quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Classe dominante X consciência dominante. Parte 2


Em fevereiro de 1846, Marx e Engels são expulsos da França e refugiam-se em Bruxelas. No exílio, a dupla produz a “ideologia Alemã”, que não encontrou editor e foi entregue “à critica roedora dos ratos”, como disseram mais tarde os seus autores. Sua parte mais provocante talvez seja o capítulo 1º - as chamadas “Teses sobre Feuerbach”.  Na “Parte 1”, postei o texto referente à Revolução Francesa com a “transformação” de proletários em burgueses.  Nesta “Parte 2”, seguem – pra variar - os ácidos comentários dos autores ao idealismo de Hegel. A propósito, já fiz diversas postagens sobre essa relação Marx-Engels-Hegel – quanto mais leio, menos entendo. E a cada leitura, cresce meu incipiente “heguelianismo”......

“Uma vez separadas as ideias dominantes dos indivíduos dominantes, e sobretudo das relações decorrentes de uma dada fase do modo de produção, e atingido assim o resultado de que na história dominam sempre as ideias, é muito fácil abstrair destas várias ideias "a ideia", a Ideia, etc., como o que domina na história, e entender assim todas as diferentes ideias e conceitos como "autodeterminações" do conceito que se desenvolve na história. E, então, também é natural que todas as relações dos homens possam ser derivadas do conceito de Homem, do Homem tal como representado, da essência do Homem, do Homem. Foi o que fez a filosofia especulativa. O próprio Hegel confessa, no fim da Filosofia da História, que "apenas considerou o curso do conceito" e que na história apresentou a "verdadeira teodiceia" (p. 446). Podemos agora voltar aos produtores do "conceito", aos teóricos, ideólogos e filósofos, e chegamos então a esta conclusão: os filósofos, os pensadores como tais, desde sempre dominaram na história — uma conclusão que, como vemos, já foi expressa por Hegel. Todo o truque de demonstrar na história a soberania do espírito (a hierarquia, em Stirner) reduz-se, portanto, aos seguintes três esforços.
N.º 1. É preciso separar as ideias dos que dominam por razões empíricas, em condições empíricas e como indivíduos materiais, destes mesmos que dominam, e por esta via reconhecer o domínio das ideias ou ilusões na história.
N.º 2. É preciso pôr uma ordem neste domínio das ideias, demonstrar uma conexão mística entre as ideias que sucessivamente dominam, o que se consegue pela via de considerá-las "autodeterminações do conceito" (e isto é possível pelo fato de estas ideias, graças à sua base empírica, estarem realmente em conexão entre si, e pelo fato de elas, entendidas como meras ideias, se tornarem autodistinções, diferenças feitas pelo pensamento).
N.º 3. Para eliminar o aspecto místico deste "conceito que se autodetermina", transformam-no numa pessoa — "a Consciência de Si" —, ou, para parecerem verdadeiramente materialistas, numa série de pessoas que representam "o conceito" na história, nos "pensadores", nos "filósofos", nos ideólogos, que agora de novo são entendidos como os fabricantes da história, como o "Conselho dos Guardiães", como os dominantes. Deste modo eliminaram da história todos os elementos materialistas, e puderam então dar rédea solta ao seu corcel especulativo.
Este método histórico que dominou na Alemanha, e especialmente a razão por que dominou, têm de ser explicados a partir da conexão com a ilusão dos ideólogos em geral, por exemplo, as ilusões dos juristas, políticos (entre os quais, também, os estadistas práticos), a partir das divagações dogmáticas e distorções destes sujeitos, ilusão aquela que muito simplesmente se explica pela sua posição prática na vida, pela sua atividade e pela divisão do trabalho.”

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