Em 1976, Perry Anderson, na flor de seus 32 anos, publica estudo com o titulo desta postagem onde procura demonstrar que a “história do marxismo, desde que nasceu há pouco mais de cem anos, está ainda por escrever”. Para esta “Parte 2”, selecionei um trecho sobre a crise de 1929, onde Anderson faz menção à política suicida do Komintern que “facilitou” a ascensão de Hitler. Em breve, farei uma postagem sobre as posições conflitantes de Trotsky, já no exílio, com Stalin em relação à primeira grande crise mundial do capitalismo.
“Em 1929, abateu-se sobre o continente a maior bancarrota da história do capitalismo, que espalhou o desemprego e intensificou a luta de classes.
A contra-revolução social mobilizava agora nas suas formas mais brutais e violentas, abolindo a democracia parlamentar país após país, com o intuito de eliminar toda a organização autônoma da classe operária.
As ditaduras terroristas do fascismo foram as soluções históricas do capital para os perigos que o operariado representava nesta região: destinavam-se a suprimir todo o vestígio de resistência e independência proletárias, numa conjuntura internacional de crescentes antagonismos imperialistas.
A Itália foi o primeiro país a experimentar toda a força da repressão fascista: em 1926, Mussolini tinha acabado com toda a oposição legal no país. O nazismo tomou o poder na Alemanha em 1933, depois do Komintern ter imposto uma via suicida ao KPD: o movimento operário alemão foi reduzido a nada.
Um ano mais tarde, na Áustria, o fascismo clerical lançou um assalto armado que destruiu as fortalezas operárias constituídas pelo Partido e pelos sindicatos. Na Hungria, uma ditadura branca já há muito se instalara.
Ao sul, na Espanha, um golpe militar foi o ponto de partida para três anos de guerra civil que terminaram com o triunfo do fascismo espanhol, apoiado pelo vizinho português e pelos seus aliados na Itália e na Alemanha. A década terminou com a ocupação e o controle nazista da Checoslováquia e com a queda da França.
Nesta época catastrófica, qual foi o destino da teoria marxista na zona centro-europeia, que desempenhara um papel tão importante no desenvolvimento do materialismo histórico, antes da I Guerra Mundial?
Como vimos, mal o pensamento político de Lenin se difundira fora da Rússia, logo se viu esterilizado pelo processo de estalinização da III Internacional, que progressivamente subordinou as linhas políticas dos partidos que a integravam aos objetivos da política externa da URSS. Como é natural, os partidos social-democratas ou centristas fora do Komintern também não ofereciam um campo para a aplicação ou extensão do leninismo. Assim, no âmbito das organizações de massa da classe operária desta zona, no período entre as duas guerras, a substância da teoria marxista circunscreveu-se à análise econômica, numa orientação que descendia em linha reta dos grandes debates do ante-guerra.”
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