sábado, 2 de julho de 2011

Leninismo. A quintessência da teoria absolutista do poder.


Norberto Bobbio em seu “Ensaios sobre Gramsci” (Paz e Terra, 2002) critica os marxistas por jamais terem se ocupado do tema central da filosofia política – os limites do poder. E rotula o leninismo de “conúbio de realismo político e de crença no carisma”.

“Uma das razões pelas quais se pode dizer e se deve repetir à exaustão que os marxistas jamais se ocuparam seriamente do problema do Estado ( pois se ocuparam exclusivamente de problemas de estratégia para a conquista do poder) pode ser encontrada na ausência total, em suas obras, do tema central da filosofia política de todos os tempos – os limites do poder. Também as teorias absolutistas, diga-se o que se quiser a respeito, como as de Bodin e de Hobbes, para mencionar os exemplos habituais, não tinham podido evitar o ajuste de contas com o problema dos limites do poder e a sua solução : o poder soberano, por mais que fosse o máximo poder do homem sobre o homem, sempre encontrava as razões de sua própria limitação ou na lei natural-divina (Bodin) ou no pacto social (Hobbes). Não gostaria de me equivocar, mas as únicas teorias políticas às quais é estranho o problema do abuso do poder e de seus limites são a maquiavéilca, na qual o poder é um fim em si mesmo ( o fim do poder é o de conservá-lo, segundo a famosa máxima “cuide pois o príncipe de vencer e manter o estado:os meios serão sempre julgados honrosos e louvados por todos”), e a teoria do poder carismático ilustrada por Max Weber, que se pode associar à tese hegeliana do direito absoluto dos “heróis” ( direito “absoluto” este precisamente no sentido de que não encontra nenhum limite no igual e contrário direito dos demais). Na tese marxista da ditadura do proletariado, interpretada e praticada por Lênin, existem elementos da primeira e da segunda: no que se refere à teoria do Estado, o leninismo é um conúbio de realismo político e de crença no carisma ; portanto é a quintessência da teoria absolutista do poder.”


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