domingo, 21 de agosto de 2016

O discípulo de Hegel.

No meu tempo de Partidão era verdade absoluta o hegelianismo de Marx na juventude e o seu rompimento na maturidade. No entanto, a leitura não dogmática da obra marxista apresenta um quadro bastante diverso. Não por outra razão, Althusser recomenda pular o 1º capítulo do volume 1 de O Capital - o único editado com o autor vivo – contagiado por “hegelianismos”. Certamente, o desatinado francês ficou chocado com o conceito “místico” do fetichismo da mercadoria. Selecionei um pequeno trecho do posfácio da 2ª edição alemã de O Capital (1873) escrito pelo filósofo de Trier, aos 55 anos, quando ele se declara “abertamente discípulo desse grande pensador, chegando mesmo, aqui e além, a jogar com os seus modos de expressão peculiares, no capítulo sobre a teoria do valor”. Segue o trecho:

“O lado místico da dialética hegeliana critiquei-o há cerca de trinta anos, numa época em que ainda estava em moda. No entanto, precisamente na altura em que eu preparava o primeiro volume de O Capital, os epígonos impertinentes, arrogantes e medíocres que agora têm a primeira palavra na Alemanha culta, compraziam-se em tratar Hegel tal como no tempo de Lessing o bravo Moses Mendelssohn tratava Spinoza: como um "cão morto". Declarei-me então abertamente discípulo desse grande pensador, chegando mesmo, aqui e além, a jogar com os seus modos de expressão peculiares, no capítulo sobre a teoria do valor.”

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Repercussão da morte de Marx

Em 18 de maio de 1883, domingo, o jornal “O Protesto Operário” – órgão do Partido Operário Socialista, de Portugal – publica a notícia, não confirmada, da morte de Marx.
(Transcrição segundo a ortografia da época)
Um tellegrama de Paris anuncia o fallecimento do grande pensador socialista Karl Marx. Permittam-nos a agencia Havas e os jornaes burguezes que publicam a noticia, que duvidemos da veracidade do facto, não por que o achemos extranho, mas por que o não podemos acreditar sem comunicação official. Sabemos a avidez com que os repporters inventam noticias de sensação, e esta é uma d´aquellas que nos allucina, que nos confunde, só ao pensar na perda do Mestre. Além d´isso sabemos que Marx habitava ultimamente Londres e não tivemos noticia da sua partida para Paris.
A ser verdadeira aquella participação, o socialismo universal, a sciencia, a humanidade, terão a lamentar o desapparecimento da intelligencia mais potente da civilisição moderna. Não é preciso que só nós o digamos; dil-o um jornal burguez nas seguintes phrazes que transcrevemos:
«Era, por ventura, o primeiro vulto do socialismo, e, sem duvida, uma das mais notaveis intelligencias do seculo. O seu livro «O Capital», pela profundeza de vistas, pelo rigor penetrantissimo do raciocínio, pela vastidão do seu plano admiravelmente cumprido, é uma obra suprema, é o mais luminoso dos trabalhos que em materia economica se tem feito.
Foi tambem importantissimo o papel de Karl Marx como homem de acção, como instigador secreto do movimento socialista».
Esperamos anciosos por informações fidedignas.


sábado, 13 de agosto de 2016

Socialismo de Einstein

Em 1949, Einstein escreve artigo intitulado “Why Socialism?” para o primeiro número  da revista marxista Monthly Review. O texto, na versão original pode ser acessado em www.monthlyreview.org/598einst.htm. Segue um pequeno trecho quando o cientista fala do controle das fontes de informação pelos “capitalistas privados”:

“O capital privado tende a se concentrar em poucas mãos, em parte devido à competência entre os capitalistas, e em parte porque o desenvolvimento tecnológico e a crescente divisão do trabalho alentam a formação de unidades maiores de produção em detrimento das menores. O resultado destes desenvolvimentos é uma oligarquia do capital privado cujo enorme poder não pode ser controlado efetivamente nem sequer por uma sociedade política democraticamente organizada. Isto é assim porque os membros dos corpos legislativos são selecionados pelos partidos políticos, em grande medida financiados ou de alguma maneira influenciados por capitalistas privados que, por todos efeitos práticos, separam o eleitorado da legislatura. A consequência é que os representantes do povo não protegem suficientemente os interesses dos grupos não privilegiados da população. Por outra parte, nas condições atuais os capitalistas privados controlam, direta ou indiretamente, as principais fontes de informação (imprensa escrita, rádio, educação). É então extremamente difícil, e por certo impossível na maioria dos casos, que cada cidadão possa chegar às conclusões objetivas e fazer uso inteligente de seus direitos políticos.


Fetichismo da mercadoria. Um pouco de história...

1690 - “Mercadorias, que têm o seu valor estabelecido como suprimento das necessidades da mente, satisfazem desejos. Desejo provoca demanda. É o apetite da alma, e é tão natural para a alma, como a fome para o corpo.”
Nicholas Barbon – “A Discurse of Trade” (Um discurso sobre o Comércio).
1867 - “A primeira vista, uma mercadoria parece uma coisa trivial e que se compreende por si mesma. Pela nossa análise mostramos que, pelo contrário, é uma coisa muito complexa, cheia de sutilezas metafísicas e de argúcias teológicas.” Karl Marx – “O Capital”.
1967 - Marketing é a atividade humana dirigida para satisfação das necessidades e desejos, através dos processos de troca. Um produto é tudo aquilo capaz de satisfazer a um desejo”. Phillip Kotler - “Marketing Management”.
1993 -“A maioria das pessoas nem chega a se dar conta de que há literalmente um outro mundo operando dentro de nós. ......É um reino mitológico, um desconhecido mundo cheio de seres arquétipos, demônios e toda uma horda de entidades estranhas.” Sal Randazo - “ A criação de mitos na publicidade”:


Mais vivo do que nunca...

1. George Soros: “Há 150 anos esse homem descobriu algo sobre o capitalismo que devemos levar em conta”.
2. Nouriel Roubini : “Karl Marx tinha razão. Em algum momento, o capitalismo pode se auto-destruir. Você não pode continuar a mudar os rendimentos do trabalho para o capital, sem ter um excesso de capacidade e falta de demanda agregada.
3. Norberto Bobbio: “A cada crise o marxismo renasceu e renovou-se, cortando ramos secos e enxertando outros novos.”
4. Delfim Netto: “Karl Marx foi seguramente um dos maiores pensadores do século XIX e hoje suas ideias estão totalmente absorvidas. O que o marxismo tinha de bom, de mais importante, é parte integrante da cultura universal, da mesma forma que Hegel, Kant, Einstein foram absorvidos.”
5. Eric Hobsbawn: “Não é surpreendente que os capitalistas inteligentes, especialmente no setor financeiro globalizado, fiquem impressionados com Marx, já que eles são necessariamente mais conscientes que outros sobre a natureza e as instabilidades da economia capitalista na qual eles operam.”