Em 1986, Moishe Postone, professor da Universidade de
Chicago, produz uma excelente análise do antissemitismo e o nazismo onde faz um
diagnóstico sobre o fetichismo da mercadoria. . Postone não é um marxista
“clássico” e faz uma leitura contemporânea de
Marx. Selecionei um trecho
(tradução de Nuno Miguel Cardoso Machado) .
“Estas considerações conduzem-nos ao conceito Marxiano de
fetiche, cuja intenção estratégica era providenciar uma teoria social e
histórica do conhecimento alicerçada na diferença entre a essência das relações
sociais capitalistas e as suas formas manifestas. Subjacente ao conceito de
fetiche está a análise Marxiana da mercadoria, do dinheiro e do capital, não
enquanto meras categorias económicas, mas antes como formas das relações
sociais peculiares que caracterizam essencialmente o capitalismo. Na sua
análise, as formas capitalistas das relações sociais não aparecem como tal, mas
expressam-se apenas numa forma objetivada. O trabalho [labor], no capitalismo,
não é apenas uma atividade produtiva social (“trabalho concreto”), mas atua
igualmente, no lugar de relações sociais abertas, como mediação social
(“trabalho abstrato”). Assim, o seu produto, a mercadoria, não é meramente um
produto no qual está objectivado trabalho concreto; é também uma forma de
relações sociais objetivadas. No capitalismo, o produto não é um objeto mediado
socialmente por formas transparentes de relações sociais e de dominação. A
mercadoria, enquanto objetivação de ambas as dimensões do trabalho no
capitalismo, é a sua própria mediação social. Possui, portanto, um “duplo caráter”:
valor de uso e valor. Enquanto objeto, a mercadoria expressa e ao mesmo tempo
oculta relações sociais que não possuem qualquer outro modo “independente” de
expressão. Este modo de objetivação das relações sociais constitui a sua
alienação. As relações sociais fundamentais do capitalismo adquirem uma vida
própria quase-objetiva. Elas constituem uma “segunda natureza”, um sistema de
dominação e compulsão abstratas que, embora social, é impessoal e “objetivo”.
Estas relações não parecem ser sociais de todo, mas naturais. Ao mesmo tempo,
as formas categoriais expressam uma concepção particular, socialmente
constituída, da natureza em termos de um comportamento objetivo, regrado [lawful]
e quantificável de uma essência qualitativamente homogénea. As categorias
Marxianas expressam simultaneamente relações sociais particulares e formas de
pensamento. A noção de fetiche refere-se a formas de pensamento baseadas em
percepções que permanecem presas às formas de aparência das relações sociais
capitalistas.”
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