quinta-feira, 31 de maio de 2012

Fetichismo. O caráter místico das mercadorias.


Imagine duas bolsas femininas exatamente iguais – mesmas matérias primas, mesmo design, mesmo acabamento. Apenas uma pequena diferença: uma delas tem o DG, de Dolce e Gabana. A que porta o DG custa 10 vezes mais...... Na metade do século 19, o velho Karl antecipou a situação ao identificar o fetichismo das mercadorias. Ou como enfatiza Isaak Rabin, Marx vislumbrou “relações humanas por trás das relações entre as coisas, revelando a ilusão da consciência humana que se origina da economia mercantil”. Em meados do século 20, a fetichismo das mercadorias ganhou um apelido: Marketing.
Selecionei um trecho do excelente estudo de Felipe Augusto da Rocha Santos – “O fetichismo da mercadoria - um passeio entre Marx e a ''coisificação'' do trabalho humano” – que estimula uma reflexão.
“Tendo em vista a força da alienação, muitas pessoas passam a ver as mercadorias com vidas próprias, envoltas em um caráter místico. Os valores passam a fazer parte de uma suposta propriedade natural das coisas. Isso é o que Karl Marx chamou de caráter fetichista da mercadoria. A correlação íntima entre alguns dos conceitos presentes no marxismo, como a mais-valia, a alienação e a ideologia, é fundamental para uma melhor compreensão do fetichismo da mercadoria, por isso, esses conceitos são convenientemente abordados no presente trabalho.
Mas, em linhas gerais, o que Marx representou na concepção de fetichismo? Nas palavras de Isaak Rubin (1980, p.19),

Consiste em Marx ter visto relações humanas por trás das relações entre as coisas, revelando a ilusão da consciência humana que se origina da economia mercantil e atribui às coisas características que têm sua origem nas relações sociais entre as pessoas no processo de produção.
O que Marx enxergou brilhantemente, em "O Capital", foi o dispêndio de nervos, músculos e sentidos; o trabalho, essencialmente humano, converter-se em valor objetivo da mercadoria. O enigma do fetichismo dessa mercadoria se demonstra no momento em que, nas relações entre produtores, as mercadorias refletem as características sociais do trabalho como naturalmente intrínsecas às coisas. Por outro lado, "reflete a relação social dos produtores com o trabalho total como uma relação social existente fora deles, entre objetos" (MARX, 1996, p. 198). Coisificam-se as relações humanas e personificam-se as coisas.
Conceituar de forma plena o fetichismo que envolve a mercadoria é tarefa, de fato, complicada, obstaculizada pela própria forma como o conceito vai evoluindo ao longo da obra "O Capital". No entanto, serão aqui apresentadas mais algumas abordagens e a forma como a ideologia do capital reforça a sua propagação.
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O fetichismo, portanto, apresenta-se também de forma muito real, paradoxalmente, numa realidade muito concreta ante o misticismo que envolve a conceituação da face fetichista da mercadoria. Ainda em consonância com Rubin (1980, p. 73), ele não é só um fenômeno da consciência social, mas um fenômeno da própria existência social. Percebe-se que a sociedade adere ao fetichismo a partir do momento em que se resigna perante o estabelecido, que se distancia de sua organização e produção. Ela passa a se relacionar tão somente por meio de coisas que carregam em si essencialmente trabalho. Ainda que o pensamento se subverta e passe a ver a mercadoria pelo real trabalho que nela está inserido, o indivíduo permanecerá se relacionando por meio da mercadoria, ressuscitando o fetiche. Não se trata, pois, de mera questão de consciência individual, a questão passa pelas características do modo de produção burguês. O que fica claro, conforme aduz Marx (1996, p.201), é que "Todo o misticismo [...] das mercadorias, toda a magia e a fantasmagoria que enevoam os produtos de trabalho [...] desaparecem, por isso, imediatamente, tão logo nos refugiemos em outras formas de produção".




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