Em seu último livro – “Socialismo e Democracia”, 2011 edição da Fundação João Mangabeira, do PSB – Roberto Amaral defende, entre outras teses, que o mundo do Manifesto de 1848 se reapresenta no cotidiano do nosso século.
“O mundo do Manifesto Comunista se reapresenta assim em nosso cotidiano: o mercado mundial sobre as cinzas dos mercados nacionais, transformando em internacionais a produção e o consumo; os desejos estimulados e universalizados superam as necessidades humanas e os recursos do meio-ambiente; o capitalismo se concentra e a comunicação se torna universal, reduzindo o mundo; a produção se concentra de maneira progressiva e se centraliza em fábricas altamente automatizadas e as fazendas se transformam em fábricas e o campo é absorvido pelas cidades, o camponês perde a terra e o pequeno produtor sucumbe na concorrência com o agro-negócio. Lia-se no Manifesto, no já distante 1848: (transcrevo abaixo a íntegra do texto que RA edita no seu artigo de agosto de 2001)
“No lugar das antigas necessidades, satisfeitas pelos produtos nacionais, nascem novas necessidades que exigem para a sua satisfação os produtos dos países e dos climas mais longínquos. No lugar da velha auto-suficiência e do velho isolamento locais e nacionais, desenvolve-se um intercâmbio universal, uma dependência das nações umas das outras. Tanto na produção material, como na produção intelectual. Os bens intelectuais das nações singulares tornam-se bem comum. A unilateralidade e estreiteza nacionais tornam-se cada vez mais impossíveis, e das muitas literaturas nacionais e locais forma-se uma literatura mundial.
A burguesia, pelo rápido aprimoramento de todos os instrumentos de produção, pelas comunicações infinitamente facilitadas, arrasta todas as nações, mesmo as mais bárbaras, para a civilização. Os preços baratos das suas mercadorias são a artilharia pesada com que deita por terra todas as muralhas da China, com que força à capitulação o mais obstinado ódio dos bárbaros ao estrangeiro. Todas as nações são levadas a se apropriarem o modo de produção da burguesia, se não quiserem arruinar-se; e são obrigadas a introduzirem no seu interior a chamada civilização, i. é, a tornarem-se burguesas. Numa palavra, ela cria para si um mundo à sua própria imagem.
A burguesia submeteu o campo à dominação da cidade. Criou cidades enormes, aumentou num grau elevado o número da população urbana face à rural, e deste modo arrancou uma parte significativa da população da vida rural. Assim como tornou dependente o campo da cidade, [tornou dependentes] os países bárbaros e semibárbaros dos civilizados, os povos agrícolas dos povos burgueses, o Oriente do Ocidente.
A burguesia suprime cada vez mais a dispersão dos meios de produção, da propriedade e da população. Aglomerou a população, centralizou os meios de produção e concentrou a propriedade em poucas mãos. A consequência necessária disto foi a centralização política. Províncias independentes, quase somente aliadas, com interesses, leis, governos e direitos alfandegários diversos, foram comprimidas numa nação, num governo, numa lei, num interesse nacional de classe, numa linha aduaneira.
A burguesia, na sua dominação de classe de um escasso século, criou forças de produção mais massivas e mais colossais do que todas as gerações passadas juntas.”
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