sábado, 18 de fevereiro de 2012

Repensar a teoria crítica do capitalismo. Parte 2

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Moishe Postone, professor de história da Universidade de Chicago, tem se dedicado a fazer uma revisita à obra de Marx com a perspectiva do nosso século. Já dediquei algumas postagens aos seus textos. Na palestra com o titulo acima, Postone fala da dinâmica complexa do capitalismo e afirma que mesmo o “desenvolvimento de produção tecnologicamente sofisticada não liberta as pessoas do trabalho fragmentado e repetitivo”.

O entendimento da dinâmica complexa do capitalismo a que me referi permite uma análise crítica e social (e não tecnológica) da trajetória de crescimento e da estrutura de produção na sociedade moderna. O conceito-chave de Marx de trabalho excedente não indica apenas, como o fazia a interpretação tradicional, que o excedente é produzido pela classe trabalhadora, mas que o capitalismo é caracterizado por uma forma de crescimento determinada e incontrolável. O problema do crescimento econômico no capitalismo, dentro do seu quadro, não é apenas dominado pela crise, como tem sido frequentemente, de modo correto, enfatizado pelas aproximações marxistas tradicionais. É a própria forma de crescimento, que tem como consequência a destruição acelerada do ambiente natural, que é, ela própria, problemática. A trajetória de crescimento seria bem diferente, de acordo com esta aproximação, se o objetivo último da produção fosse uma quantidade crescente de bens, e não de valor excedente.
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A compulsão do capital para aumentos permanentes na produtividade abre caminho para um aparato produtivo, de sofisticação tecnológica considerável, que torna possível a produção de riqueza material essencialmente independente do dispêndio direto de tempo de trabalho humano. Isso, por sua vez, coloca a possibilidade de reduções socialmente gerais em larga escala do tempo de trabalho e de alterações fundamentais na natureza e na organização social do trabalho. No entanto, essas possibilidades não são nem podem ser realizadas no capitalismo. O desenvolvimento de produção tecnologicamente sofisticada não liberta as pessoas do trabalho fragmentado e repetitivo. De modo semelhante, o tempo de trabalho não é reduzido em níveis socialmente gerais, mas é distribuído desigualmente, aumentando mesmo para muitos.”

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