sábado, 14 de julho de 2012

A forma social da mercadoria.


Os professores Ciro Bezerra e Sandra  Regina Paes assinam a tese “A fetichização do conhecimento no contexto do Capitalismo Contemporâneo” Selecionei um texto onde os autores começam enfatizando que o caráter místico da mercadoria não provém do valor de uso e  nem do conteúdo das determinações de valor, mas da autonomização das coisas objetivadas pelos produtores. E terminam com a pergunta de Marx “de onde provém, então, o caráter enigmático do produto do trabalho, tão logo ele assume a forma mercadoria”? E com sua resposta categórica: “da própria forma social da mercadoria”.

“Segundo Marx, “o caráter místico da mercadoria não provém, portanto, de seu valor de uso, tampouco do conteúdo das determinações de valor” (Marx, 1985: 70), mas da autonomização das coisas objetivadas pelos produtores que, na modernidade capitalista, assume a forma de mercadoria.
Conseqüentemente, o conhecimento tende a ser mistificado quando assume a forma de mercadoria, quando se objetiva nas relações sociais de produção como conhecimento-mercadoria. Por essa razão, é importante explicar como ocorre esse processo. A mistificação é explicada por Marx quando a forma mercadoria exerce o seu império através da personificação das formas sociais pelas pessoas.
Marx rejeita a possibilidade de as formas de sociabilidade orientadas pelo valor de
uso se sujeitarem ao fetichismo da mercadoria. No processo dinâmico das sociedades em que as “comodidades” ainda não adquiriram proporções dominantes, as relações de produção e as formas sociais a elas vinculadas não podem desenvolver o fenômeno fetichista, pois os produtores ainda não foram expropriados dos meios necessários à reprodução da existência.
Conseqüentemente, a produção e apropriação social do conhecimento ainda não foi expropriada pelo capital, centralizada e concentrada sob o seu controle. Nas sociedades pré-capitalistas eles produzem para si, para a subsistência. Neste contexto, o conhecimento necessário à reprodução da vida é transparente aos olhos dos produtores e não há exclusividade em sua produção e apropriação.
Essa realidade muda quando entram em cena as determinações sociais da reprodução sociometabólica do capital, aquelas que inauguram propriamente a era da modernidade capitalista. Marx enumera os motivos que impedem o fetichismo de se manifestar antes da modernidade capitalista. Nas sociedades pré-modernas predominavam as seguintes características: (1º) o trabalho funcionava como
extensão do organismo humano; (2º) o número de horas de trabalho era definido pelas necessidades imediatas de subsistência; (3º) o fato de existir excedente econômico não determina a autonomização do produto do trabalho como mercadoria, apenas explicita o caráter de sociabilidade decorrente da evolução do trabalho humano.
Como esclarece Marx:
Primeiro, por mais que se diferenciem os trabalhos úteis ou atividades produtivas, é uma verdade fisiológica que eles são funções do organismo humano e que cada uma dessas funções, qualquer que seja seu conteúdo ou forma, é essencialmente dispêndio de cérebro, nervos, músculos, sentidos humanos, etc;
Segundo, quanto ao que serve de base à determinação da grandeza de valor, a duração daquele dispêndio ou a quantidade do trabalho, a quantidade é distinguível até pelos sentidos da qualidade do trabalho. Sob todas as condições, o tempo de trabalho, que custa a produção dos meios de subsistência, havia de interessar ao homem, embora não igualmente nos diferentes estágios de desenvolvimento;
Finalmente, tão logo os homens trabalham uns para os outros de alguma maneira, seu trabalho adquire também uma forma social (Marx, 1985a: 70).
Marx se pergunta: “de onde provém, então, o caráter enigmático do produto do
trabalho, tão logo ele assume a forma mercadoria”? (Marx, 1985a: 70). A resposta é categórica: da própria forma social da mercadoria.

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