quarta-feira, 13 de julho de 2011

Rússia. O socialismo que nunca aconteceu.


Gramsci, em texto de julho de 1918, afirma que “o socialismo não se instaura em data fixa, mas é um devir contínuo, um desenvolvimento infinito em regime de liberdade organizada e controlada pela maioria dos cidadãos, isto é, pelo proletariado.” A se julgar pela evolução dos fatos nos 71 anos seguintes – até 1989 – o socialismo jamais foi instaurado na falecida URSS e o “devir contínuo” foi destruído pela ditadura, não do proletariado, mas de Stalin. Profecia, em economia política, é sempre um risco. Vide a de Engels, em 1892, em “Do Socialismo Utópico ao Científico”: “Há já quatrocentos anos que a Alemanha foi o ponto de partida do primeiro grande levantamento da classe média da Europa: no ponto em que estão as coisas, será despropositado pensar-se que a Alemanha venha a se tornar também o cenário do primeiro grande triunfo do proletariado europeu?”
A seguir , 2 trechos relevantes do artigo do Gramsci, cuja íntegra pode ser acessada em www.marxists.org/portugues/gramsci/1918/07/25.htm

“Na Rússia patriarcal não podia haver a concentração de seres humanos que existem num país industrializado, e que são condição para que os proletários se conheçam uns aos outros, se organizem e adquiram consciência da sua força de classe a pôr ao serviço dum objetivo humano universal. Um país com uma agricultura extensiva isola os indivíduos, torna impossível uma consciência igual e generalizada, torna impossível a unidade social proletária, a consciência concreta de classe que dá a medida da sua força e a vontade de instaurar um regime permanentemente legitimado por essa força.”
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“Este é o ímpeto vital da nova história russa. Que há nele de utópico? Onde está o plano preestabelecido que se quer realizar contra as condições da economia e da política? A revolução russa é o domínio da liberdade: a organização funda-se espontaneamente, não pelo arbítrio dum “herói” que se impõe pela violência. É uma elevação humana contínua e sistemática, que segue uma hierarquia, que cria os organismos necessários da nova vida social.
Mas então, não é socialismo?... Não, não é socialismo no estúpido sentido que os filisteus construtores de projetos mastodônticos dão à palavra; é a sociedade humana que se desenvolve sob o controle do proletariado. Quando ele estiver organizado na sua maioria, a vida social será mais rica de conteúdo socialista do que é agora, e o processo de socialização intensificar-se-á e aperfeiçoar-se-á continuamente. Porque o socialismo não se instaura em data fixa, mas é um devir contínuo, um desenvolvimento infinito em regime de liberdade organizada e controlada pela maioria dos cidadãos, isto é, pelo proletariado.”

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