quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O novo está contido no velho.


Está registrado no Formen – em carta a Engels, em 25 de março de 1868, Marx afirma que a “a história humana é como a paleontologia” e as pessoas ainda se surpreendem em descobrir “o que é mais novo no que é mais velho”. Certamente, uma visão dialética herdada do ex-mestre Hegel.....
“ A história humana é como a paleontologia. Devido a uma certa cegueira crítica, mesmo as melhores inteligências falham completamente, deixando ver as coisas que estão à frente de seus narizes. Mais tarde, quando chega o momento, surpreendemo-nos encontrando, por toda parte, vestígios do que não tínhamos visto. A primeira reação contra a Revolução Francesa e o período do Iluminismo ligado a ela foi, naturalmente, ver tudo como medieval e romântico, mesmo um homem como Grimm não se livrou disto. A segunda reação foi a de olhar, além da Idade Média, para dentro da era primitiva de cada nação, e esta corresponde à tendência socialista, embora aqueles homens eruditos não tivessem ideia de que houvesse qualquer conexão entre elas. Ficam, portanto, surpresos ao descobrir o que é mais novo no que é mais velho – mesmo os igualitários, a um ponto que faria Proudhon tremer.”

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Engels, no funeral de Marx.


Em 17 de março de 1883, 11 pessoas teriam comparecido ao funeral de Marx no cemitério de Highgate. A seguir, trechos do discurso de Engels.

“Assim como Darwin em relação a lei do desenvolvimento dos organismos naturais, descobriu Marx a lei do desenvolvimento da História humana: o simples fato, escondido sobre crescente manto ideológico, de que os homens reclamam antes de tudo comida, bebida, moradia e vestuário, antes de poderem praticar a política, ciência, arte, religião, etc.; que portanto a produção imediata de víveres e com isso o correspondente estágio econômico de um povo ou de uma época constitui o fundamento a parir do qual as instituições políticas, as instituições jurídicas, a arte e mesmo as noções religiosas do povo em questão se desenvolve, na ordem em elas devem ser explicadas – e não ao contrário como nós até então fazíamos.
Isso não é tudo. Marx descobriu também a lei específica que governa o presente modo de produção capitalista e a sociedade burguesa por ele criada. Com a descoberta da mais-valia iluminaram-se subitamente esses problemas, enquanto que todas as investigações passadas, tanto dos economistas burgueses quanto dos críticos socialistas, perderam-se na obscuridade.
.....................................................................................................
A ciência era para Marx um impulso histórico, uma força revolucionária. Por muito que ele podia ficar claramente contente com um novo conhecimento em alguma ciência teórica, cuja utilização prática talvez ainda não se revelasse – um tipo inteiramente diferente de contentamento ele experimentava, quando tratava-se de um conhecimento que exercia imediatamente uma mudança na indústria, e no desenvolvimento histórico em geral. Assim por exemplo ele acompanhava meticulosamente os avanços de pesquisa na área de eletricidade, e recentemente ainda aquelas de Marc Deprez.
Pois Marx era antes de tudo revolucionário. Contribuir, de um ou outro modo, com a queda da sociedade capitalista e de suas instituições estatais, contribuir com a emancipação do moderno proletariado, que primeiramente devia tomar consciência de sua posição e de seus anseios, consciência das condições de sua emancipação – essa era sua verdadeira missão em vida. O conflito era seu elemento. E ele combateu com uma paixão, com uma obstinação, com um êxito, como poucos tiveram. “


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Que convergência existe entre Marx e Keynes? Parte 2


A pergunta recebeu, em “Yahoo – Respostas”/2006 uma versão considerada “boa” pelos internautas, segue abaixo:
“São dois críticos da Escola Neoclássica.
O principal ponto de apoio de ambos para a formulação dessas críticas - que acabou por transformar-se numa espécie de denominador comum desses autores, aproximando suas conclusões, foi a ausência de uma teoria de demanda agregada na construção do pensamento clássico. A célebre lei de Say ainda continuava mais viva do que nunca, do ponto de vista neoclássico, em pleno século vinte.
Esse ataque, especialmente da parte de Keynes foi o que teve maiores repercussões na “Academia”. Antes , porém, ainda que de maneira dispersa em sua extensa obra, Marx já havia revelado conhecer a relação existente entre as alterações salariais e a demanda agregada.
Dessa maneira, a demanda é o “fio condutor” que liga Marx-Keynes entre si, ainda que possa ser argumentado que a crítica de Keynes é interna à estrutura clássica, ao passo que Marx desenvolveu uma crítica “de fora” do sistema.”

domingo, 28 de agosto de 2011

Que convergência existe entre Marx e Keynes? Parte 1


Keynes nasceu em 1883, em Cambridge – exatos 83 dias após a morte de Marx, em Londres. Além do clássico de John Eaton – “Marx contra Keynes” – centenas de textos e ensaios foram escritos sobre convergências e divergências entre as duas obras. “Marx contra Keynes”, no Google, apresenta 8,75 milhões de ocorrências Transcrevo a seguir o trecho do “Resumo” da tese “O PAPEL DA MOEDA EM MARX E KEYNES”  de Vanessa da Costa Val e Lucas Linhares.
“Apontamos a proximidade entre Marx e Keynes na medida em que ambos os autores sublinham a importância das relações entre os lados real e monetário econômicos, defendendo assim a não neutralidade da moeda, que assume papel fundamental à análise e compreensão da atividade econômica. Não obstante, enquanto para Keynes a moeda é um ativo que confere a garantia contra a incerteza que permeia a economia, para Marx é a relação social que explicita a dependência recíproca a que estão sujeitos os produtores privados, donde a dimensão da incerteza mercantil também assume papel crucial. Tendo em vista que ambos destacam a importância analítica da moeda – ainda que para tanto apresentem razões diferentes –, esta se torna fundamental para a dinâmica capitalista, salientando a importância da análise monetária, geralmente negligenciada no campo econômico convencional.”

sábado, 27 de agosto de 2011

Marx ou Lula, para "presidente do mundo"?


Em julho/2011, o “Yahoo respostas” formulou a seguinte pergunta: “Marx , Lula, Stalin ou Lenin, em quem você votaria para "presidente" do mundo? Todos grandes homens , e revolucionaram o seu tempo a sua maneira.”
Entre as inúmeras respostas, uma bem criativa e que foi avaliada como “boa” por 11 internautas:
Marx - Iria ficar viajando e tentando atender as expectativas de um mundo melhor.
Lula - Iria fazer um grande mensalão a nível mundial.
Stalin - Nem pensar esse faria o mesmo que fez na URSS(milhões iriam morrer).
Lenin - Esse nem preciso explicar.

Marx + Vinicius = "Operário em construção"

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O poetinha Vinicius de Moraes foi muito além das canções românticas que envolveram corações. Seu poema “Operário em construção” é obra prima da poesia engajada e remete às teses do velho Karl. Selecionei um trecho que remete ao tema da conscientização operária, mas a íntegra pode ser lida em http://orientacaomarxista.blogspot.com/2010/05/o-operario-em-construcao-vinicius-de.html
“........................................
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:

Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.
..........................................
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.”

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Propriedade privada e comunismo.


Em 1844, Marx escreve os “Manuscritos Econômicos-Filosóficos”. No terceiro manuscrito, em “ Propriedade privada e comunismo”, classifica o comunismo como a “resolução definitiva do antagonismo entre o homem e a natureza e entre o homem e seu semelhante”.

“O comunismo é a abolição positiva da propriedade privada, da auto-alienação humana e, pois, a verdadeira apropriação da natureza humana através do e para o homem. ele é, portanto, o retorno do homem a si mesmo como um ser social, isto é, realmente humano, um regresso completo e consciente que assimila toda a riqueza da evolução precedente. O comunismo como um naturalismo plenamente desenvolvido é humanismo e como humanismo plenamente desenvolvido é naturalismo. É a resolução definitiva do antagonismo entre o homem e a natureza, e entre o homem e seu semelhante. É a verdadeira solução do conflito entre existência e essência, entre objetificação e auto-afirmação, entre liberdade e necessidade, entre indivíduo e espécie. É a resposta ao enigma da História e tem conhecimento disso.”

A volta de Marx?

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O jornalista  Sergio Lamucci fez hoje/26/08 uma interessante postagem no portal do jornal Valor Econômico, com o titulo acima e cuja íntegra da transcrição segue abaixo:

E Karl Marx parece voltar à moda. Com a deterioração econômica nos países desenvolvidos e o surgimento de tensões sociais  em cidades como Londres, o amigo de Friedrich Engels tem sido citado por vários analistas, sempre em tom elogioso. Segundo economistas como Nouriel Roubini , da RGE Economics, e Walter Molano, da BCP Securities,  algumas das ideias do autor de "O capital" são um instrumento poderoso para  entender o que se passa no mundo hoje.
Um dos primeiros economistas a antever a crise que eclodiu em 2007 e se agravou em 2008, Roubini escreveu, no artigo “O capitalismo está condenado?”, que “Karl Marx, ao que parece, estava parcialmente correto ao argumentar que  globalização e intermediação financeira descontrolada e redistribuição de renda e riqueza do trabalho para o capital poderiam levar o capitalismo à autodestruição (embora a sua visão de que o socialismo seria melhor tenha se provado errada).”
O próprio Roubini notou no Twitter que Marx se tornou “mainstream” no mercado. Destacou que, além de Molano, o consultor econômico sênior do UBS, George Magnus, e o professor Stefan Stern, da Cass Business School, de Londres,  falaram do trabalho do alemão em termos altamente positivos.
No artigo "O verão do descontentamento", Molano lembra que Marx é atacado por sua teoria do comunismo, mas que, “infelizmente, os seus detratores sabem pouca coisa sobre a sua obra”. Segundo Molano,”Marx foi um dos grandes economistas clássicos, e teve enormes contribuições para o desenvolvimento das ciências sociais”.  Partindo do conceito de divisão do trabalho de Adam Smith e das vantagens comparativas de David Ricardo, “Marx estabeleceu uma teoria do trabalho que lhe permitiu explicar a determinação dos salários, assim como a segmentação da sociedade em três classes”, diz Molano, referindo-se ao proletariado e à burguesia, nos extremos, e à pequena burguesia, ou classe média, como grupo intermediário.
Para ele, ao focar no componente de valor agregado do trabalho, na produtividade e na propriedade dos fatores de produção, Marx teve um papel importante na compreensão do capitalismo. “É por causa disso que o arcabouço marxista nos ajuda a entender o verão do descontentamento.” Com o uso do crédito financeiro, o bombardeio da mídia e o varejo de massas, havia uma ilusão de crescente prosperidade para todos. A classe média, “sempre um grupo em transição com probabilidade igual de se mover para cima ou para baixo”, é agora espremida por fatores como a desaceleração da atividade econômica global e a desalavancagem  (o processo de redução do nível de endividamento).
“Além disso, a não ser que os membros da classe média tenham educação e habilidade para adicionar valor aos seus serviços para serem mais produtivos, eles vão em breve ser forçados a aceitar a baixa remuneração do proletariado”, diz Molano.  Esse cenário cria enorme frustração para bilhões de jovens. Relutando em aceitar essa situação, “eles tomam as ruas – virando carros, jogando coquetéis Molotov e saqueando indiscriminadamente.”
Magnus cita o alemão no relatório “As convulsões da economia política”: “A um certo estágio de desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em conflito com as relações existentes de produção ou (...) com as relações de propriedade dentro do arcabouço no qual eles haviam operado até aquele momento.” 
Segundo Magnus, não é necessário ser “membro da Internacional Socialista" para reconhecer a relevância das palavras do alemão. “Para Marx, o conflito pós-feudal levaria a uma revolução social e derrubaria a sociedade burguesa, mas nós sabemos que isso não ocorre, porque o modelo ocidental de desenvolvimento econômico reviu e democratizou o conceito de propriedade (dos meios de produção”., escreve Magnus. Apesar disso, diz ele, o “velho era um analista bastante sagaz”, que aprendeu muito de economia política de economistas como Adam Smith e David Ricardo, entre outros, “oferecendo alguns insights ainda relevantes sobre como e por que as coisas ocorrem na economia e na sociedade”.
A citação acima, diz o economista do UBS, “captura a ideia importante de conflito ou turbulência quando ocorrem eventos que levam a desafios ao poder, autoridade e legitimidade da ordem política e econômica existente”. Para ele, nos  últimos meses, ocorreu "uma sucessão desses desafios na zona do euro, nos EUA e até mesmo, de modo embrionário, na China”.
Stern, por fim, escreveu que “Marx estava certo sobre a mudança”, ressaltando o fato de alemão  ter dito que, embora interpretar o mundo seja algo importante, o ponto mais relevante é mudá-lo. “Se os capitalistas querem manter o seu mundo seguro para o capitalismo, eles precisam enfrentar o que está errado com ele e mudá-lo rapidamente.”

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Marx X Adam Smith X Keynes parte 5


A mais eficaz medida de interesse por um tema na web é o numero de “resultados” em uma busca no Google. Em 6 de janeiro de 2011, eram os seguintes os resultados para Marx – 24,4 milhões; Adam Smith – 11 milhões e Keynes – 13,5 milhões.  Em 3 de março os números eram Marx – 48,7 milhões; Adam Smith – 14,8 milhões; Keynes – 22,3 milhões. Em 18 de maio, Marx – 50,9 milhões; Adam Smith – 15,3 milhões; Keynes – 33,7 milhões. Em 25 de agosto, Marx – 91,3 milhões; Adam Smith – 28,4 milhões; Keynes – 50,1 milhões.
A cada dia, o velho Karl é mais revisitado !!!!!!!

 

domingo, 21 de agosto de 2011

FORMEN.Formações Econômicas Pré-Capitalistas. Parte 3


As notas de Marx (1857/58) sobre as FORMAS QUE PRECEDERAM A PRODUÇÃO CAPITALISTA ( Formen die der Kapitalistischen Produktion), comumente identificadas por FORMEN, usam uma linguagem simples e de fácil entendimento. Segue um pequeno trecho sobre o antagonismo Cidade – Campo, que teria começado com “a transição da barbárie para a civilização”:

“A maior divisão do trabalho material e mental é a separação da cidade e campo. O antagonismo entre cidade e campo começa com a transição da barbárie para a civilização, da tribo para o Estado, da localidade para a nação, e percorre toda a história da civilização até nossos dias ( a LIGA CONTRA A LEI DOS CEREAIS).
A existência da cidade implica , ao mesmo tempo, a necessidade de administração, de policia, de impostos, etc. , em resumo: do município e, portanto, da política em geral. Aí, primeiramente, tornou-se expressa a divisão da população em duas grandes classes, diretamente baseada na divisão do trabalho e nos instrumentos de produção.
A cidade já é, na realidade, a concentração de população, de instrumentos de produção, de capital, de prazeres, de necessidades, enquanto o campo representa, justamente, o oposto, seu isolamento e separação.
O antagonismo cidade X campo só pode existir como conseqüência da propriedade privada. É a mais crassa expressão da submissão do indivíduo sob a divisão do trabalho, a uma atividade definida que lhe é imposta – uma sujeição que transforma um homem em um limitado animal citadino e o outro em um restrito animal do campo e, diariamente, renova o conflito entre seus interesses.
O trabalho é, aqui, novamente, o elemento principal, o poder sobre os indivíduos e enquanto este existir a propriedade privada terá de existir.
A abolição do antagonismo entre cidade e campo é uma das primeiras condições da vida comunal, uma condição que depende , também,  de uma série de premissas materiais e que não pode ser atendida pela simples vontade, como qualquer um poderá constatar à primeira vista.”

sábado, 20 de agosto de 2011

FORMEN.Formações Econômicas Pré-Capitalistas. Parte 2


As notas de Marx (1857/58) sobre as FORMAS QUE PRECEDERAM A PRODUÇÃO CAPITALISTA ( Formen die der Kapitalistischen Produktion), comumente identificadas por FORMEN, usam uma linguagem simples e de fácil entendimento. Selecionei um pequeno e, quase Ingênuo, trecho sobre a origem da “dominação capitalista”.
“ Historicamente, o dinheiro é muitas vezes transformado em capital de um modo muito simples e óbvio. Assim, o comerciante põe a trabalhar uma porção de fiandeiros e tecelões, que anteriormente dedicavam-se a tais atividades como ocupações subsidiárias de seu trabalho agrícola; assim, transforma uma atividade subsidiária em principal, com o que coloca-os sob seu controle e comando, como trabalhadores assalariados.
O passo seguinte será removê-los de seus lares e reuni-los numa única oficina de trabalho. Neste processo simples fica evidente que o capitalista não preparou nem matéria prima, nem instrumentos, nem meios de subsistência para fiandeiros e tecelões.
Tudo o que ele fez foi, gradualmente, limitá-los a uma espécie de trabalho que os torna dependentes do comprador, o mercador e, assim, finalmente, eles estarão produzindo exclusivamente para ele e por intermédio dele.
Originalmente, comprava seu trabalho, apenas, mediante a compra de seu produto. Logo que se restringiram à produção deste valor de troca e, portanto, foram obrigados a produzir valores de troca imediatos e a trocar seu trabalho todo por dinheiro para poder prosseguir vivendo, caíram sob seu domínio.
Finalmente, mesmo a ilusão de lhe vender seus produtos desaparece. O mercador compra seu trabalho e arrebata-lhes, primeiramente, sua propriedade do produto, e, logo, sua propriedade dos instrumentos de trabalho, a menos que lhes permita a ilusão de propriedade para reduzir seus custos de produção.”

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Verissimo e Marx.

Depois do Delfim, a adesão do humorísta (humorista?) Verissimo ao velho Karl. Vide abertura do artigo hoje em O Globo: "Marx não chegou a pedir que esquecessem tudo que ele tinha escrito, mas confessou
que a invenção do trem e do navio a vapor o forçavam a repensar algumas de suas teorias sobre o futuro do capitalismo."

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

FORMEN.Formações Econômicas Pré-Capitalistas. Parte 1


As notas de Marx (1857/58) sobre as FORMAS QUE PRECEDERAM A PRODUÇÃO CAPITALISTA ( Formen die der Kapitalistischen Produktion), comumente identificadas por FORMEN, somente foram traduzidas para o inglês em 1964, e enriquecidas por prefácio de Eric Hobsbawn. Sua tradução para o português acontece em 1975, em edição da Paz e Terra, quando participavam de seu conselho editorial Max da Costa Santos (meu professor de Teoria Geral do Estado, na Nacional de Direito), Celso Furtado, Fernando Henrique Cardoso e Antonio Cândido de Melo e Souza. A direção da coleção ( Pensamento Crítico): Francisco Weffort, Boris Fausto e Otávio Guilherme Velho. A tradução é de João Maia e a revisão de Alexandre Addor – meu companheiro dos tempos de CACO (o centro acadêmico da Nacional de Direito) - aprovado no concurso do Itamaraty, perseguido pela ditadura militar e reabilitado por FHC. As próximas postagens serão dedicadas a trechos do prefácio de Hobsbawn e do FORMEN.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Heráclito, Hegel, Marx e Darwin.


Heráclito viveu há dois mil e quinhentos anos, interpretou a realidade de forma única, tendo como princípio o devir - “ Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”. Marx e Darwin eram seguidores de Heráclito. Hegel é influenciado pelo pensamento de Heráclito como ele próprio afirma em sua frase: “Não existe frase de Heráclito que eu não tenha usado em minha Lógica.” Marx foi hegeliano na juventude e admirador de Darwin. E para completar as intrincadas relações a afirmativa surrealista de Philip Johnson em Darwin on Trial (“Darwin em Julgamento”) : A noção de Darwin relativa a sobrevivência do mais adaptável foi elemento chave tanto para o conceito marxista da luta de classes quanto para as filosofias raciais que deram forma ao hitlerismo”.


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Marx e Darwin.


Marx leu "A Origem das Espécies” em 1860, quase um ano depois da obra tornar-se o primeiro best-seller da literatura científica da idade moderna. Encantado com a tese do evolucionismo escreve a Engels que o livro continha ''a base de história natural para nossa visão'' – a teoria do materialismo dialético –, que tinha desmontado a teologia, e que fora escrito à ''maneira inglesa crua de apresentação''. Em carta a Lassalle, comenta que ''o livro de Darwin é muito importante e me serve de base, na ciência natural, para a luta de classes na história''. Meses depois, em nova carta a Engels, registra uma crítica dessa obra de Darwin, tendo como pressuposto a sociedade vitoriana: ''É notável como Darwin reconhece entre animais e plantas sua sociedade inglesa com sua divisão de trabalho, competição, abertura de novos mercados, 'invenções' e a 'luta pela existência' malthusiana. É o 'bellum omnium contra ommnes' (guerra de todos contra todos) de Hobbes, e lembra a Fenomenologia de Hegel onde a sociedade civil é descrita como um 'reino animal e espiritual', enquanto em Darwin o reino animal figura como sociedade civil''.
Em 1873, envia ao cientista inglês um exemplar de “O Capital”. E Darwin agradece o envio: ''Agradeço-lhe por ter-me honrado com a remessa de sua grande obra sobre o capital, e, de todo o coração, gostaria de ser mais digno de recebê-la, tendo uma compreensão melhor do tema profundo e importante da economia política. Conquanto nossos estudos tenham sido muito diferentes, creio que ambos desejamos sinceramente a ampliação do saber e, a longo prazo, é certo que isso contribuirá para a felicidade da humanidade''.
A versão de que Marx teria manifestado o desejo de dedicar o segundo volume de “O Capital” a Darwin e que ele recusara a homenagem por “impedimentos familiares” – sua mulher Emma era muito religiosa – parece falsa.
 A confusão teria sido gerada por uma carta que  Darwin escreveu a Edward B. Aveling – que, pouco tempo depois casaria com Jenny, filha de Marx - recusando a dedicatória que Aveling, faria para ele no folheto Darwin para estudantes.
Diante da sepultura de Marx, Engels faz a seguinte afirmativa : "Assim como Darwin descobriu a lei do desenvolvimento da natureza orgânica, Marx descobriu a lei do desenvolvimento da história humana"

domingo, 14 de agosto de 2011

Engels: Hegel versus "Hegelianos".


Agosto de 1859. Engels escreve artigo para o jornal “Das Volk” comentando a obra de Marx “Contribuição Para a Crítica da Economia Política”, publicada no início daquele ano. Conforme já postamos recentemente, a obra, que consumiu 15 anos de pesquisa, foi reescrita e incorporada ao 1º volume de “O Capital”.
A grande atração do texto é a parte dedicada a Hegel – “guru” da juventude de Marx e Engels e colocado de lado por ambos, na idade madura. Embora criticando o “idealismo” de Hegel ( em minha pobre opinião, sua virtude principal), reconhece sua contribuição e critica os “hegelianos”........Selecionei dois trechos que merecem uma reflexão. Uma “palinha” para induzir à leitura: “O que distinguia o modo de pensar de Hegel do de todos os outros filósofos era o enorme sentido histórico que lhe estava subjacente. Por abstrata e idealista que fosse a forma, o desenvolvimento do seu pensamento não deixava de ir sempre em paralelo com o desenvolvimento da história universal....”
“ Desde a morte de Hegel quase nenhuma tentativa foi feita para desenvolver uma ciência no seu próprio encadeamento interno. Da dialética do mestre, a escola hegeliana oficial tinha-se apropriado apenas da manipulação dos artifícios mais simples, que aplicava a toda e qualquer coisa e, frequentemente ainda, com uma ridícula falta de jeito. Todo o legado de Hegel  se limitava, para ela, a um puro chavão, com a ajuda do qual cada tema era construído de uma forma apropriada, e a um índice de palavras e de maneiras de dizer que não tinham qualquer outro fim do que estarem presentes no momento certo em que as ideias e os conhecimentos positivos faltassem. Aconteceu, assim, que, tal como um professor de Bona disse, estes hegelianos não percebiam nada de nada, mas podiam escrever sobre tudo. E certamente assim era. No entanto, estes senhores, apesar da sua suficiência, tinham, contudo, uma tal consciência da sua debilidade que se mantinham o mais possível afastados das grandes tarefas; a velha e antiquada ciência conservava o seu terreno, em virtude da sua superioridade em saber positivo; e só quando Feuerbach despediu o conceito especulativo é que a hegelianice se foi gradualmente apagando e pareceu que o império da velha metafísica com as suas categorias fixas tinha começado de novo na ciência.
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Havia, portanto, aqui uma outra questão para resolver, que não tinha nada a ver com a Economia Política em si. Como tratar da ciência? De um lado, encontrava-se a dialética de Hegel, na forma "especulativa", completamente abstrata, em que Hegel a tinha deixado; do outro lado, o método ordinário, essencialmente metafísico-wollfiano, agora novamente na moda, segundo o qual os economistas burgueses tinham escrito os seus grossos livros falhos de coerência. Este último tinha sido de tal modo teoricamente aniquilado por Kant e, sobretudo, por Hegel, que só a inércia e a falta de um outro método simples puderam tornar possível a sua persistência prática. Por outro lado, na sua forma presente, o método de Hegel era absolutamente inutilizável. Ele era essencialmente idealista, e aqui tratava-se de desenvolver uma visão do mundo que era mais materialista do que todas as anteriores. Ele partia do pensamento puro, e aqui devia partir-se dos fatos mais obstinados. Um método que, segundo o seu próprio testemunho, "de nada através de nada chegava a nada, não estava, nesta [sua] forma, de modo algum, no lugar [certo]. Apesar disso, de entre todo o material lógico atual, era o único fragmento a que ao menos se podia ligar. Não tinha sido criticado, não tinha sido superado; nenhum dos adversários do grande dialético tinha podido abrir uma brecha no seu glorioso edifício; tinha desaparecido, porque a escola de Hegel não tinha sabido agarrá-lo. Antes do mais, tratava-se, portanto, de submeter o método de Hegel a uma crítica eficaz.
O que distinguia o modo de pensar de Hegel do de todos os outros filósofos era o enorme sentido histórico que lhe estava subjacente. Por abstrata e idealista que fosse a forma, o desenvolvimento do seu pensamento não deixava de ir sempre em paralelo com o desenvolvimento da história universal, e esta última, propriamente, não deverá ser senão a prova do primeiro. Ainda que, por este fato, a relação correta tenha sido também invertida e posta de pernas para o ar, o seu conteúdo real penetrou, contudo, por todo o lado, na filosofia; tanto mais que Hegel se diferenciava dos seus discípulos em que não se gabava, como eles, da sua ignorância, mas era uma das cabeças mais sábias de todos os tempos. Foi ele o primeiro a procurar mostrar um desenvolvimento, um encadeamento interno, na história e, por estranha que agora muita coisa na sua filosofia da história nos possa parecer, a grandiosidade da própria visão fundamental é ainda hoje digna de admiração, quando se lhe comparam os seus predecessores ou mesmo aqueles que depois dele se permitiram reflexões universais sobre a história. Na Fenomenologia, na Estética, na História da Filosofia, por toda a parte perpassa esta grandiosa concepção da história e, por toda a parte, a matéria é tratada historicamente, numa conexão determinada, ainda que também abstratamente distorcida, com a história.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O prefácio da 1ª edição de "O Capital".


Em julho de 1867, Marx escreve o prefácio da 1ª edição alemã do primeiro volume de “O Capital. No primeiro parágrafo, informa que a obra é continuação do “Para Critica da Economia Política”, de 1859, e que a culpa pelo longo intervalo entre começo e continuação foi uma doença de muitos anos que, repetidamente, interrompeu o trabalho. Marx critica a situação social da Alemanha e do resto da Europa Ocidental quando comparada com a inglesa. Selecionei um trecho onde ele registra a esperança de que o “processo revolucionário palpável “ da Inglaterra irá repercutir no continente:
“Assim como a guerra da independência americana do século XVIII repercutiu na classe média europeia, a guerra civil americana do século XIX repercutiu na classe operária europeia. Na Inglaterra, o processo revolucionário é palpável. Num certo ponto culminante irá repercutir no continente em formas mais brutais ou mais humanas, segundo o grau de desenvolvimento da própria classe operária. Sem considerar motivos mais elevados, o interesse próprio das classes agora dominantes impõe a remoção de todos os obstáculos legalmente controláveis que entravem o desenvolvimento da classe operária. Por isso, reservei um lugar tão circunstanciado neste volume, entre outras coisas, à história, ao conteúdo e aos resultados da legislação fabril inglesa. Uma nação deve e pode aprender com outra. Mesmo quando uma sociedade chega a descobrir a pista da lei natural do seu movimento — e o fim último desta obra é desvendar a lei econômica do movimento da sociedade moderna —, ela não pode nem saltar por cima nem pôr de lado por decreto fases de desenvolvimento conformes à natureza. Mas pode encurtar e atenuar as dores do parto.”

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A Burguesia e a Contra-Revolução.


Em 15 de dezembro de 1848 ( ano de publicação do “Manifesto”), Marx publica na Nova Gazeta Renana texto sobre o papel da burguesia nas revoluções de 1648 e 1789. Segundo ele, “em 1648, a burguesia estava ligada à nobreza moderna contra a realeza, contra a nobreza feudal e contra a Igreja dominante; em 1789,  ao povo contra a realeza, a nobreza e a Igreja dominante.” Vide um pequeno trecho e a url para a leitura da íntegra:

“As revoluções de 1648 e de 1789 de modo algum foram revoluções inglesas ou francesas, foram revoluções de estilo europeu. Não foram a vitória de uma classe determinada da sociedade sobre a velha ordem política; foram a proclamação da ordem política para a nova sociedade europeia. Nelas, a burguesia venceu; mas a vitória da burguesia foi então a vitória de uma nova ordem social, a vitória da propriedade burguesa sobre a feudal, da nacionalidade sobre o provincianismo, da concorrência sobre a corporação, da divisão [da propriedade] sobre o morgadio, da dominação do proprietário da terra sobre o domínio do proprietário pela terra, das luzes sobre a superstição, da família sobre o nome de família, da indústria sobre a preguiça heróica, do direito burguês sobre os privilégios medievais. A revolução de 1648 foi a vitória do século XVII sobre o século XVI, a revolução de 1789 a vitória do século XVIII sobre o século XVII. Estas revoluções exprimem mais ainda as necessidades do mundo de então do que das regiões do mundo em que se deram, a Inglaterra e a França.”
Íntegra: http://www.marxists.org/portugues/marx/1848/12/11.htm

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Inglaterra 1870 - a metrópole do capital.


Em março de 1870, Marx escreve texto demonstrando que “somente a Inglaterra pode servir de alavanca para uma revolução econômica séria” e que seria o único pais em que a forma capitalista teria se apoderado de quase toda a população. Profetiza, ainda, que as condições materiais para a aniquilação do capitalismo estão “ao máximo amadurecidas”. Passados 141 anos, a profecia ainda não se realizou......
“Apesar da iniciativa revolucionária vir com maior verossimilhança da França, somente a Inglaterra pode servir de alavanca para uma revolução econômica séria. É o único país onde já não há mais nenhum camponês e onde a propriedade fundiária está concentrada em poucas mãos. É o único país onde a forma capitalista — quer dizer: o trabalho combinado em grande escala sob empresários capitalistas — se apoderou de quase toda a produção. É o único país em que a grande maioria da população consiste em trabalhadores assalariados (wages labourers). É o único país onde a luta de classes e a organização da classe operária pelas Trade Unions alcançou um certo grau de maturidade e de universalidade. Graças à sua dominação sobre o mercado mundial, a Inglaterra é o único país em que toda a revolução nas relações econômicas tem condições de repercutir imediatamente sobre o mundo inteiro. Se o sistema de senhores da terra [Landlordismus] e o capitalismo têm neste país a sua sede clássica, também, por outro lado, as condições materiais da sua aniquilação estão ao máximo amadurecidas. O Conselho Geral está agora na feliz situação de ter diretamente a mão nesta grande alavanca da revolução proletária; que loucura, sim, quase que se podia dizer: que crime não seria deixá-la apenas em mãos inglesas!
Os ingleses dispõem de todos os pressupostos materiais necessários para uma revolução social. Aquilo que lhes falta é o espírito de generalização e a paixão revolucionária.
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A Inglaterra não deve ser posta simplesmente no mesmo plano dos outros países. Temos de a considerar como a metrópole do capital.”

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Marx.Carta para Abraham Lincoln.


Em novembro de 1864, Marx escreve  carta a Lincoln cumprimentando por sua reeleição. Transcrevo a abertura e o último parágrafo, que resume as esperanças, não realizadas, na administração de “um filho honesto da classe operária”.
“Senhor,
Felicitamos o povo Americano pela sua reeleição por uma larga maioria. Se a palavra de ordem reservada da sua primeira eleição foi resistência ao Poder dos Escravistas [Slave Power], o grito de guerra triunfante da sua reeleição é Morte à Escravatura.
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Os operários da Europa sentem-se seguros de que, assim como a Guerra da Independência Americana iniciou uma nova era de ascendência para a classe média, também a Guerra Americana Contra a Escravatura o fará para as classes operárias. Consideram uma garantia da época que está para vir que tenha caído em sorte a Abraham Lincoln, filho honesto da classe operária, guiar o seu país na luta incomparável pela salvação de uma raça agrilhoada e pela reconstrução de um mundo social.”