domingo, 19 de fevereiro de 2012

Repensar a teoria crítica do capitalismo. Parte 3

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Moishe Postone, professor de história da Universidade de Chicago, tem se dedicado a fazer uma revisita à obra de Marx com a perspectiva do nosso século. Já dediquei algumas postagens aos seus textos. Na palestra com o titulo acima, Postone disserta sobre dinâmica complexa do capitalismo e afirma  que a sua superação  “implica na auto-abolição do proletariado” o que “ torna extremamente difícil a política da esquerda”.  E lança uma provocação: “como poderemos falar em auto-abolição do proletariado quando os trabalhadores estão a sendo empurrados contra a parede?”

“Certamente, não acredito que se Kaustky ou Lenine tivessem lido O Capital «apropriadamente» as coisas tivessem sido muito diferentes. Eles leram O Capital a partir de uma perspectiva do início do século XX. Eu  o leio claramente a partir de uma perspectiva do início do século XXI. Evidentemente, estou  argumentando que isso está ligado ao significado das categorias, não porque julgue ter discernimento privilegiado sobre o móvel ou as intenções de Marx, sobre o que realmente quis dizer. Não afirmo ter esse discernimento. Trata-se do significado das categorias hoje. Há formas diferentes de aproximação aos textos de Marx. Há pessoas que vêem contradições lógicas e rupturas no pensamento de Marx – é uma das leituras possíveis. Eu tento sustentar a coerência não-contraditória das suas categorias. Não porque pense que ele era um gênio, mas porque tento ver até onde as categorias nos podem levar no desenvolvimento de uma poderosa teoria crítica do presente. A minha interpretação do proletariado, penso, foi fortemente influenciada pelos anos 1960, não apenas por 1968. Essa década assistiu à ascensão de movimentos de massas que não eram movimentos da classe operária, de camponeses tradicionais ou da pequena burguesia. Ao mesmo tempo, nas metrópoles, assistiu-se ao fim do crescimento da classe operária. O que começa a afetar muitas pessoas – incluindo partes da classe operária – é o próprio trabalho que elas fazem, e não apenas as condições de trabalho e o nível de remuneração. A natureza e a estrutura do próprio trabalho começaram a mudar.
Será o proletariado crucial para o capitalismo? Sim, absolutamente. Na verdade, é mais crucial para o capitalismo do que a burguesia. É possível haver capitalismo sem burguesia, mas não sem proletariado. A superação do capitalismo implica a auto-abolição do proletariado. Isto torna extremamente difícil a política da esquerda. Como poderemos falar sobre a auto-abolição do proletariado quando os trabalhadores estão sendo empurrados contra a parede? Penso que é muito difícil tentar mediar a questão da defesa das conquistas dos movimentos dos trabalhadores num universo neoliberal e uma posição que evite hipostasiar a classe trabalhadora como portadora do futuro. Não pretendo ter respostas fáceis a essa questão, mas penso que a abolição da classe trabalhadora é a chave para a libertação da humanidade. Concordo com a formulação de Marx.”

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