Texto de Louis Althusser redigido em fins de 1977, foi publicado originariamente no jornal Il Manifesto, em 4 de abril de 1978.
“ Eu creio que a teoria marxista é "finita", limitada: que ela é limitada à análise do modo de produção capitalista, e de sua tendência contraditória, que abre a possibilidade da passagem para a abolição do capitalismo e sua substituição por "outra coisa", que se delineia já "como um vazio" e positivamente, na sociedade capitalista. Dizer que a teoria marxista é "finita" significa sustentar a idéia essencial de que a teoria marxista é totalmente distinta de uma filosofia da história, que pretenda "englobar" todo o devenir da humanidade pensando-o efetivamente, e que seria, portanto, capaz de definir, antecipadamente e de modo positivo, o seu fim: o comunismo. A teoria marxista (se deixa de lado a tentação de uma filosofia da história, à qual o próprio Marx às vezes cedeu, e que dominou de modo esmagador a Segunda Internacional e o período stalinista) está inscrita na fase atual existente, e é limitada a ela: a fase da exploração capitalista. Tudo que ela pode dizer do futuro é o prolongamento alusivo e em negativo da possibilidade objetiva de uma tendência atual, a tendência ao comunismo, que pode ser observada em toda uma série de fenômenos da sociedade capitalista (da socialização da produção às formas sociais "intersticiais"). É preciso observar que é a partir da sociedade atual que pode ser pensada a transição (ditadura do proletariado, sob a condição de não se desvirtuar instrumentalmente esta expressão) e a extinção ulterior do Estado. Tudo o que se diz sobre a transição só pode ser uma indicação induzida por uma tendência atual que, como toda tendência em Marx, é contraposta a outras tendências e só pode se realizar por meio de uma luta política. Porém, esta realidade não pode ser prevista já na sua forma positiva determinada: é apenas no curso da luta que as formas positivas podem aparecer à luz do dia, se descobrir, se tornar realidade.
Conseqüentemente, a idéia de que a teoria marxista é "finita" exclui totalmente a idéia de que ela seja uma teoria "fechada". Fechada é a filosofia da história, na qual está antecipadamente contido todo o curso da história. Somente uma teoria "finita" pode ser realmente "aberta" às tendências contraditórias que descobre na sociedade capitalista, e aberta ao seu devenir aleatório, aberta às imprevisíveis "surpresas" que sempre marcaram a história do movimento operário; aberta, portanto atenta, capaz de levar a sério e assumir em tempo a incorrigível imaginação da história.
Creio, assim, que devemos recusar completamente a idéia, que se encontra ainda em certas expressões de Lenin, e também de Gramsci, de que a teoria marxista é uma teoria "total", similar a uma filosofia da história que culmina em uma prática do Saber absoluto, e capaz de pensar problemas que "não estão na ordem do dia", antecipando arbitrariamente as condições de sua solução. Se a teoria marxista é verdadeiramente "finita", é a partir da profunda consciência de sua finitude que é possível colocar a maior parte dos nossos grandes problemas.
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