sábado, 26 de maio de 2012

Marx ecológico e a Rio 92


A Revista Eletrônica de Mestrado em Educação Ambiental publica, na edição janeiro/julho de 2010, o estudo de Eduardo Corrêa Morrone e Carlos Roberto da Silva Machado A NATUREZA EM MARX E ENGELS: Contribuição ao debate da questão ambiental na atualidade”. Os autores procuram demonstrar a capacidade de Marx/Engels em antecipar o tema ecologia, a partir dos FORMEN (1857/8), da Critica ao Programa de Gotha (1875) – de Marx – e “Sobre o Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem” (1876) – de Engels. Com a humanidade se preparando para a Rio 92, vale um leitura do texto e a sempre oportuna revisita ao velho Karl. Íntegra do texto em www.remea.furg.br/edicoes/vol24/art4v24.pdf.
Selecionei um pequeno trecho para estimular a leitura integral.

“Na Crítica ao Programa de Gotha, redigido em 1875, quase duas décadas após o manuscrito das Formações Econômicas Pré-Capitalistas, Marx faz duras e embasadas críticas ao Programa elaborado pelo Partido Operário Alemão liderado por Lassalle. Isto porque, no inicio do programa é afirmado que o trabalho é a fonte de toda a riqueza, e poderíamos dizer atualizando o debate, de como alguns afirmam serem os trabalhadores a fonte de toda a riqueza. Ao redigir tais críticas inicia justamente pela temática da natureza postulando que ao contrário do que ficou expresso no programa, diz
“o trabalho não é fonte de toda riqueza. A natureza é a fonte dos valores de uso (os valores de uso são, de fato, a riqueza real!) tanto quanto o trabalho, trabalho que é expressão de uma força natural, a força de trabalho do homem. Esta frase repisada encontra-se em todos os manuais e só é verdadeira se for subentendido que o trabalho é anterior, e é executado com todos os instrumentos e procedimentos que o acompanham. Mas um programa socialista não pode permitir que essa fraseologia burguesa omita as condições que, só elas, lhe podem dar sentindo. Só enquanto o homem se coloca, desde o início, como proprietário em relação á natureza, a fonte primeira de todos os meios e objetos de trabalho, e a trata como se ela (a natureza) lhe pertencesse, é que o seu trabalho se converte em fonte de valores de uso e, portanto, em fonte de riqueza (MARX, 2004, p.125-126).”
O trabalho, enquanto produtor de valores de uso, ao transformar as matérias primas da fonte primeira da natureza, assume neste sistema uma forma – equivalente – de valor de troca para aquele que é o proprietário dos meios de produção, e portanto, controla as relações sociais a ele subjacente. A natureza é anterior ao trabalho e ao trabalhador, e somente, no sistema capitalista que o trabalho assume a forma que tem hoje, de assalariado, e produtor de valores de uso e de troca. Neste caso, valor de uso para quem compra e valor de troca para quem vende. Tal sentido, duplo e contraditório – da mercadoria, diz Henri Lefebvre, ser um dos menos compreendidos da produção de Marx em o Capital, pois pressupõe um pensar dialético que articulado numa mesma “coisa” um duplo sentido e significado. Poderíamos extrapolar para as relações com a natureza, ou seja, a natureza pode ter um sentido para nós – não capitalistas – e outra, para os capitalistas, que somente a veriam como fonte de recursos e de lucros. Mas, Marx indicando que Lassalle e seus adeptos, com tais formulações se aproximavam de interesses e concepções das classes dominantes:
“os burgueses têm razões de sobra para atribuir ao trabalho esse poder sobrenatural de criação: precisamente pelo fato de o trabalho estar na dependência da natureza se conclui que o homem que possuir apenas a força de trabalho será forçosamente, em qualquer estado [situação] social e de civilização, escravo de outros homens que se tornaram proprietários das condições objetivas do trabalho. Ele não pode trabalhar nem, por conseguinte, viver, a não ser com a autorização destes últimos (MARX, 2004, p.125).”

Um comentário:

  1. O "post" fez com que lembrasse de uma obra, lida por mim há um bom tempo, denominada "Ecologia e Socialismo" (me foge, agora, o nome de sua editora), escrita por MICHAEL LÖWY--- salvo melhor juízo, paulistano, filho de imigrantes judeus ---, o que me motiva a [mal] traçar as linhas seguintes. Desde logo, faço questão de rogar, ad nauseam, que eventual engano seja apontado pelo nobre autor do "blog". Bem vistas as coisas, a relevância da busca pela preservação ambiental tornou possível o surgimento do denominado "ecossocialismo". Com efeito, um de seus pressupostos era o "abandono" do produtivismo por parte do Marxismo, assim como determinado "afastamento", pela corrente ambientalista, de sua nuance anti-humanista. Em sentido convergente, tanto o Marxismo quanto o movimento ambientalista atribuíam às forças degradantes --- outrora produtivas --- a condição do grande mal a se combater, principal alternativa para o nascimento de uma sociedade "ecossocial". Ocorre que o "ecossocialismo" gerou um grande dilema à humanidade, na medida em que toda e qualquer idéia relacionada ao progresso da sociedade capitalista deveria ser recusado, em prol de uma nova realidade, onde, v.g., o "império" do dinheiro, e a acumulação de riqueza fossem obstáculos ultrapassados, algo bastante complicado de se imaginar. De todo modo, como já diziam alguns notáveis poetas, "[n]ada é fácil de entender" (RENATO RUSSO/DADO VILLA-LOBOS/MARCELO BONFÁ, Pais e Filhos).
    Um forte abraço,
    BR

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