domingo, 2 de outubro de 2011

Deslocamentos do Centro de Gravidade Mundial. Parte 2


Em fevereiro de 1850, Marx escreve artigo na Nova Gazeta Renana e faz profecias a partir da descoberta das minas de ouro na Califórnia. Nesta parte 2, a criatividade do velho Karl coloca um letreiro nas Muralhas da China que Irá recepcionar os reacionários europeus em fuga: “República Chinesa – Liberdade Igualdade e Fraternidade”..,,,

“Graças ao ouro californiano e à energia inesgotável dos yankees, os dois lados do Pacífico serão em breve tão povoados e tão ativos no comércio e na indústria como o é atualmente a costa de Boston a Nova Orleans. O oceano Pacífico desempenhará no futuro o mesmo papel que foi do Atlântico na nossa era e do Mediterrâneo na Antiguidade: o de grande via marítima do comércio mundial, e o oceano Atlântico descerá ao nível de um mar interior, como é hoje o caso do Mediterrâneo.
A única probabilidade que têm os países civilizados da Europa de não caírem na mesma dependência industrial, comercial e política da Itália, da Espanha e do Portugal modernos é iniciarem uma revolução social que, enquanto ainda é tempo, adaptarem a economia à distribuição segundo as exigências da produção e das capacidades produtivas modernas, e permitirem o desenvolvimento de novas forças de produção que assegurem a superioridade da indústria européia, compensando assim os inconvenientes da sua localização geográfica.
Enfim, uma curiosidade característica da China, contada pelo conhecido missionário alemão Gutzlaff. Uma excessiva população, de crescimento lento mas regular, tinha provocado, já desde há muito tempo, uma tensão violenta nas relações sociais da maior parte da nação. Em seguida vieram os ingleses, que forçaram a abertura de cinco portos ao livre comércio. Milhares de navios ingleses e americanos singraram para a China, que, em pouco temo, foi inundada de produtos britânicos e americanos baratos ( meu comentário: quem diria que 150 anos depois o fluxo se inverteria!!!). A indústria chinesa, essencialmente de manufaturas, sucumbiu à concorrência do maquinismo. O inabalável Império sofreu uma crise social. Os impostos deixaram de entrar, o Estado encontrou-se à beira da falência, a grande massa da população conheceu a completa pobreza, e revoltou-se. Acabando com a veneração aos mandarins do Imperador e aos bonzos, perseguia-os e matava-os. Hoje, o país está à beira do abismo, e talvez sob a ameaça de uma revolução violenta.
Mais ainda. No seio da plebe insurreta, alguns denunciavam a miséria de uns e a riqueza de outros, exigindo nova repartição dos bens, e mesmo a supressão total da propriedade privada - e ainda hoje continuam a formular tais reivindicações. Após vinte anos de ausência, quando o sr. Gutzlaff regressou ao contacto dos civilizados e dos europeus, e ouviu falar do socialismo, exclamou aterrorizado:"Não poderei então escapar em lado nenhum a esta perniciosa doutrina? É exatamente isso o que apregoam há algum tempo muitos indivíduos da população chinesa!"
É muito provável que o socialismo chinês se assemelhe ao europeu como a filosofia chinesa ao hegelianismo. Qualquer que seja a forma, podemos alegrar-nos com o fato de que o Império mais antigo e sólido do mundo tenha sido arrastado em oito anos, pelos fardos de algodão dos burgueses da Inglaterra, até a iminência de uma convulsão social que, qualquer que seja o caso, deve ter consequências importantíssimas para a civilização. E, quando os reacionários europeus, na sua já próxima fuga, chegarem enfim junto à Muralha da China, às portas que supõem abrir-se como fortaleza da reação e do conservadorismo, quem sabe se não lerão ali:
República Chinesa
Liberdade, Igualdade e Fraternidade
Íntegra do artigo em:
http://www.marxists.org/portugues/marx/1850/02/deslocamento.htm

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