terça-feira, 11 de outubro de 2016

Reminiscência de um socialismo infantil...

Em sua coluna de hoje/11, no Valor Econômico, Delfim Netto, mais uma vez, faz referência (duas) a Marx. Com o título acima, faz um passeio pela evolução de suas convicções e registra que aos 17 anos era um “convicto socialista Fabiano”. Segue o trecho final do artigo:

“Os "mercados" estão longe de serem perfeitos. São uma construção do homem - um instrumento - que resolve de forma satisfatória o problema da coordenação, aumenta a produtividade do trabalho e reduz o tempo que ele precisa para atender a sua subsistência material, o que lhe dará cada vez mais tempo livre para realizar a sua humanidade.

Isso revela três fatos: 1) que a disciplina economia nunca poderá ser independente dos valores da sociedade que se quer construir; 2) que é melhor pôr de lado a "utopia" (sem esquecê-la) e aceitar, pragmaticamente, que não sabemos como construir uma sociedade "civilizada" sem o uso de mercados bem regulados; 3) que, como sempre souberam os economistas clássicos (e Marx), produzir é um problema técnico. Distribuir é um problema político, que cobra o seu preço no desenvolvimento de longo prazo...”

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Os Manuscritos de Paris.


Em setembro de 1843, o jovem casal Jenny/Marx ( 29 e 25 anos) fixa residência em Paris. Ali Marx entra em contato com os socialistas Bakunin e Proudhon e inicia seus estudos de economia. Em agosto de 1844 redige os Manuscritos Econômicos Filosóficos, também conhecido como Manuscritos de Paris, embora sua publicação integral somente ocorreria em 1932.
No prefácio do primeiro manuscrito o jovem Karl faz uma interessante reflexão sobre a passagem do feudalismo para o capitalismo ( ou, como ele sempre classificou, “ o modo de produção capitalista”). Para ilustrar a estadia parisiense seguem duas fotos:  a residência na Rue Vanneau e o Café Regence, dos encontros com Engels que iriam seguir por toda a vida.
“Justamente por deixar a Economia Política de entender as interconexões dentro desse movimento, foi possível opor a doutrina de competição à de monopólio, a doutrina de liberdade da profissão à das guildas, a doutrina de divisão da propriedade imobiliária a dos latifúndios; pois a competição, liberdade de ocupação e divisão da propriedade imobiliária foram concebidas tão-somente como consequências fortuitas produzidas pela vontade e pela força, em vez de consequências necessárias, inevitáveis e naturais do monopólio, do sistema de guildas e da propriedade feudal.”


sábado, 8 de outubro de 2016

A onipotência do dinheiro.

Nos “Manuscritos Econômicos-filosóficos” - agosto de 1844, somente publicados em 1932 – Marx  faz, no Terceiro Manuscrito, uma observação instigante sobre o dinheiro. Vale lembrar que 23 anos após, na publicação do  volume I do Capital, é possível constatar uma profunda evolução e o dinheiro é o fetiche supremo. Segue um breve trecho do 3º Manuscrito:
O dinheiro, já que possui a propriedade de comprar tudo, de apropriar objetos para si mesmo, é, por conseguinte o object par excellence . O caráter universal dessa propriedade corresponde à onipotência do dinheiro, que é encarado como um ser onipotente. . . o dinheiro é a proxeneta entre a necessidade e o objeto, entre a vida humana e os meios de subsistência. Mas, o que serve de medianeiro à minha vida também serve à existência de outros homens para mim. Ele é para mim a outra pessoa.”


quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Marx-tese versus Marx-antítese. Existe Marx-síntese ?

Denis Collin, em seu “Compreender Marx”, encerra o prefácio enfatizando as contradições de Marx. Sabemos todos que Marx, sabiamente, não aceitava ser “enquadrado” como marxista. Afinal, marxismo é uma palavra que não pode ser usada no singular.... Confesso que ainda não estou seguro na resposta à questão do titulo, até porque, quanto tempo leva a síntese para se transformar em tese? Quanto mais conheço o velho Karl, mais sei que nada sei sobre o companheiro de Engels e que inspirou o fracassado “socialismo real”. Fica a provocação de Collin.


“Marx é hegeliano e anti-hegeliano, materialista e critico do materialismo, critico da economia política e o último economista clássico, antiestatal e estatal, etc. É interessante, isto não é decisivo, saber se ele é materialista ou não, meio materialista ou seja lá o que for, mas mostrar como a própria contradição, que Marx não destaca, é interessante, quer dizer, nos leva a um problema interessante.”

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Fetiche no código de barras

Selecionei um trecho de artigo de Eustáquio de Carvalho Sant’Ana que analisa o fenômeno do consumismo à partir dos pressupostos do fetichismo da mercadoria, elaborados por Marx, no volume 1 do Capital. A tese está alinhada com a proposta deste blog, que causou arrepios em marqueteiros amigos – a de que Marx antecipou o marketing, em pleno século 19. Segue também a criativa ilustração do artigo.





“Logo, o que Marx quer dizer com fetichismo da mercadoria, é o fato do produto exercer um controle – sobrenatural até - sobre o comprador. Muito além daquele do valor de uso, ou seja, a finalidade a que se destina o produto. O sujeito pode comprar uma calça jeans Fórum não pela simples necessidade de vestir o corpo, mas muito mais, enquanto uma possibilidade de satisfazer seus desejos refletidos através do significado da calça Fórum. Muito mais que cobrir o corpo nu, o comprador vê a calça enquanto um meio para satisfação dos seus desejos de atração, de identidade, de sensualidade, de ascensão social, etc. Esse é apenas um exemplo de uma lista que pode ser extensamente indefinida. Mas a calça jeans Fórum de nada significa para o sujeito se não houvesse por trás, toda propaganda do fabricante que transmite seus horizontes aos destinatários.”