sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Marx by Engels. Parte 2


Em junho de 1877, Engels escreve para o Volks-Kalender – um almanaque que circula em 1878 – um resumida biografia de seu amigo Karl. Nesta parte 2, Engels “entrega” Von Humboldt como dedo-duro da expulsão de Marx da França e conta seu ingresso e do amigo na “Liga Secreta dos Comunistas”. Revela a “encomenda” do Manifesto no segundo congresso da “Liga”, em 1847.

“O estudo da economia política e da história da grande Revolução Francesa ainda deixou sempre tempo a Marx para ataques ocasionais ao governo prussiano; este vingou-se, na Primavera de 1845, ao conseguir, junto do ministério Guizot — o senhor Alexander von Humboldt  deve ter feito papel de intermediário —, a sua expulsão de França. Marx transferiu a sua residência para Bruxelas e publicou em francês, em 1848,  Discours sur le libre échange [Discurso sobre o Livre-Câmbio)  e, em 1847, Misère de la philosophie [Miséria da Filosofia] uma crítica à Philosophie de la misère [Filosofia da Miséria] de Proudhon. Simultaneamente, encontrou oportunidade para fundar, em Bruxelas, uma Associação Operária Alemã e entrou, desse modo, na agitação prática. Esta tornou-se para ele ainda mais importante desde que ele e os seus amigos políticos entraram, em 1847, na “Liga secreta dos Comunistas” que existia já há longos anos. A organização [Einrichtung] toda foi, então, revolucionada; a união [Verbindung], até então mais ou menos conspiratória, transformou-se numa simples organização [Organisation] — secreta, apenas por necessidade —, a primeira organização do Partido Social-Democrata alemão. A Liga existia onde quer que existissem associações operárias alemãs; quase em todas estas associações da Inglaterra, da Bélgica, da França e da Suíça e, em muitas associações da Alemanha, os membros dirigentes pertenciam à Liga e a quota-parte da Liga no movimento operário alemão que surgia foi muito significativa. Mas, além disso, a nossa Liga foi a primeira que colocou em evidência o caráter internacional do movimento operário todo e também o provou praticamente, tendo como membros: ingleses, belgas, húngaros, polacos, etc, e organizando, nomeadamente, em Londres, reuniões internacionais de operários.
A reorganização da Liga completou-se em dois congressos que se realizaram no ano de 1847, o segundo dos quais decidiu a elaboração e publicação das bases do Partido num manifesto a redigir por Marx e Engels. Nasceu assim o Manifesto do Partido Comunista  que se publicou, pela primeira vez, em 1848, pouco antes da revolução de Fevereiro e que, desde então, foi traduzido em quase todas as línguas da Europa.
A Deutsche-Brüsseler Zeitung , em que Marx participava e onde a beatitude da policial pátria era impiedosamente posta a nu, levou de novo o governo prussiano a agir para a expulsão de Marx, mas em vão. Quando, porém, a revolução de Fevereiro repercutiu em Bruxelas com movimentos populares e parecia iminente uma reviravolta [Umschwung] na Bélgica, o governo belga prendeu Marx sem cerimônias e expulsou-o. Entretanto, o governo provisório de França, através de Flocon, o convidara a voltar a Paris e ele aceitou o convite.
Em Paris, contrapôs-se, antes de tudo, à tontice que se propagava entre os alemães de lá e que pretendia, na França, formar os operários alemães em legiões armadas e, desse modo, introduzir na Alemanha revolução e república. Por um lado, a Alemanha tinha de fazer a sua própria revolução e, por outro lado, toda a legião revolucionária estrangeira que se formasse na França era de antemão denunciada pelos “Lamartines” do governo provisório ao governo a derrubar, como também acontecera na Bélgica e em Baden.
Após a revolução de Março 54, Marx foi para Colônia e lá fundou a Neue Rheinische Zeitung (Nova Gazeta Renana) que circulou de 1º de Junho de 1848 até 19 de Maio de 1849 — o única jornal que, no interior do movimento democrático de então, representava o ponto de vista do proletariado e isto já através da sua tomada de partido sem reservas a favor dos insurretos  parisienses de junho de 1848, que fez desertar do jornal quase todos os seus acionistas. Em vão aludiu a Kreuz-Zeitung à “insolência de Chimborazo” com que a Neue Rheinische Zeitung atacava tudo o que era sagrado, desde o rei e do vigário do Império [Reichsverweser] até aos gendarmes, e isto numa fortaleza prussiana com uma guarnição de 8000 homens; em vão se inflamou o filistério [Philisterium] renano liberal, tornado de repente reacionário; em vão o estado de sítio de Colônia suspendeu a folha, no Outono de 1848, durante muito tempo; em vão denunciou o ministério imperial da justiça, de Frankfurt, artigo sobre artigo ao procurador de justiça de Colônia, para instauração de processo judicial; a folha continuou calmamente a ser redigida e impressa, sob os olhos do posto principal da guarda [Hauptwache], a expansão e a reputação da gazeta cresceram com a veemência dos ataques ao governo e à burguesia. Quando o golpe de Estado prussiano ocorreu, em Novembro de 1848, a Rheinische Zeitung apelou, na manchete de cada número, ao povo para que se recusasse [a pagar] impostos e para que respondesse a força com a força. Na Primavera de 1849, por isto, assim como por causa de um outro artigo, foi levada perante os jurados, sendo absolvida em ambas as vezes. Finalmente, quando as insurreições de Maio de 1849, em Dresden e na Província Renana foram reprimidas e a campanha prussiana contra a insurreição de Baden-Palatinado foi inaugurada pela concentração e mobilização de massas significativas de tropa, o governo achou-se suficientemente forte para suprimir pela força a Neue Rheinische Zeitung. O último número — impresso em vermelho — publicou-se a 19 de Maio.
Marx foi de novo para Paris, mas, logo poucas semanas após a manifestação do 13 de Junho de 1849 foi posto pelo governo francês perante a opção de estabelecer a sua residência na Bretanha ou de abandonar a França. Ele preferiu a última e instalou-se em Londres, onde, desde então, tem residido ininterruptamente.
( Continua na próxima postagem)

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