terça-feira, 10 de julho de 2012

Estado Hegeliano versus Estado Marxista.


José Paulo Bandeira da Silva, publica na Acantus 79 um precioso estudo sobre a “Nova ciência política da comunicação”. Na parte final do texto, faz uma comparação entre o conceito de Estado de Hegel e de Marx. Para Hegel, o Estado detém o poder; para Marx - ao contrário – “o poder de Estado é sempre o exercício de poder de uma classe social”.

“Há duas concepções modernas básicas do Estado. Na primeira, Hegel definiu o Estado-sujeito. Tal Estado hegeliano é um Estado ético, educador, um Estado civilizatório. Na versão hegeliana, o Estado detém o poder. Esta concepção foi desenvolvida, no século XX, por Gramsci no marxismo ocidental. É a fórmula do Estado ampliado, do Estado-hegemônico, do Estado dos aparelhos de hegemonia de uma classe social. Em Hegel, a burocracia estatal é um categoria universal; ela está além dos interesses particulares, privados, capitalistas e das práticas políticas particulares e dos aparelhos sociais da sociedade civil. Nesta posição, o Estado universal tem a consistência para assegurar a unidade de um país, de uma nação e de outras formações sociais. Em Gramsci, o Estado- hegemônico é uma estratégia do poder burguês para assegurar a dominação de classe. Nesta estratégia, o Estado articula uma adesão cultural das classes subalternas à civilização moderna. A crítica da civilização moderna é o método de Gramsci para estabelecer a estratégia da revolução socialista no século XX. Mas em Gramsci, o poder de Estado é exercido, por uma classe social, nos aparelhos de hegemonia da classe dominante.
Em Marx, há a concepção do Estado-coisa, Estado- instrumento de uma classe social dominante. Para Marx, o Estado não detém poder. O poder de Estado é sempre o exercício de poder de uma classe social. E para Marx, o Estado liberal é apenas o uso de violência social, isto é, um aparelho de repressão. O Estado liberal só é civilizatório no plano da ideologia. Há uma confluência das concepções de Hegel e Marx em Weber. Para este, o Estado moderno é a probabilidade dele possuir o monopólio legítimo da força física: Estado-coação. Trata-se de um conceito virtual. Além da repressão, o Estado moderno existe como um tipo puro de dominação weberiana.
Para Weber, a dominação racional-legal, dominação burocrático-moderna, pode existir como um mecanismo de integração dos indivíduos à ordem moderna. Uma leitura hegeliana de Weber, já usa esta idéia para caracterizar a burocracia como um discurso social. Nesta leitura, o Estado é o uso da violência mais um discurso social. Neste caso, o Estado não é apenas a soma dos aparelhos de Estado, das instituições, dos grupos que o povoam, das práticas administrativas e dos indivíduos que tomam as decisões. Aqui, a burocracia é matriz simbólica de um determinado discurso social. Este existe no funcionamento dos aparelhos, das instituições, das práticas estatais, das ações individuais dos agentes estatais, dos grupos estatais, das redes de poder e de fluxos econômicos que amealham permanentemente o Estado e sobredeterminam todo o resto: aparelhos, instituições etc. Nesta leitura, o Estado existe em função de um campo de poder. Trata-se de um campo de relações de forças que funciona através das redes de poder e de fluxos de uma economia geral do excedente econômico.
Na questão do Estado, Foucault segue Marx. Para ele assim como para Marx, o Estado não é o poder. O Estado é uma instituição, e as instituições: ” São práticas, mecanismos operatórios que não explicam o poder, já que supõe as relações e se contentam em fixá-las sob uma função reprodutora e não produtiva”(6). Na era moderna, a forma-estado capturou um número considerável de relações de poder e isto é a “estatização contínua” – na ordem pedagógica, na judiciária, na econômica, na familiar, na sexual – visando uma integração global. uma linha de força geral no campo dos poderes. Para Foucault, o “governo”( o poder de afetar sob todos os aspectos o ” modo de governar” as crianças, as almas, os doentes etc.) ilumina mais o poder do que o Estado.

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