domingo, 5 de fevereiro de 2012

O balzaquiano Marx. Parte 2


Em abril de 1888, Engels escreve carta para a jornalista e escritora Margaret Harkness (1854-1923) para comentar sua primeira novela “A City Girl”, que ele chama de pequena obra prima e fala do prazer na sua leitura. Harkness era inflamada socialista, nas duas últimas décadas  do século 19. Na carta, Engels fala de seu entusiasmo pela obra de Balzac, autor favorito de seu amigo Marx. Na linha de Marx, chega a afirmar que aprendeu mais sobre a sociedade francesa com Balzac “do que com todos os historiadores, economistas e estatísticos profissionais do período, juntos”.

“Balzac, a quem considero de longe o maior mestre do realismo de todos os Zolas do passado, presente e futuro, nos proporciona na sua Comédie Humaine, uma história maravilhosamente realista da sociedade francesa, especialmente do le monde parisien,  descrevendo, no estilo  crônica, quase ano a ano, de 1816 a 1848, a pressão crescente da ascensão da burguesia sobre a sociedade de nobres que se reestabeleceu a partir de 1815 e voltou a instalar, tão rápido quanto possível, no padrão da vieille politesse française. Ele descreve como os derradeiros resíduos daquela, para ele, sociedade modelo, sucumbiram gradualmente ante a explosiva intrusão dos vulgares endinheirados ou foi corrompida por eles; como uma grande dama cujas infidelidades conjugais não passavam de uma maneira de firmar a sua posição, em perfeito acordo com a forma como lhe tinham destinado o casamento, cedeu lugar à burguesia, que adquiriu o marido em troca de dinheiro ou luxos (“ for cash or cashmere”); e em torno desta imagem central, ele tece uma história completa da Sociedade Francesa, da qual, mesmo em pormenores econômicos (como, por exemplo, a redistribuição da propriedade real e privada após a Revolução),  eu aprendi mais do que com todos os historiadores, economistas e estatísticos profissionais do período, juntos.       
Ora, Balzac era politicamente um legitimista; a sua obra grandiosa constitui uma elegia permanente da inevitável decadência da boa sociedade, suas simpatias vão todas para a classe condenada à extinção. Mas, apesar de tudo isso, a sua sátira   nunca é a mais aguçada e a sua ironia nunca a mais amarga,  quando coloca em ação os verdadeiros homens e mulheres com os quais simpatiza mais profundamente – os nobres. E os únicos homens aos quais se refere com indisfarçada admiração são os seus antagonistas políticos mais acirrados, os heróis republicanos do Cloitre Saint-Méry, aqueles que nessa época (1830-36) eram os verdadeiros representantes das massas populares.
Desse modo, Balzac tanto foi compelido a agir contra as suas próprias simpatias de classe e preconceitos políticos, quanto ele percebia a necessidade da queda dos seus favoritos nobres e os descrevia como pessoas  não merecedoras de melhor sorte, e via os verdadeiros homens do futuro onde, temporariamente, eles seriam encontrados sozinhos – tudo isto eu considero um dos maiores triunfos do realismo e das maiores características do velho Balzac ”. 



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