domingo, 27 de março de 2011

Trotsky. A visão crítica do Manifesto. Parte 7


Em outubro de 1937, Trotsky escreve o prefácio da edição Sul-Africana do Manifesto de 1848 e faz uma serena e sensata revisão critica de partes do Manifesto. Neste 7º trecho selecionado, Trotsky justifica porque o Manifesto “esquece” a luta dos povos coloniais pela independência e afirma que o mérito da estratégia da luta para os colonizados, é de Lênin.
“7. Mostrando como o capitalismo arrebanha em seu turbilhão os países atrasados e bárbaros, o Manifesto nada diz a respeito da luta dos povos coloniais e semi-coloniais pela sua independência. À medida que Marx e Engels pensavam que a vitória da revolução socialista, "nos países civilizados pelo menos", era uma questão a ser resolvida nos anos seguintes, o problema das colônias resolver-se-ia igualmente não como o resultado de um movimento autônomo dos povos oprimidos, mas, simplesmente, como a conseqüência da vitória do proletariado nas metrópoles capitalistas. Esta é a razão pela qual as questões da estratégia revolucionária nos países coloniais e semi-coloniais nem mesmo estão esboçadas no Manifesto. Mas elas exigem soluções particulares. Dessa forma, é evidente que se a "pátria nacional" se tornou o pior obstáculo à revolução proletária nos países capitalistas avançados mantém-se ainda como um fator relativamente progressista nos países atrasados que são obrigados a lutar por sua existência nacional independente. "Os comunistas, declara o Manifesto, apoiam, em todos os países, qualquer movimento revolucionário contra a ordem social e política existente. " O movimento das raças de cor contra os opressores imperialistas é um dos mais poderosos e importantes movimentos contra a ordem social existente e é esta a razão pela qual necessita do total apoio, indiscutível e sem reticências, do proletariado de raça branca. O mérito de haver desenvolvido a estratégia revolucionária dos povos oprimidos é, sobretudo, de Lênin.”

quinta-feira, 17 de março de 2011

Erich Fromm. Socialismo era movimento espiritual.


Erich Fromm, em seu “Meu Encontro com Marx e Freud” mostra os pontos de contato entre as duas doutrinas: a psicanálise e o marxismo. Faz algumas afirmativas originais, como classificar os primeiros cinquenta ou sessenta anos de socialismo como “o movimento espiritual mais importante e autêntico do mundo ocidental”.
“A teoria marxista, bem como o movimento socialista, era radical e humanista – radical no sentido acima mencionado de ir às raízes,sendo estas o homem; humanista no sentido de ser o homem a medida de todas as coisas, que sua plena realização deve ser a finalidade e o critério de todos os esforços sociais. A libertação do homem da pressão das condições econômicas que impediam seu desenvolvimento pleno era o objetivo de todos os pensamentos e esforços de Marx. O socialismo, naqueles primeiros cinquenta ou sessenta anos, era – embora não usasse linguagem teológica – o movimento espiritual mais importante e autêntico do mundo ocidental.”

domingo, 13 de março de 2011

Trotsky. A visão crítica do Manifesto. Parte 6


Em outubro de 1937, Trotsky escreve o prefácio da edição Sul-Africana do Manifesto de 1848 e faz uma serena e sensata revisão critica de partes do Manifesto. Neste 6º trecho selecionado, Trotsky mostra o equívoco do prognóstico de que “a revolução burguesa alemã seria o prelúdio da revolução proletária”.

“6. Para justificar a esperança de que "a revolução burguesa alemã... será o prelúdio da revolução proletária", o Manifesto cita que as condições gerais da civilização européia de então, assim como do proletariado, eram bem mais desenvolvidas do que na Inglaterra do Século XVII ou na França do Século XVIII. O erro deste prognóstico não está apenas na questão do prazo, Alguns meses mais tarde, a Revolução de 1848 mostrou, precisamente, que, em presença de condições mais avançadas, nenhuma das classes burguesas é capaz de levar a revolução até o fim: a grande e a média burguesia estão muito ligadas aos proprietários fundiários e muito unidas pelo medo das massas; a pequena burguesia muito dispersa e seus dirigentes muito dependentes da grande burguesia. Como demonstrou a posterior evolução dos acontecimentos na Europa e na Ásia, a revolução burguesa, em si mesma, não mais pode realizar-se. A purificação da sociedade dos males feudais só é possível se o proletariado, liberto das influências dos partidos burgueses for capaz de se colocar à frente do campesinato e estabelecer sua ditadura revolucionária. Em função disso, a revolução burguesa mescla-se com a primeira fase da revolução socialista para, nesta, dissolver-se em seguida. A revolução nacional torna-se, assim, apenas um elo da revolução proletária internacional. A transformação dos fundamentos econômicos e de todas as relações sociais adquirem um caráter permanente.
Para os partidos revolucionários dos países atrasados da Ásia, América Latina e África, a compreensão clara da relação orgânica entre a revolução democrática e a revolução socialista internacional é uma questão de vida ou morte.”

A "falência" da moderna filosofia burguesa.


Em novembro de 2010, Alan Woods produz longo texto de análise da “crise final” do capitalismo, iniciada nos EUA e que contamina toda a Europa. Em “Porque somos marxistas”, o novo ideólogo de Chávez, faz algumas afirmativas surrealistas:

“Em nenhuma outra esfera a crise da ideologia burguesa é mais transparente do que no campo da filosofia. Em seus estágios iniciais, quando a burguesia representava o progresso, ela foi capaz de produzir grandes pensadores: Hobbes e Locke, Kant e Hegel. Mas no estágio de sua decadência senil, a burguesia é incapaz de produzir grandes idéias. Na verdade, ela é absolutamente incapaz de produzir quaisquer idéias.
Tornada incapaz de produzir generalizações ousadas, a moderna burguesia nega o próprio conceito de ideologia. É por essa razão que os pós-modernistas falam do “fim da ideologia”. Eles negam o conceito de progresso simplesmente porque sob o capitalismo nenhum progresso subseqüente é possível. Engels uma vez escreveu: “A filosofia e o estudo do mundo atual têm a mesma relação entre si que a masturbação e o amor sexual”. A moderna filosofia burguesa prefere a masturbação ao amor sexual. Em sua obsessão por combater o marxismo, ela arrastou a filosofia para o pior período de seu velho, desgastado e estéril passado.”

sábado, 12 de março de 2011

Kautsky e a "inconsciência" do proletariado


Karl Kautsky - quem o contesta? – foi o teórico mais conhecido da 2ª Internacional e considerado, justamente, uma autoridade em marxismo. Editor da Revista Die Neue Zeit, por ele fundada em 1883 ( ano da morte de Marx), escreveu em 1901, um provocante artigo – “Um Elemento importado” onde faz contundente critica aos que interpretam o pensamento de Marx afirmando que o desenvolvimento do capitalismo cria, no proletariado, a consciência socialista. “isso é inteiramente falso”, afirma Kautsky.

“Vários de nossos críticos revisionistas atribuem a Marx a  afirmação de que o desenvolvimento econômico e a luta de classes não apenas criam condições para a produção socialista mas também geram diretamente a consciência de sua necessidade. Depois, estes mesmos críticos objetam que a Inglaterra, país de desenvolvimento capitalista mais avançado, é a mais alheia a essa consciência. O projeto de programa austríaco partilha também deste ponto de vista, supostamente marxista ortodoxo, que refuta o exemplo da Inglaterra. O projeto diz: "Quanto mais o proletariado aumenta, em conseqüência do desenvolvimento capitalista, mais é coagido e tem possibilidade de lutar contra o capitalismo. O proletariado chega à consciência da possibilidade e da necessidade do socialismo. Em conseqüência, a consciência socialista seria resultado necessário, direto, da luta de classes do proletariado”. Isso é inteiramente falso.
Como doutrina, o socialismo tem, evidentemente, suas raízes nas relações econômicas atuais no mesmo grau que a luta de classes do proletariado; da mesma forma que a última, ele decorre da luta contra a pobreza e a miséria das massas, geradas pelo capitalismo. Mas o socialismo e a luta de classes surgem e não se engendram um do outro; surgem de premissas diferentes. A consciência socialista, hoje, só pode brotar na base de um profundo conhecimento científico.”

quarta-feira, 9 de março de 2011

Marx e a "Unificação dos Crentes em Cristo".


Pouco se conhece da juventude de Marx. Selecionei dois textos para uma reflexão inicial. O primeiro do site “Mundo dos Filósofos” e o segundo do blog “heterodoxo-relapso” ( em espanhol).
De sua juventude não se sabe nada significativo. É apenas interessante observar que o futuro ateísta fanático tenha escrito um ensaio de conclusão do curso secundário sobre o tema “A Unificação dos Crentes em Cristo”.”

Buena prueba de la ausencia de aquella influencia religiosa es el segundo de los tres ejercicios escolares que tuvo que presentar para aprobar su bachillerato. Se titulaba Una demostración, según el evangelio de San Juan, de la naturaleza, necesidad y efectos de la unión de los creyentes de Cristo. Expresa todavía la persistencia confesional del cristianismo que imperaba en el ambiente escolar que, en todo caso, no era el judaísmo sino el protestantismo, también minoritario en Tréveris, donde la mayoría era católica.”

terça-feira, 8 de março de 2011

Marx versus Freud parte 2


No site www.perfeicao.org, Glauber Ataíde reproduz um texto de Freud, onde ele revela que conhece pouco o marxismo e desfaz o principal conflito com a psicanálise:
"Sei que os meus conhecimentos sobre o marxismo não revelam nenhuma familiaridade maior, não mostram uma compreensão adequada dos escritos de Marx e Engels. Fiquei sabendo mais tarde, com certa satisfação, que nem um nem o outro negaram a influência dos fatores do ego e do superego. Isso desfaz o principal conflito que eu pensava existir entre o marxismo e a psicanálise.
Esta última citação eu extraí do livro "O marxismo na batalha das idéias", de Leandro Konder, p. 111.”

Marx versus Freud parte 1


Moishe Postone, professor de história da Universidade de Chicago, tem despertado a ira dos marxistas ortodoxos. Tenho dedicado algumas postagens a Postone, que, em setembro de 2010, foi um dos palestrantes do Congresso Marx Internacional, na Sorbonne. No trecho a seguir, extraído de “ Necessidade, Tempo e Trabalho” o marxólogo faz uma análise brilhante dos paralelos entre a “noção de história da formação capitalista e a noção de história individual, em Freud”.  (íntegra do texto em htpp://obeco.no.sapo.pt/mpt2.htm)

“Tenho a impressão de que existe um paralelo entre esta noção de história da formação social capitalista e a noção de história individual, em Freud, em que o passado não aparece como tal, mas sob uma forma velada e internalizada, que domina o presente. A tarefa da psicanálise é desvelar o passado de tal forma que sua apropriação se torne possível. O momento necessário de um presente compulsivamente repetitivo é assim destruído – o que permite ao indivíduo ir para o futuro. Este paralelo merece maior investigação, de forma a determinar se é meramente contingente ou se poderia servir como ponto de partida de uma tentativa de estabelecer uma mediação entre a história do indivíduo e aquela da formação social.”

quinta-feira, 3 de março de 2011

Marx X Adam Smith X Keynes parte 2


A mais eficaz medida de interesse por um tema na web é o numero de “resultados” em uma busca no Google. Às 17 horas de 6 de janeiro de 2011, eram os seguintes os resultados para Marx – 24,4 milhões; Adam Smith – 11 milhões e Keynes – 13,5 milhões.  Às 23 horas de 3 de março de 2011 os números eram Marx – 48,7 milhões; Adam Smith – 14,8 milhões; Keynes – 22,3 milhões. A cada dia, o velho Karl é mais revisitado !!!!!!!