quinta-feira, 30 de março de 2017

Marx antecipa um conflito do século 21 - imigrantes e desemprego


Em dezembro de 1878, aos 60 anos, Marx concede longa entrevista ao correspondente do The Chicago Tribune. Segue um trecho em que o alemão antecipa os conflitos dos refugiados, no século 21. Uma leitura para Trump e a primeira ministra do Reino Unido.
“Tribune - O que o socialismo conseguiu até hoje?
Marx - Duas coisas: os socialistas demonstraram que, em toda parte, uma luta geral opõe o Capital ao Trabalho, em suma, demonstraram seu caráter cosmopolita. Em consequência, procuraram efetivar um acordo entre os trabalhadores de diversos países. Este acordo é tanto mais necessário visto que os capitalistas se tornam cada vez mais cosmopolitas. Não é somente na América, mas também na Inglaterra, França e Alemanha, que trabalhadores estrangeiros são empregados para serem utilizados contra os trabalhadores do próprio país. Criaram-se, imediatamente, vínculos internacionais entre os trabalhadores de diversos países. Eis o que provou que o socialismo não era unicamente um problema local, mas, antes, um problema internacional, que deve ser resolvido pela ação igualmente internacional dos trabalhadores. A classe operária põe-se espontaneamente em movimento, sem saber para onde o movimento a conduzirá. Os socialistas não criaram o movimento, mas explicaram aos operários seu caráter e seus objetivos.”
Uma curiosidade: Segue a versão original da introdução da reportagem.

London, December 18 [1878] – In a little villa at Haverstock Hill, the northwest portion of London, lives Karl Marx, the cornerstone of modern socialism. He was exiled from his native country – Germany – in 1844, for propagating revolutionary theories. In 1848, he returned, but in a few months was again exiled. He then took up his abode in Paris, but his political theories procured his expulsion from that city in 1849, and since that year his headquarters have been in London. His convictions have caused him trouble from the beginning. Judging from the appearance of his home, they certainly have not brought him affluence. Persistently during all these years he has advocated his views with an earnestness which undoubtedly springs from a firm belief in them, and, however much we may deprecate their propagation, we cannot but respect to a certain extent the self-denial of the now venerable exile.

segunda-feira, 27 de março de 2017

A burguesia em 1848.

Em janeiro de 1848, antecipando as revoluções que iriam sacudir a Europa no desenrolar daquele ano, Marx/Engels publicam o Manifesto do Partido Comunista. Seguem alguns trechos sobre o papel da burguesia:
“A burguesia desempenhou na história um papel altamente revolucionário.
A burguesia, lá onde chegou à dominação, destruiu todas as relações feudais, patriarcais, idílicas. Rasgou sem misericórdia todos os diversos laços feudais que prendiam o homem aos seus superiores naturais e não deixou outro laço entre homem e homem que não o do interesse nu, o do insensível "pagamento a pronto". .......................................................
“A burguesia despiu da sua aparência sagrada todas as atividades até aqui veneráveis e consideradas com pia reverência. Transformou o médico, o jurista, o padre, o poeta, o homem de ciência em trabalhadores assalariados pagos por ela.” .............................................................................................................................................

“A burguesia pôs a descoberto como a brutal exteriorização de força, que a reação tanto admira na Idade Média, tinha na mais indolente preguiça o seu complemento adequado. Foi ela quem primeiro demonstrou o que a atividade dos homens pode conseguir. Realizou maravilhas completamente diferentes das pirâmides egípcias, dos aquedutos romanos e das catedrais góticas, levou a cabo expedições completamente diferentes das antigas migrações de povos e das cruzadas.”

sábado, 25 de março de 2017

Lembrete para Trump....

No prefácio da edição alemã de 1890 do Manifesto Comunista, Engels registra como a emigração europeia possibilitou o desenvolvimento gigantesco da agricultura e da indústria dos EUA. Segue o trecho:
“Hoje, tudo mudou radicalmente. A emigração europeia possibilitou esse  desenvolvimento gigantesco da agricultura norte-americana, cuja  concorrência, está minando os alicerces tanto da grande quanto da pequena propriedade fundiária na Europa. Além disso, permitiu aos Estados Unidos a possibilidade de entregar-se à exploração dos seus abundantes recursos industriais  com tanta energia, e em tal escala, que, num curto espaço de tempo, deve que pôr fim ao monopólio industrial hoje desfrutado pela Europa Ocidental. E estas duas circunstâncias, por sua vez, repercutiram também sobre a própria América de maneira revolucionária. A propriedade fundiária pequena e média do lavrador que trabalha sua própria terra  sofre cada vez mais a concorrência dos lavradores-gigantes, enquanto, simultaneamente, começam a se  formar, pela primeira vez, nos distritos industriais, um proletariado numeroso e uma fabulosa concentração de capitais.”



sexta-feira, 24 de março de 2017

Ação revolucionária do capitalismo.

O prefácio de Engels – fevereiro de 1893 ( 10 anos após a morte de Marx) -  à edição italiana de 1893  do "Manifesto" enfatiza a ação revolucionária do capitalismo, na “saída” do feudalismo. Segue o parágrafo final.
“O Manifesto Comunista presta plena justiça à ação revolucionária do capitalismo no passado. A primeira nação capitalista foi a Itália. O termo da Idade Média feudal, o limiar da era capitalista moderna, está assinalado por uma figura gigantesca É um italiano - Dante, ao mesmo tempo o último poeta da Idade Média e o primeiro poeta moderno. Hoje, como em 1300, uma nova era histórica se destaca. Produzir-nos-á a Itália o novo Dante que assinalará a hora do nascimento desta era proletária?
London, 1 de Fevereiro de 1893.

Friedrich Engels

domingo, 19 de março de 2017

Fetichismo by Marshall Berman

Marshall Berman iniciou sua carreira de marxista desde garoto ao ler os “Manuscritos Econômico-Filosóficos”. Selecionei alguns trechos interessantes de seu “Aventuras no Marxismo” sobre o Fetichismo da Mercadoria – a contribuição original de Marx para entender, em 1867, a futura sociedade do consumo.

“ O fetichismo das mercadorias é um mito determinista criado para conservar a ordem vigente, convencendo as pessoas que nela vivem de que não tem como agir diferentemente. Imaginando-se privados de liberdade, os homens se transformam em homens sem liberdade: sua profecia de impotência se autoconcretiza.”

“ O fetichismo, portanto, impregna a exuberância juvenil do capitalismo de um fervor religioso – e de uma ingenuidade religiosa; o desencantamento surge com a plenitude dos anos e pode afrouxar o passo, mas deixa uma nova liberdade em sua esteira.”

“Homens movidos pelo “fetichismo”, seja ele religioso, político ou econômico, avançam cegamente, como locomotivas em alta velocidade numa trilha única; colidem e destroem-se uns aos outros, isso é algo que simplesmente não têm como evitar, não há nada a fazer.”