Em 14 de março de 1983, para
comemorar - com pontualidade germânica – os 100 anos da morte de Marx, Ernest Mandel
escreve artigo sobre “A Atualidade do Marxismo” onde registra a capacidade do
velho Karl de compreender “a dinâmica grandiosa e aterradora das revoluções
tecnológicas inerentes ao modo de produção capitalista”. Embora tendo sido
enviado para um campo de concentração, já no final da guerra, Mandel faleceu em
julho de 1995, tendo, portanto, testemunhado a simbólica queda do muro. A frase
final do trecho selecionado parece profeticamente elaborada para 2009 ou 2012 :
“A grande depressão que atingiu o capitalismo internacional é uma clara
confirmação da justeza da análise científica de Karl Marx. “
“O primeiro aspecto – o da
capacidade de análise e de previsão científico – é particularmente positivo. Se
compararmos o mundo de 1883, ao de 1983, se nos questionarmos se as
transformações principais que se produziram são aquelas previstas por Marx e se elas resultam da natureza da sociedade
burguesa e das contradições que a rasgam, tais que ele nos ensinou a conhecer,
a resposta só pode ser "sim", sem nenhum "mas" importante.
Marx compreendeu, melhor que
qualquer sábio ou moralista do seu tempo, a dinâmica grandiosa e aterradora das
revoluções tecnológicas inerentes ao modo de produção capitalista, em função
mesmo da propriedade privada, da economia de mercado, da concorrência e da sede
insaciável que resulta da extorsão crescente da mais-valia do trabalho vivo
afim de poder acumular sempre mais capital. Dinâmica grandiosa, porque ela
contém a promessa de libertar o Trabalho de todo o esforço produtivo cansativo,
não criador e alienante, graças à automatização. Dinâmica aterradora, por que
ela conduz à transformação periódica das forças produtivas em forças
destrutivas que sapam o progresso da humanidade, destroem o ambiente e arriscam
a destruição de todo o planeta.
Ele compreendeu que da
concorrência brotaria o monopólio, por sua vez submetido a uma concorrência
cada vez mais feroz. Os pequenos capitais seriam absorvidos sem piedade ou
esmagados pelos grandes. A sociedade burguesa evoluiria em direção de uma
estrutura de forma piramidal, fundada sobre uma imensa maioria de salariados,
mas se concentrando em cada país em algumas dezenas de firmas e grupos
financeiros gigantescos e, à escala internacional, em algumas centenas de
multinacionais que ditariam suas leis a todos os Estados burgueses e esmagariam
trabalhadores e povos numa máquina infernal que subordina tudo ao imperativo do
lucro.
Ele compreendeu que esta mesma
máquina iria se avariar periodicamente, que o regime capitalista produziria, em
intervalos regulares, crises econômicas e guerras, cujo custo humanitário
aumentaria a longo termo ao ponto de se tornar insuportável e mesmo mortal.
Hoje, esses apóstolos que pretenderam, durante os anos 50 e 60, que o Capital
tinha finalmente exorcizado seus demônios, que ele garantiria o pleno emprego,
o crescimento, o aumento do nível de vida e a paz eterna. A grande depressão
que atingiu o capitalismo internacional é uma clara confirmação da justeza da
análise científica de Karl Marx. “
Muito boa a "lembrança" de MANDEL! Como se sabe, através de sua extensa obra, podem ser apontadas diversas contribuições às idéias de MARX. Com efeito, pode-se dizer, de modo geral, que um de seus mais significantes incentivos tenha sido a teoria marxista das ondas longas do desenvolvimento capitalista, formulada a partir da lei da tendência de queda da taxa média de lucro, idealizada por MARX em "O Capital". Em linhas gerais --- e considerando-se meus parcos conhecimentos econômicos, é bom que se diga ---, as ondas longas retratam as
ResponderExcluirinclinações --- alternadas entre fases de ascensão e estabilidade e ocasiões de queda --- da taxa média de lucro no capitalismo, e o respectivo reflexo nas forças de produção. Há, na obra de MANDEL, outros exemplos de contribuição à teoria marxista, como, v.g.: (a) o conceito de "capitalismo tardio"; (b) a teoria da inflação permanente, dentre outros. Sem dúvida, para uma boa compreensão do capitalismo contemporâneo --- assim como, por consequência, de sua história --- o estudo da obra de MANDEL revela-se indispensável. Parabéns pelo texto!
Forte abraço,
BR
Caro BR, mais uma excelente contribuição para os leitores do blog. Valeu!
ResponderExcluirabs
elysio