A cada crise do capitalismo o santo nome de
Marx volta a ser pronunciado, nem sempre em vão. Uma das últimas ocorrências
foi capa da revista “Eu & Fim de Semana” - na edição de 31/08/12 do jornal
Valor Econômico - com a chamada “O
capitalismo e a crise” para dois excelentes ensaios de Luiz Gonzaga Belluzzo e
André Lara Resende. Economia nunca foi a minha praia, no entanto, ousaria afirmar que os
economistas clássicos – destaque para Adam Smith e Ricardo – fizeram proveitosas
análises das origens e do capitalismo até o início do século 19 mas, seu
desenvolvimento e suas crises foram missões do velho Karl, apesar da equivocada
ditadura do proletariado.
Selecionei um trecho de cada autor, mas
recomendo a leitura da íntegra, especialmente, do texto de Belluzzo, que
reverencia o parceiro de Engels.
Luiz Gonzaga Belluzzo
“Uma leitura cuidadosa dos
"Grundrisse" e dos três volumes de "O Capital" permite
compreender que o dinheiro transformado em capital - origem e finalidade da
circulação e da produção capitalistas (Dinheiro-Mercadoria-Dinheiro) - não só
exige a submissão real da força de trabalho ao domínio das forças produtivas
como também impõe aos trabalhadores (e aos proprietários do valor-capital) os
ditames da acumulação de riqueza abstrata. A acumulação de mais dinheiro
mediante o uso do dinheiro para capturar mais valor sob a forma monetária
suscita a transfiguração das formas de expansão do valor, isto é, impõe o
predomínio das formas "desenvolvidas": o capital a juros, o dinheiro
de crédito e o capital fictício. Nessas formas, o dinheiro-capital realiza o
seu conceito de valor que se valoriza e tenta continuamente romper os seus
próprios limites ao buscar o acrescentamento do valor sem a mediação da
mercadoria força de trabalho. "D-M-D" se converte em "D-D".”
André Lara Resende
“A nostalgia do mundo perdido
abre caminho para os novos críticos, mais duros, da sociedade capitalista. A
crítica deixa de ser cultural, nostálgica. Passa a denunciar a capacidade
destrutiva, desagregadora, das novas forças liberadas numa sociedade
integralmente movida pelos interesses materiais. Assim como a valorização dos
interesses individuais e do comércio atingiu seu ápice com David Hume e Adam
Smith, a mudança de rumo dos ventos intelectuais, a partir do fim do século
XVIII, culminou com Karl Marx, na segunda metade do século XIX.”
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