Em fevereiro de 1850, Marx
publica artigo na Nova Gazeta Renana sobre os “Deslocamentos do Centro de
Gravidade Mundial”. O velho Karl profetiza a transformação do Oceano Pacífico
em grande via do comércio mundial, a partir da descoberta das minas da Califórnia.
Relata ainda como a invasão de produtos americanos e ingleses destruiu a
manufatura chinesa – mal sabia ele que a China daria o “troco” no século 21.
Antecipa ainda o perfil do futuro socialismo chinês.
“Vamos agora ocupar-nos da
América, onde sucedeu algo mais importante do que a revolução de Fevereiro
[1848]: a descoberta das minas de ouro californianas. Dezoito meses após o
acontecimento já é possível prever que terá efeitos mais consideráveis do que a
própria descoberta da América.
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Graças ao ouro californiano e à
energia inesgotável dos yankees, os dois lados do Pacífico serão em breve tão
povoados e tão ativos no comércio e na indústria como o é atualmente a costa de
Boston a Nova Orleans.
O oceano Pacífico desempenhará
no futuro o mesmo papel que foi do Atlântico na nossa era e do Mediterrâneo na
Antiguidade: o de grande via marítima do comércio mundial, e o oceano Atlântico
descerá ao nível de um mar interior, como é hoje o caso do Mediterrâneo.
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Enfim, uma curiosidade
característica da China, contada pelo conhecido missionário alemão Gutzlaff.
Uma excessiva população, de crescimento lento mas regular, tinha provocado, já
desde há muito tempo, uma tensão violenta nas relações sociais da maior parte
da nação.
Em seguida vieram os ingleses,
que forçaram a abertura de cinco portos ao livre comércio. Milhares de navios
ingleses e americanos singraram para a China, que, em pouco temo, foi inundada
de produtos britânicos e americanos baratos. A indústria chinesa,
essencialmente de manufaturas, sucumbiu à concorrência do maquinismo. O
inabalável Império sofreu uma crise social. Os impostos deixaram de entrar, o
Estado encontrou-se à beira da falência, a grande massa da população conheceu a
completa pobreza, e revoltou-se. Acabando com a veneração aos mandarins do
Imperador e aos bonzos, perseguia-os e matava-os. Hoje, o país está à beira do
abismo, e talvez sob a ameaça de uma revolução violenta.
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É muito provável que o
socialismo chinês se assemelhe ao europeu como a filosofia chinesa ao
hegelianismo. Qualquer que seja a forma, podemos alegrar-nos com o fato de que
o Império mais antigo e sólido do mundo tenha sido arrastado em oito anos,
pelos fardos de algodão dos burgueses da Inglaterra, até a iminência de uma
convulsão social que, qualquer que seja o caso, deve ter consequências
importantíssimas para a civilização. E, quando os reacionários europeus, na sua
já próxima fuga, chegarem enfim junto à Muralha da China, às portas que supõem
abrir-se como fortaleza da reação e do conservadorismo, quem sabe se não lerão
ali:
República
Chinesa
Liberdade, Igualdade e Fraternidade
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