quarta-feira, 29 de julho de 2015

O Mundo de Hegel - 1770 a 1831

A introdução de Robert S. Hartman à “Razão da História”, de Hegel, faz uma criativo resumo das transformações do mundo do nascimento à morte do autor.

“Poderemos encontrar as muitas influências da filosofia de Hegel indicadas na constelação histórica no ano de seu nascimento, 1770. Naquele ano, Maria Antonieta, a radiante arquiduquesa da Áustria, casava-se com o apático delfim da França. Em Ajácio, Napoleão, o segundo filho de Letícia Bonaparte, acabava de aprender a andar. O capitão Cook completava sua primeira viagem em torno do mundo. Em Boston, Massachusetts, nos Estados Unidos, alguns soldados ingleses atiraram em uma multidão de colonos. Em Kõnigsberg, na Alemanha, um idoso Privatdozent ( livre-docente), chamado Immanuel Kant, lia uma dissertação a respeito da forma e dos princípios dos mundos da inteligência e da sensibilidade e da situação do homem entre ambos. No outro lado da Alemanha, em Estrasburgo, um jovem estudante, Goethe, escreveu alguns poemas que varreram toda a Alemanha para dentro de seu amor sensual por Friederike de Sesenheim. Um pouco mais tarde o romance de seu segundo amor, Os sofrimentos do jovem Werther, varria o mundo inteiro, até a China, em uma onda de suicídios românticos. Na França, naquele mesmo ano, o barão de Holbach publicou um tratado mostrando que o mundo, longe de ser um lugar romântico, nada era senão um grande mecanismo automático. Quando Hegel morreu em 1831, o corpo decapitado de Maria Antonieta jazia numa vala comum em Paris. Napoleão e a Revolução haviam percorrido seus caminhos. Os ingleses e a revolução de Metternich haviam se encarregado do grande homem. A república norte-americana tomara seu lugar entre as potências e seus navios velozes percorriam os Sete Mares. Goethe serenamente observava uma vida de mil conflitos fundida em forma clássica e selava seu épico de Fausto, o homem universal que transcende o mundo da sensualidade. Holbach estava fora de moda, mas um garoto de treze anos em Trier, Karl Marx, nascido no ano em que Hegel se tornara professor de filosofia na Universidade de Berlim, já começava a descobrir a filosofia – que significava Hegel – e logo iria ressuscitar Holbach em uma forma mais dinâmica do que todo o romantismo e que varreria o mundo, até a China, com uma paixão do intelecto mais poderosa do que qualquer coisa que Werther tenha conhecido.

A visão hegeliana de Engels.

Selecionei um pequeno trecho da resenha de Engels da obra de Marx “Contribuição à Crítica da Economia Política” (1859), onde fica claríssima a sua admiração por Hegel.

“ O que distinguia o modo de pensar de Hegel do de todos os outros filósofos era o enorme sentido histórico que lhe estava subjacente. Por abstrata e idealista que fosse a forma, o desenvolvimento do seu pensamento não deixava de ir sempre em paralelo com o desenvolvimento da história universal, e esta última, propriamente, não deverá ser senão a prova do primeiro. Ainda que, por este facto, a relação correta tenha sido também invertida e posta de pernas para o ar, o seu conteúdo real penetrou, contudo, por todo o lado, na filosofia; tanto mais que Hegel se diferenciava dos seus discípulos em que não se gabava, como eles, da sua ignorância, mas era uma das cabeças mais sábias de todos os tempos. Foi ele o primeiro a procurar mostrar um desenvolvimento, um encadeamento interno, na história e, por estranha que agora muita coisa na sua filosofia da história nos possa parecer, a grandiosidade da própria visão fundamental é ainda hoje digna de admiração, quando se lhe comparam os seus predecessores ou mesmo aqueles que depois dele se permitiram reflexões universais sobre a história. Na Fenomenologia, na Estética, na História da Filosofia, por toda a parte perpassa esta grandiosa concepção da história e, por toda a parte, a matéria é tratada historicamente, numa conexão determinada, ainda que também abstratamente distorcida, com a história.”

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Sufrágio Universal. Engels & Delfim.


Em 6 de março de 1895, 5 meses antes de sua morte (5/8/1895), Engels produz um de seus mais amadurecidos ensaios, ao fazer a introdução de mais uma edição alemã da “A Luta de Classes na França”. O texto, tb conhecido como o “testamento de Engels”, faz a defesa do sufrágio universal. Selecionei alguns trechos e, a seguir, comentários de Delfim Netto no Valor Económico sobre o mesmo tema, passados 120 anos. Coincidências ??!!!

“O modo de luta de 1848 está hoje ultrapassado em todos os aspectos.” “Com esta utilização vitoriosa do sufrágio universal entrará em ação um modo de luta totalmente novo do proletariado, modo de luta esse que rapidamente se desenvolveu.” ”A ironia da história universal põe tudo de cabeça para baixo. Nós, os "revolucionários", os "subversivos", prosperamos muito melhor com os meios legais do que com os ilegais e a subversão.” Engels  6 de março de 1895

“ O grande adversário foi criado pela organização política do trabalho que recusou sua completa mercantilização e inventou o sufrágio universal, o mais poderoso instrumento civilizador dos mercados”. Delfim Netto 3 de março de 2015

“A  isso se chamou  “capitalismo” que não é uma coisa, mas um processo histórico que sobreviveu porque o poder econômico do capital foi relativizado pela invenção do sufrágio universal que produz um viés politico a favor do trabalho. Ele nem é eterno, nem perfeito.”  Delfim Netto  7 de julho de 2015



domingo, 5 de julho de 2015

Engels e a China de 1857.

Em artigo publicado em 22 de maio de 1857 no New York Daily Tribune, Engels antecipa “o dia em que uma nova era se abrirá para toda a Ásia”.
“Uma coisa é certa: a última hora da velha China se aproxima rapidamente. A guerra civil já separou o sul do norte do Império e o rei rebelado em Nankin parece tão seguro em relação às tropas imperiais (a não ser face às intrigas de seus próprios correligionários) quanto o Imperador celeste o está em relação aos rebelados em Pequim. Cantão sustenta então, até o presente, um tipo de guerra independente contra os ingleses e todos os estrangeiros em geral; e enquanto as frotas e as tropas britânicas e francesas afluem a Hong-Kong, os cossacos da fronteira da Sibéria avançam lentamente e de modo seguro seus stanitsas dos montes Daours até os rios do Amour e a infantaria de marinha russa cerca com fortificações os esplêndidos portos da Mandchúria. O próprio fanatismo dos chineses do sul na sua luta contra os estrangeiros parece marcar a consciência do perigo supremo que ameaça a velha China; em poucos anos nós seremos testemunhas da agonia do mais velho Império do mundo e do dia em que uma nova era se abrirá para toda a Ásia.”