sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A volta de Marx?

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O jornalista  Sergio Lamucci fez hoje/26/08 uma interessante postagem no portal do jornal Valor Econômico, com o titulo acima e cuja íntegra da transcrição segue abaixo:

E Karl Marx parece voltar à moda. Com a deterioração econômica nos países desenvolvidos e o surgimento de tensões sociais  em cidades como Londres, o amigo de Friedrich Engels tem sido citado por vários analistas, sempre em tom elogioso. Segundo economistas como Nouriel Roubini , da RGE Economics, e Walter Molano, da BCP Securities,  algumas das ideias do autor de "O capital" são um instrumento poderoso para  entender o que se passa no mundo hoje.
Um dos primeiros economistas a antever a crise que eclodiu em 2007 e se agravou em 2008, Roubini escreveu, no artigo “O capitalismo está condenado?”, que “Karl Marx, ao que parece, estava parcialmente correto ao argumentar que  globalização e intermediação financeira descontrolada e redistribuição de renda e riqueza do trabalho para o capital poderiam levar o capitalismo à autodestruição (embora a sua visão de que o socialismo seria melhor tenha se provado errada).”
O próprio Roubini notou no Twitter que Marx se tornou “mainstream” no mercado. Destacou que, além de Molano, o consultor econômico sênior do UBS, George Magnus, e o professor Stefan Stern, da Cass Business School, de Londres,  falaram do trabalho do alemão em termos altamente positivos.
No artigo "O verão do descontentamento", Molano lembra que Marx é atacado por sua teoria do comunismo, mas que, “infelizmente, os seus detratores sabem pouca coisa sobre a sua obra”. Segundo Molano,”Marx foi um dos grandes economistas clássicos, e teve enormes contribuições para o desenvolvimento das ciências sociais”.  Partindo do conceito de divisão do trabalho de Adam Smith e das vantagens comparativas de David Ricardo, “Marx estabeleceu uma teoria do trabalho que lhe permitiu explicar a determinação dos salários, assim como a segmentação da sociedade em três classes”, diz Molano, referindo-se ao proletariado e à burguesia, nos extremos, e à pequena burguesia, ou classe média, como grupo intermediário.
Para ele, ao focar no componente de valor agregado do trabalho, na produtividade e na propriedade dos fatores de produção, Marx teve um papel importante na compreensão do capitalismo. “É por causa disso que o arcabouço marxista nos ajuda a entender o verão do descontentamento.” Com o uso do crédito financeiro, o bombardeio da mídia e o varejo de massas, havia uma ilusão de crescente prosperidade para todos. A classe média, “sempre um grupo em transição com probabilidade igual de se mover para cima ou para baixo”, é agora espremida por fatores como a desaceleração da atividade econômica global e a desalavancagem  (o processo de redução do nível de endividamento).
“Além disso, a não ser que os membros da classe média tenham educação e habilidade para adicionar valor aos seus serviços para serem mais produtivos, eles vão em breve ser forçados a aceitar a baixa remuneração do proletariado”, diz Molano.  Esse cenário cria enorme frustração para bilhões de jovens. Relutando em aceitar essa situação, “eles tomam as ruas – virando carros, jogando coquetéis Molotov e saqueando indiscriminadamente.”
Magnus cita o alemão no relatório “As convulsões da economia política”: “A um certo estágio de desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em conflito com as relações existentes de produção ou (...) com as relações de propriedade dentro do arcabouço no qual eles haviam operado até aquele momento.” 
Segundo Magnus, não é necessário ser “membro da Internacional Socialista" para reconhecer a relevância das palavras do alemão. “Para Marx, o conflito pós-feudal levaria a uma revolução social e derrubaria a sociedade burguesa, mas nós sabemos que isso não ocorre, porque o modelo ocidental de desenvolvimento econômico reviu e democratizou o conceito de propriedade (dos meios de produção”., escreve Magnus. Apesar disso, diz ele, o “velho era um analista bastante sagaz”, que aprendeu muito de economia política de economistas como Adam Smith e David Ricardo, entre outros, “oferecendo alguns insights ainda relevantes sobre como e por que as coisas ocorrem na economia e na sociedade”.
A citação acima, diz o economista do UBS, “captura a ideia importante de conflito ou turbulência quando ocorrem eventos que levam a desafios ao poder, autoridade e legitimidade da ordem política e econômica existente”. Para ele, nos  últimos meses, ocorreu "uma sucessão desses desafios na zona do euro, nos EUA e até mesmo, de modo embrionário, na China”.
Stern, por fim, escreveu que “Marx estava certo sobre a mudança”, ressaltando o fato de alemão  ter dito que, embora interpretar o mundo seja algo importante, o ponto mais relevante é mudá-lo. “Se os capitalistas querem manter o seu mundo seguro para o capitalismo, eles precisam enfrentar o que está errado com ele e mudá-lo rapidamente.”

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