Nos três primeiros
parágrafos da seção 1, do capítulo 1, da parte 1 do Volume 1 de O Capital, Marx
agrega duas notas de pé de página com citação de Nicholas Barbon. A seguir a
transcrição do texto inicial do Capital – com grifos nossos -, as notas de pé
de página (*) e (**) e um pouco da figura enigmática de Barbon.
“A riqueza das
sociedades em que domina o modo-de-produção capitalista apresenta-se como
uma "imensa acumulação de mercadorias". A análise da mercadoria, forma elementar desta riqueza, será, por
conseguinte, o ponto de partida da nossa investigação.
A mercadoria é,
antes de tudo, um objeto exterior, uma coisa
que, pelas suas propriedades, satisfaz necessidades humanas de qualquer
espécie. Que essas necessidades tenham a sua origem no estômago ou na
fantasia, a sua natureza em nada altera a questão. *
Todas as
coisas úteis, como o ferro, o papel, etc., podem ser consideradas sob um duplo
ponto de vista: o da qualidade e o da quantidade. Cada uma delas
é um conjunto de propriedades diversas, podendo, por conseguinte, ser útil sob
diferentes aspectos. Descobrir esses diversos aspectos e, ao mesmo tempo, os
diversos usos das coisas, isso é obra da história. **
* "O desejo implica a necessidade; é o apetite do espirito, que lhe é tão natural quanto a fome para o corpo (...) A maior parte [das coisas] retiram o seu valor do fato de satisfazerem as necessidades do espirito" (Nicholas Barbon, A Discourse on coining the new Money lighter 1696, pp. 2 e 3).
** "As coisas
possuem uma virtude intrínseca" (virtude é a designação
especifica de Barbon para o valor-de-uso) "que tem a mesma qualidade em
toda a parte, tal como, por exemplo, a do íman de atrair o ferro" (l. c.
p. 16). A propriedade que o íman tem de atrair o ferro apenas se tornou útil
quando, por seu intermédio, se descobriu a polaridade magnética. “
Quem foi Nicholas Barbon?
Nome
completo: Nicholas If-Jesus-Christ-Had-Not-Died-For-Thee-Thou-Hadst-Been-Damned
Barbon (1640 – 1698) em tradução livre: Nicholas Se-Jesus-Cristo-
não-tivesse-morrido-por-ti-tu-estarias-condenado Barbon. Como seu nome
evidencia, seu pai era um puritano fanático. Nicholas Barbon, foi médico,
economista e criador do “seguro de incêndio”, a partir do incêndio que destruiu
Londres em 1666.
Barbon em sua obra escreveu
que as mercadorias (bens) tem o potencial de satisfazer dois usos distintos: as
necessidades do corpo e os desejos da mente. Ainda, naturalmente, as
necessidades do corpo são limitadas: se estritamente examinadas nada é
absolutamente necessário para manter a vida, apenas alimentos ( Barbon, 1690).
Barbon claramente estabelece
que, de fato, a maioria dos utensílios vendidos satisfazem somente as demandas
da mente e não necessidades.
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