Os professores Ciro Bezerra e Sandra Regina Paes assinam a tese “A
fetichização do conhecimento no contexto do Capitalismo Contemporâneo”
Selecionei um texto onde os autores começam enfatizando que o caráter místico
da mercadoria não provém do valor de uso e nem do conteúdo das determinações de valor, mas da
autonomização das coisas objetivadas pelos produtores. E terminam com a
pergunta de Marx “de onde provém, então, o caráter enigmático do produto do trabalho,
tão logo ele assume a forma mercadoria”? E com sua resposta categórica: “da
própria forma social da mercadoria”.
“Segundo Marx, “o caráter místico da mercadoria não provém,
portanto, de seu valor de uso, tampouco do conteúdo das determinações de valor”
(Marx, 1985: 70), mas da autonomização das coisas objetivadas pelos produtores
que, na modernidade capitalista, assume a forma de mercadoria.
Conseqüentemente, o conhecimento tende a ser mistificado
quando assume a forma de mercadoria, quando se objetiva nas relações sociais de
produção como conhecimento-mercadoria. Por essa razão, é importante explicar
como ocorre esse processo. A mistificação é explicada por Marx quando a forma
mercadoria exerce o seu império através da personificação das formas sociais
pelas pessoas.
Marx rejeita a possibilidade de as formas de sociabilidade
orientadas pelo valor de
uso se sujeitarem ao fetichismo da mercadoria. No processo
dinâmico das sociedades em que as “comodidades” ainda não adquiriram proporções
dominantes, as relações de produção e as formas sociais a elas vinculadas não
podem desenvolver o fenômeno fetichista, pois os produtores ainda não foram expropriados
dos meios necessários à reprodução da existência.
Conseqüentemente, a produção e apropriação social do
conhecimento ainda não foi expropriada pelo capital, centralizada e concentrada
sob o seu controle. Nas sociedades pré-capitalistas eles produzem para si, para
a subsistência. Neste contexto, o conhecimento necessário à reprodução da vida
é transparente aos olhos dos produtores e não há exclusividade em sua produção
e apropriação.
Essa realidade muda quando entram em cena as determinações
sociais da reprodução sociometabólica do capital, aquelas que inauguram
propriamente a era da modernidade capitalista. Marx enumera os motivos que
impedem o fetichismo de se manifestar antes da modernidade capitalista. Nas
sociedades pré-modernas predominavam as seguintes características: (1º) o
trabalho funcionava como
extensão do organismo humano; (2º) o número de horas de
trabalho era definido pelas necessidades imediatas de subsistência; (3º) o fato
de existir excedente econômico não determina a autonomização do produto do
trabalho como mercadoria, apenas explicita o caráter de sociabilidade
decorrente da evolução do trabalho humano.
Como esclarece Marx:
Primeiro, por mais que se diferenciem os trabalhos úteis ou
atividades produtivas, é uma verdade fisiológica que eles são funções do
organismo humano e que cada uma dessas funções, qualquer que seja seu conteúdo
ou forma, é essencialmente dispêndio de cérebro, nervos, músculos, sentidos humanos,
etc;
Segundo, quanto ao que serve de base à determinação da grandeza
de valor, a duração daquele dispêndio ou a quantidade do trabalho, a quantidade
é distinguível até pelos sentidos da qualidade do trabalho. Sob todas as condições,
o tempo de trabalho, que custa a produção dos meios de subsistência, havia de
interessar ao homem, embora não igualmente nos diferentes estágios de
desenvolvimento;
Finalmente, tão logo os homens trabalham uns para os outros
de alguma maneira, seu trabalho adquire também uma forma social (Marx, 1985a:
70).
Marx se pergunta: “de onde provém, então, o caráter
enigmático do produto do
trabalho, tão logo ele assume a forma mercadoria”? (Marx,
1985a: 70). A resposta é categórica: da própria forma social da mercadoria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário