quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Epigramas Marxianos. Parte 1.


O Marx poeta – versos pra Jenny, pra mãe e pro pai – já se fez presente aqui no blog. Hoje seguem os sutis  “Epigramas” em que ele critica o povo alemão e debocha de Hegel. Publicados na Revista Continente, tradução de Moniz Bandeira.
EPIGRAMAS
I
Em sua poltrona, confortavelmente estúpido,
está sentado, mudo, o povo alemão.
Brama a tempestade para cá, para lá,
fica nublado o céu, escuro e ainda mais coberto,
sibilam os raios, serpenteando,
e nada importa ao seu espírito.
Porém, quando o sol desponta,
os ventos sussurram, a tempestade acalma-se,
o povo então se levanta, grita
e escreve um livro: "o barulho passou".
Começa a fantasiar sobre isso,
quer sentir o elemento da coisa,
pensa que não é a maneira certa,
diz que o céu também brincava bastante esquisito,
que deve fazer tudo mais sistematicamente,
esfregar primeiro a cabeça, depois os pés.
Porta-se até como criança,
procura coisas, que apodreceram,
teria, ao mesmo tempo, de compreender a atualidade,
deixar o correrem céu e a terra,
que apenas seguiam seu curso normal,
enquanto a onda estoura tranqüilamente sobre as pedras.

II
EPIGRAMAS HEGELIANOS
1.
Porque descobri o mais alto e encontrei a profundeza, refletindo,
sou rude, como um deus, cubro-me de escuro, como ele.
Por muito tempo investiguei e boiei nas ondas do pensamento,
e então achei a palavra, e não a solto.
2.
Ensino palavras, misturadas em movimento diabolicamente
perturbado,
e então que todos pensem o que quiserem pensar.
Pelo menos, o poeta não é mais limitado pelas barreiras, que o
encadeiam,
inventa as palavras e pensamentos das pessoas amadas,
como se fossem águas bramindo, caindo da rocha,
e o que pensa e reconhece, e o que sente, cria.
Toda pessoa pode sugar o refrescante néctar da sabedoria,
e tudo eu sugo de vós, porque eu, um ninguém, vos disse!
3
Kant e Fichte vão com prazer ao espaço,
procuraram lá um país distante,
porém, eu só tentei entender bem,
o que achei – na rua!
4.
Perdoai a nós, que fazemos epigramas,
quando cantamos fatais melodias.
Temos estudado Hegel,
e ainda não purgamos sua estética.

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