcaram no século XX - a revolução política, a revolução da gestão e a revolução do saber.
Todas elas tiveram os seus protagonistas principais - a política foi levada a cabo por uma organização de «revolucionários profissionais», a da gestão corporificou a nova organização empresarial e foi feita pelos gestores profissionais, e a do saber trouxe para a primeira linha os empreendedores inovadores e as suas organizações flexíveis que cavalgaram a revolução da informação e, mais recentemente, a revolução das comunicações.
Como se vê todos eles são «profissionais» - um termo que ganharia carga de marketing - e todos eles têm «organizações» coladas ao seu dia-a-dia.
Mas, houve diferenças de monta entre elas.
A primeira revolução foi ruidosa, idealista nos seus primórdios, provocou grandes alterações geo-políticas e da forma de governar no próprio capitalismo durante várias décadas, mas fracassou. Teve um profeta, Karl Marx (1818-1883), e um «prático», o russo V. I. Lenine (1870-1924). Marx, diz Lemaire, foi dos primeiros «economistas» a perceber que o capitalismo era "um sistema adaptativo, onde os diferentes agentes interagem, tendo como resultado a emergência do fenômeno da luta de classes, que ele julgava ser o motor da história econômica e social".
.....................................................................................................................................
Karl Marx já não move paixões extremadas de um lado e de outro e, por isso, a sua avaliação pode ser feita em sossego utilizando o processador de Gates e não o megafone. Marx foi claramente um dos profetas da descontinuidade.
"No plano puramente teórico da economia, ele estava extraordinariamente avançado em relação aos economistas da sua época, incluindo os afetos ao modelo do equilíbrio geral. Os esquemas marxianos de reprodução simples e alargada que vêm no O Capital eram intrinsecamente dinâmicos", refere-nos Bruno Lemaire. O que o mataria teoricamente "foi ele continuar prisioneiro de modelos lineares e deterministas, típicos, aliás, da época", sublinha o autor de De Marx a Gates.
...................................................................................................................................
AS TRÊS REVOLUÇÕES
DO SÉCULO XX
E OS SEUS PROTAGONISTAS
# A revolução política e o «revolucionário profissional»
# A revolução da gestão e o gestor profissional
# A revolução do saber e o empreendedor da «terceira vaga»
OS TRÊS ECONOMISTAS DA DESCONTINUIDADE
# Karl Marx que pretendeu dar consciência do seu papel histórico a uma das classes que seria a coveira do sistema industrial
# Joseph Schumpeter que deu consciência do seu papel ao empreendedor inovador
# Peter Drucker que deu consciência do seu papel ao gestor
OS TRÊS «PRÁTICOS»
# V. I. Lenine que criou a organização dos revolucionários profissionais
# Alfred P. Sloan Jr. que criou a grande organização empresarial gerida por gestores profissionais
# Bill Gates que é o protótipo do empreendedor da terceira vaga

(1) Não confundir Bruno Lemaire com Bruno Le Maire (ex-ministro de Villepin). Nosso Bruno tem 56 anos, é professor do HEC, uma escola de gestão próxima de Paris, no departamento de Sistemas de Informação e de Apoio à Decisão, e tem um currículo com um diploma na Harvard Business School, bem como uma forte influência de autores de gestão e futurólogos norte-americanos (Peter Drucker, Tom Peters, Michael Porter, Alvin Toffler, Michael Hammer são citados com frequência), o que faz dele um prof. de gestão francês "politicamente incorreto". Para conhecer mais de Bruno: http://www.blemaire.com/siad2/index.php
    

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O "Pai Nosso" de Lafargue.


Paul Lafargue (1842-1911), genro de Marx – casado com Laura Marx – era médico mas escreveu várias obras sobre o sogro e a história do Marxismo. Selecionei aqui uma irreverente e bem humorada versão do Pai Nosso, publicada no “Le Socialiste”, em fevereiro de 1886, e integrante de “Orações Capitalistas”.

“I - Oração Dominical
Capital, pai nosso, que estais na terra, Deus Todo-Poderoso, que mudais o curso dos rios e ergueis montanhas, que reparais os continentes e unis as nações; criador das mercadorias e fonte de vida, que governais os reis e os servos, os patrões e os assalariados, que o vosso reino se estabeleça em toda a Terra.
Dai-nos muitos compradores para as nossas mercadorias, sejam elas más ou boas.
Dai-nos trabalhadores miseráveis que aceitem sem revolta todos os trabalhos e se contentem com o mais vil dos salários.
Dai-nos todos que acreditem nas nossas promessas.
Fazei com que os nossos devedores paguem integralmente as suas dívidas e que os bancos descontem as nossas letras.
Fazei com que a prisão de Mazas nunca se abra para nós e afastai para longe a falência.
Concedei-nos rendimentos perpétuos. Amém.”

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Marx e a "má influência" de Ricardo.


Em novembro/2011, convidado pela Revista Humanitas Unisinos, Delfim Netto explicita sua tese sobre a antropologia como a mais importante contribuição de Marx nos Grundrisse ( 1844), antes de sua sedução pela leitura de  Ricardo. Mais uma vez, Delfim valida a tese do jornalista Milton Coelho da Graça de que é um “marxista infiltrado”. Pra quem ainda duvida, segue a íntegra do comentário:
“Creio que seu interesse se deve à leitura de dois artigos meus publicados no Valor (Homem e Trabalho, 18-10-11) e na Folha de S. Paulo (Trabalho, 19-11-2011), em que escrevi que o problema do desemprego causado pelas crises financeiras tornou-se “o mal social global” e comentei que “uma das construções mais impressionantes de Marx é a sua leitura do papel do trabalho nos Manuscritos de 1844, antes de ele ter sido seduzido pela leitura de Ricardo”.
Esta minha observação se refere simplesmente à antropologia de Marx que está contida nos Manuscritos econômicos e filosóficos que eu considero como a contribuição mais importante de sua obra. E quando eu digo que ele “sofreu” depois uma influência de Ricardo, estou querendo dizer que ele piorou, porque inventou uma metafísica que é um trabalho abstrato e a partir daí, usando a teoria do valor, ele foi se perdendo.
Karl Marx foi seguramente um dos maiores pensadores do século XIX e hoje suas ideias estão totalmente absorvidas. O que o marxismo tinha de bom, de mais importante, é parte integrante da cultura universal, da mesma forma que Hegel, Kant, Einstein foram absorvidos.
Faço votos que vocês se divirtam bastante com essa nova interpretação dos Grundrisse e envio daqui um grande abraço.
Cordialmente, Antonio Delfim Netto.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Os sindicatos, na visão de Marx.


Em junho de 1865, Marx apresenta um longo informe nas sessões do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores. O texto completo somente seria publicado 33 anos depois, em 1898. No último período, uma visão critica sobre o papel dos sindicatos.
“Os sindicatos trabalham bem como centro de resistência contra as usurpações do capital. Falham em alguns casos, por usar pouco inteligentemente a sua força. Mas, são deficientes, de modo geral, por se limitarem a uma luta de guerrilhas contra os efeitos do sistema existente, em lugar de ao mesmo tempo se esforçarem para mudá-lo, em lugar de empregarem suas forças organizadas como alavanca para a emancipação final da classe operária, isto é, para a abolição definitiva do sistema de trabalho assalariado.”

sábado, 17 de dezembro de 2011

França,1848 X Brasil,2011. Um desafio.

-->
Em janeiro de 1848 ( o ano do “Manifesto”), Marx produz um texto provocativo sobre a situação da França, naquele momento, e que é publicado no La Réforme, no dia 19. O desafio consiste em fazer um exercício de atualização do quadro para  dezembro de 2011, trocando França por Brasil, Thiers e Molé por Lupi e Wagner Rossi e Guizot adivinhe por quem ?

O que o ministério faz? — Nada.
O que a oposição parlamentar e legal faz? – Nada.
O que a França espera da atual Câmara? – Nada.
O que o Sr. Guizot quer? — Continuar ministro.
O que os Srs. Thiers, Molé e companhia querem? — Tornarem-se ministros novamente.
O que a França ganha com esse “Saia para que eu possa entrar” — Nada.
Ministério e oposição estão, então, condenados a fazer nada.
Quem irá sozinho completar a Revolução Francesa que está a caminho — O proletariado.
O que a burguesia fará para isso? — Nada.

Engels resume a "mais-valia".


Em 5 de maio de 1885, quando Marx completaria 67 anos, Engels escreve , e data, o prefácio do 2º volume de “O Capital” e faz uma curiosa comparação entre o trabalho do amigo Karl e Lavoisier. Assim como o químico francês invalidara a teoria do flogístico de Stahl, Marx submetera a teoria do valor de Ricardo a uma procedente revisão. Engels fala ainda das duas formas da mais-valia; a absoluta e a relativa e o papel “que elas desempenharam no desenvolvimento histórico da produção capitalista”. Um papel poeticamente resumido por Vinicius de Morais na canção “Berimbau” ( parceria com Toquinho) : “o dinheiro de quem não dá. É o trabalho de quem não tem”.


Assim como Lavoisier para Priestley e Scheele está Marx para os seus predecessores na teoria da mais-valia. A existência da parte de valor dos produtos, a que agora damos o nome de mais-valia, estava verificada muito antes de Marx; estava igualmente expresso, com maior ou menor clareza, em que é que ela consiste, a saber, no produto do trabalho pelo qual o apropriador não pagou um equivalente. Mas não se ia além disto. Uns — os economistas burgueses clássicos — examinavam quando muito a proporção de grandezas em que o produto do trabalho é repartido entre o operário e o possuidor dos meios de produção. Os outros — os socialistas — achavam injusta esta repartição e procuravam meios utópicos para eliminar a injustiça. Uns e outros ficaram presos nas categorias econômicas tal como as tinham encontrado.
Entrou então Marx em cena. E, de fato, em oposição direta a todos os seus predecessores. Onde estes tinham visto uma solução, ele viu apenas um problema. Ele viu que aqui não havia nem ar “desflogistizado” nem ar de fogo, mas oxigênio — que aqui não se tratava nem da mera constatação de um fato econômico nem do conflito desse fato com a justiça eterna e a moral verdadeira, mas de um fato que estava destinado a revolucionar toda a Economia e que oferecia a chave para o entendimento de toda a produção capitalista — para aquele que a soubesse usar. Com este fato em mão examinou todas as categorias já existentes, tal como Lavoisier com o oxigênio em mão examinara as categorias já existentes da química flogística (1). Para saber o que era a mais-valia ele tinha de saber o que era o valor. A própria teoria do valor de Ricardo tinha antes de tudo de ser submetida à crítica. Marx examinou portanto o trabalho na sua qualidade de criação de valor e verificou pela primeira vez qual o trabalho, e porquê, e como é que cria valor, e que o valor nada é absolutamente senão trabalho coagulado desta espécie — um ponto que Rodbertus até ao fim não compreendeu. Marx examinou depois a relação de mercadoria e dinheiro e demonstrou como e porquê, por força da propriedade de valor que lhe é inerente, a mercadoria e a troca de mercadorias têm de gerar o oposto de mercadoria e dinheiro; a sua teoria do dinheiro, fundada sobre tal base, é a primeira teoria exaustiva, e a agora tácita e geralmente aceite. Ele examinou a transformação de dinheiro em capital e provou que ela assenta na compra e venda da força de trabalho. Ao pôr aqui a força de trabalho, a propriedade criadora de valor, no lugar do trabalho, solucionou de um golpe uma das dificuldades contra que tinha soçobrado a escola de Ricardo: a impossibilidade de pôr em harmonia a troca recíproca de capital e trabalho com a lei de Ricardo da determinação do valor pelo trabalho. Ao constatar a diferenciação do capital em constante e variável, foi o primeiro que conseguiu representar até ao mais ínfimo pormenor, e desse modo explicar, o processo de criação da mais-valia no seu decurso real — o que nenhum dos seus predecessores conseguira; ele constatou portanto uma diferença dentro do próprio capital com a qual Rodbertus,  tal como os economistas burgueses, não estava em condições de fazer fosse o que fosse, mas que fornece a chave para a solução dos problemas econômicos mais intricados, do que se dá aqui de novo no Livro II — e ainda mais, como se mostrará, no Livro III — a prova mais flagrante. Aprofundou o exame da própria mais-valia, achou as suas duas formas: mais-valia absoluta e relativa, e demonstrou o papel diverso, mas em ambos os casos decisivo, que elas desempenharam no desenvolvimento histórico da produção capitalista. Sobre a base da mais-valia desenvolveu a primeira teoria racional que temos do salário do trabalho, e deu pela primeira vez os traços fundamentais de uma história da acumulação capitalista e uma representação da sua tendência histórica...”
Londres, no dia do aniversário de Marx, 5 de Maio de 1885.

(1) Segundo Ernst Stahl (1659 – 1734) os corpos combustíveis possuiriam uma matéria chamada flogisto, liberada ao ar durante os processos de combustão (material orgânico) ou de calcinação(metais). "Flogisto" vem do grego e significa "inflamável” "passado pela chama" ou "queimado". A absorção dos flogistos do ar seria feita pelas plantas.
Apesar de alguns químicos da época terem sido fascinados pela teoria e esta ter perdurado até o final do século XVIII, foi então fortemente atacada por Lavoisier (1743 – 1794).

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

FORMEN. A fuga dos servos para as cidades.


As notas de Marx (1857/58) sobre as FORMAS QUE PRECEDERAM A PRODUÇÃO CAPITALISTA ( Formen die der Kapitalistischen Produktion), comumente identificadas por FORMEN, usam uma linguagem simples e de fácil entendimento. Seguem dois pequenos trecho sobre a fuga dos servos para as cidades e a inviabilidade de sua organização.
“ Nas cidades que não chegaram à Idade Média já constituídas em Períodos anteriores, mas que foram erigidas então pelos servos que se libertavam, o trabalho privado de cada homem era sua única propriedade, independentemente do pouco capital que ele tivesse trazido consigo, consistindo este quase somente nos mais necessários instrumentos de seu ofício”
.......................................................................................................................
“ A fuga de servos para as cidades continuou, sem interrupção, através de toda a Idade Média. Estes servos, perseguidos por seus amos na área rural, chegavam isoladamente às cidades, onde encontravam uma comunidade organizada contra a qual eram impotentes, na qual eles tinham de submeter-se à posição que lhes fosse designada pela demanda de seu trabalho e pelos interesses de seus competidores urbanos organizados. Estes trabalhadores chegando separadamente, jamais eram capazes de conseguir qualquer poder, pois sendo seu trabalho do tipo corporativo que devia ser aprendido, os mestres das guildas dobravam-nos a seu talante e os organizavam conforme seus interesses; ou, sendo seu trabalho de outra natureza, que não necessitasse de aprendizado e, portanto, não pertencente ao tipo corporativo, transformavam-se em diaristas e jamais conseguiam organizar-se, permanecendo na condição de massa desorganizada.”


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Marxismo. Uma família de Sistemas?


Em 1997, Carlo Violi reúne textos de Norberto Bobbio ( 1909-2004) sob o titulo “Nem com Marx, nem contra Marx”. Na Introdução, Violi afirma que Bobbio teria declarado, diversas vezes “não ser nem marxista e nem anti-marxista, e que sempre considerou Marx um clássico com quem se deveria acertar as contas”. Selecionei um trecho sobre a renovação do marxismo, “a cada crise”.
“A cada crise o marxismo renasceu e renovou-se, cortando ramos secos e enxertando outros novos. Disso derivaram diversos marxismos, muitas vezes em violento contraste entre si. O marxismo não é mais, e na verdade nunca foi, um sistema: é uma família de sistemas, entre os quais as relações são frequentemente litigiosas, como aliás ocorre nas melhores famílias. As estratégias para sair das diversas crises foram principalmente duas: o enxerto do pensamento de Marx nas filosofias de tempos em tempo dominantes – positivismo, neokantismo, existencialismo, fenomenologia, estruturalismo e o recém-nascido, o marxismo analítico norte-americano – ou o retorno a um marxismo originário, autêntico, distorcido pelos vários intérpretes infiéis, que deve ser libertado dos numerosos “mal-entendidos” que impediram a sua compreensão autêntica.”

domingo, 11 de dezembro de 2011

"Karl Marx tinha razão"(Nouriel Roubini)

-->
A frase titulo é de Nouriel Roubini em entrevista ao Wall Street Journal, em 11 de agosto de 2011 - vide url de acesso ao vídeo, de 22 minutos, com a íntegra da entrevista ao final da postagem – onde fala dos riscos de uma recessão global. Roubini é o economista de origem turca (Istambul, março/1959) que ficou conhecido como “Dr. Catástrofe” ao prever a crise de 2008, no início dos anos 2.000. Selecionei um trecho onde ele se refere à “autodestruição” do capitalismo, Roubini se refere, ainda, ao déficit brutal criado pela administração Bush e herdada por Obama.
“Karl Marx tinha razão. Em algum momento, o capitalismo pode se auto-destruir. Você não pode continuar a mudar os rendimentos do trabalho para o capital, sem ter um excesso de capacidade e falta de demanda agregada. Foi o que aconteceu. Nós pensamos que os mercados funcionaram. Eles não estão funcionando. O individual pode ser racional. Mas, a empresa, para sobreviver e prosperar,  empurra os custos do trabalho mais e mais para baixo, e os custos da mão de obra repercutem na renda e no  consumo. E, por isso, é um processo auto-destrutivo.” Vide a íntegra da entrevista no link abaixo:

sábado, 10 de dezembro de 2011

Karl Marx -uma chance de salvar a economia mundial ?

-->
Em agosto de 2011, George Magnus – consultor sênior da União de Bancos Suíços (UBS) – publica artigo no site da Bloomberg com o titulo “Give Marx a chance to save de world economy”. Nas semanas seguintes, o texto é traduzido para múltiplos idiomas e reproduzido nos mais diversos meios. No Brasil, foi publicado na Carta Capital e no site outraspalavras, com traduções diferentes. Selecionei um trecho muito interessante ( url da íntegra no final, juntamente com a do original, em inglês) onde uma citação de O Capital - “a razão última de todas as crises reais ainda é a pobreza e o consumo restrito das massas” – evidencia a afinação de Dona Dilma com o velho Karl, nos esforços para fazer da crise uma “marolinha”.
O paradoxo do excesso de produção
Marx também apontou o paradoxo de um excesso de produção e de baixo consumo: quanto mais trabalhadores permaneçam relegados à pobreza, menos serão capazes de consumir todos os bens e serviços que as empresas produzem. Quando uma empresa reduz os custos para aumentar o lucro, está sendo esperta; mas quando todas as empresas fazem isso ao mesmo tempo, minam a distribuição da renda e a demanda efetiva dos que dependem dos salários.
Este problema também é evidente no mundo desenvolvido de hoje. Temos uma capacidade substancial de produção. Porém, nas classes de baixa e média renda, encontramos uma insegurança financeira generalizada e baixas taxas de consumo. O resultado é visível nos Estados Unidos, onde a construção de novas habitações e as vendas de automóveis permanecem cerca de 75% e 30% abaixo de seus picos de 2006, respectivamente. Como dizia Marx em O Capital: “a razão última de todas as crises reais ainda é a pobreza e o consumo restrito das massas”
 Diante da crise
Como enfrentar esta crise? Para colocar o espírito de Marx em ação, os dirigentes políticos devem ter como prioridade a criação de postos de trabalho, e considerar outras medidas pouco ortodoxas. A crise não é temporária, e certamente não vai se curar pela paixão ideológica dos governos pela austeridade.”

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O primeiro aniversário da Comuna.


Reunião do Conselho Geral da Internacional, em 20 de fevereiro de 1872, acolheu a sugestão de George Jung ( não confundir com o Carl !!!) de promover um comício em 18 de março para celebrar o 1º aniversário da Comuna de Paris. Porém, na última hora, o dono do local onde ocorreria o evento se negou a ceder o imóvel. Mesmo assim, uma reunião foi realizada para comemorar o aniversário da primeira revolução proletária e foram adotadas as 3 resoluções redigidas por Marx:
“A reunião para celebrar o aniversário do 18 de Março de 1871 tomou as seguintes resoluções:
I
Considera o glorioso movimento inaugurado em 18 de Março como a aurora da grande revolução social que libertará para sempre a humanidade do regime das classes.
II
Declara que as inépcias e os crimes das classes burguesas, unidas em toda a Europa no seu ódio aos trabalhadores, condenaram à morte a velha sociedade, quaisquer que sejam as suas formas de governo, monárquicas ou republicanas.
III
Proclama que a cruzada de todos os governos contra a Internacional e o terrorismo, tanto dos assassinos de Versalhes, assim como o dos seus vencedores prussianos, comprovam a inabilidade dos seus êxitos e afirmam a presença do exército ameaçador do proletariado universal por detrás da sua heróica vanguarda esmagada pelas forças combinadas de Thiers e de Guillaume.”

O "messianismo proletário" de Marx.


A ousada afirmativa do titulo está contida em palestra do pensador junguiano David Holt (1926-2002), proferida na Royal Society of Medicine, em 21 de novembro de 1974.
Holt, que se confessa um conservador com “c” grande e pequeno, afirma que Marx “introduziu em sua análise econômica expectativas messiânicas”, fruto de sua formação judaico-cristã. Essas expectativas, das quais ele estaria - segundo Holt, inconsciente - o levaram a sacramentar o proletariado como “o povo escolhido”.
Holt vai buscar em Hegel a base de sua ousada afirmativa:
“Como a visão de Marx se relaciona com a história longa e confusa da psicologia messiânica judaico-cristã? Eu acho que a maioria dos estudantes de história das idéias concorda que a resposta está na filosofia de Hegel, e na forma utilizada por Marx ao alterar esta filosofia. Certamente foi na obra de Hegel que eu encontrei a minha primeira ponte de Marx  para Jung, 25 anos atrás.
Jung escreveu sobre filosofia de Hegel:
A vitória de Hegel sobre Kant consistiu no mais grave golpe na razão e no desenvolvimento da mentalidade germânica e, em última análise, da mentalidade européia, o mais perigoso é que Hegel era um psicólogo disfarçado que projetou grandes verdades fora da esfera subjetiva em um cosmos que ele mesmo havia criado.”

sábado, 3 de dezembro de 2011

1848. O ano do Manifesto e das irmãs Fox.



O site Pensamento Social Espírita publica, em janeiro de 2011, um interessante e didático estudo de Ricardo Nunes intitulado “Breve Estudo Comparativo sobre a Reflexão Socialista de Léon Denis e Manuel Porteiro”. Denis foi o grande ideólogo do espiritismo da geração pós Kardec, socialista, mas crítico do velho Karl, afirma que “Espiritismo e Socialismo estão unidos por laços estreitos, visto que um oferece ao outro o que lhe falta a mais...”
 Segue abaixo o texto introdutório do Estudo e a url para acessar a íntegra.

“Ao século 19 coube a honra de ver o surgimento de duas poderosas filosofias, as quais iriam influenciar profundamente o século seguinte: o Espiritismo e o Marxismo. Curiosamente, o ano de 1848 foi determinante para estas duas doutrinas filosóficas, uma vez que é justamente no referido ano que surge o famoso “Manifesto Comunista”, de Marx e Engels, sendo que, na mesma data, no vilarejo de Hydesville, Estado de Nova York - EUA, se estabelece a comunicação dos espíritos com os homens na era moderna através das irmãs Fox.

Marxismo e Espiritismo, filosofias com pretensões científicas, verdadeiramente revolucionárias no que tange à compreensão do homem e do mundo. Doutrinas de ruptura com o passado, tanto no que diz respeito a um inédito entendimento da vida do homem em sociedade, em seus aspectos políticos, econômicos e sociais, quanto no que se refere a uma nova concepção da natureza humana, na qual o aspecto espiritual, no caso do Espiritismo, é positivamente demonstrado e reconhecido como componente essencial do ser. “
Para ler a íntegra acesse: http://www.viasantos.com/pense/arquivo/1317.html


sábado, 26 de novembro de 2011

Marx, Adam Smith e Keynes. Parte 7

-->
A mais eficaz medida de interesse por um tema na web é o numero de “resultados” em uma busca no Google. Em 6 de janeiro de 2011, eram os seguintes os resultados para Marx – 24,4 milhões; Adam Smith – 11 milhões e Keynes – 13,5 milhões.  Em 3 de março os números eram Marx – 48,7 milhões; Adam Smith – 14,8 milhões; Keynes – 22,3 milhões. Em 18 de maio, Marx – 50,9 milhões; Adam Smith – 15,3 milhões; Keynes – 33,7 milhões. Em 26 de novembro, Marx – 91 milhões; Adam Smith – 28 milhões; Keynes – 47,7 milhões.
A cada dia, o velho Karl é mais revisitado !!!!!!!

 

Marx na moda.

-->
A crise de 2007/2009 promoveu mais um renascimento de Marx. A nova crise 2011/20?? está trazendo o velho Karl ao centro dos debates sobre o futuro (futuro?) do capitalismo. Nesta sexta-feira, 25/11/11, o conservador jornal de economia Valor Econômico aproveita a comemoração dos 20 anos do “esfacelamento da URSS” para ocupar a capa de seu caderno “EU & Fim de Semana” com a chamada “Os Marx. A história da vida privada de um revolucionário”. Na matéria de Cyro Andrade - de 6 páginas – vale destacar os “olhos”: 1. “Marx e Engels mostraram que sua teoria investigava a realidade da época e apontava para uma direção que poderia mudar com a história.” 2. “Marx e Engels preocupavam-se com leituras equivocadas de suas ideias  no futuro – e por isso se documentavam, escrevendo.” Na entrevista com Mary Gabriel, autora de livro sobre a vida amorosa de Marx e Jenny ( sua mulher), um trecho interessante: “Penso que Jenny também ajudou a fazer de Marx mais que um filósofo. Sua influência, com a de Engels, ampliou sua perspectiva de modos muito importantes. Ela injetou um pouco de poesia na vida de Marx e, por extensão, em seus escritos”.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Marxismo e Espiritismo.


Em 1969, Jocob Holzmann Netto (1934-1994) publica o livro com o titulo acima, que , em 1970, tem sua edição digital do PENSE – Pensamento Social Espírita  (viasantos,com/pense). Segue um trecho interessante em que o autor reduz o “socialismo científico” ao estágio da  ciência no tempo de Marx.

“Karl Marx, ao erigir o socialismo que ele classificou de científico em contraposição ao socialismo utópico de seus precursores, julgou ser irreconciliável o socialismo com a realidade espiritual do homem; contudo, ao contrário do que ele supôs, o materialismo não          é de modo algum essencial nem ao socialismo e nem à ciência, e é mesmo uma lástima que a palavra socialismo esteja hoje comprometida com a ideologia marxista como um todo, pois que a comunidade de bens, ou propriedade coletiva, antes que ao marxismo pertence, como sistema social,ao primitivo cristianismo. Marx e Engels criaram o socialismo científico sobre os alicerces          da ciência de sua época; por isso, suas teorias assumiram uma forma necessariamente materialista. Aplicando-se unicamente à consideração do mundo material, que é apenas um dos aspectos da realidade, a ciência do século XIX foi materialista e, além de materialista, foi também dogmática, como dogmático é o marxismo. Hoje, porém, a ciência enfrenta problemas e enigmas antes insuspeitados e que a forçam a abandonar sua crença acentuadamente materialista: a técnica moderna pôs o homem em contacto com aspectos novos da realidade e, em face da Física quântica e da teoria da relatividade, até o conceito clássico de matéria perde seu sentido e sua razão de ser; a Medicina é agora psicossomática; tanto a Biologia quanto a Psicologia tiveram de se defrontar com a realidade da psique, que se expressa além da conduta e dos processos fisiológicos; e a Parapsicologia, provando que a mente transcende a matéria e independe de suas leis, está a um passo de admitir, por decorrência lógica de suas premissas, a sobrevivência do psíquico ao material. Despojada assim do dogma do materialismo absoluto, a ciência moderna deslegitima o marxismo como base única e indiscutível para o socialismo.”