domingo, 29 de janeiro de 2012

O 18 Brumário by Engels.


Passados 33 anos da primeira edição do “18 Brumário de Louis Bonaparte”, Engels prefacia a terceira edição alemã, em 1885. No texto, compara a “lei” da luta de classes à lei da transformação de energia – uma atitude “iluminista” que colocava a ciência como dominante na hierarquia das atividades humanas. Uma postura presente em toda o obra de Marx – vide o “socialismo científico” em oposição ao “socialismo utópico”, de  Proudhon. Esta obsessão “cientifista” está longe de ser uma exclusividade de Marx – que ficou fascinado com a “Origem das Espécies”, de Darwin – e está presente em todo o pensamento de vanguarda do século 19, inclusive no Positivismo de Comte e mesmo no Espiritismo de Kardec.
A seguir, o trecho selecionado.

 “A França é o país em que as lutas históricas de classes sempre foram levadas mais do que em nenhum outro lugar ao seu termo decisivo e onde, portanto, as formas políticas mutáveis dentro das quais se movem estas lutas de classes e nas quais se assumem os seus resultados, adquirem os contornos mais ousados. Centro do feudalismo na Idade Média e país modelo da monarquia unitária de estados desde o Renascimento a França demoliu o feudalismo na grande revolução e fundou a dominação pura da burguesia sob uma forma clássica como nenhum outro país da Europa. Também a luta do proletariado cada vez mais vigoroso contra a burguesia dominante reveste aqui uma forma aguda, desconhecida noutras partes. Esta foi a razão por que Marx não só estudava com especial predileção a história passada francesa, mas também seguia em todos os seus pormenores a história em curso, reunindo os materiais para os empregar posteriormente, e portanto nunca se via surpreendido pelos acontecimentos.
Mas a isto veio acrescentar-se outra circunstância. Foi precisamente Marx quem primeiro descobriu a grande lei do movimento da história, a lei segundo a qual todas as lutas históricas, quer se desenvolvam no terreno político, no religioso, no filosófico ou noutro terreno ideológico qualquer, não são, na realidade, mais do que a expressão mais ou menos clara de lutas de classes sociais, e que a existência destas classes, e portanto também as colisões entre elas, são condicionadas, por sua vez, pelo grau de desenvolvimento da sua situação econômica, pelo caráter e pelo modo da sua produção e da sua troca, condicionada por estes. Foi também esta lei, que tem para a história o mesmo significado que a lei da transformação da energia para a Ciência da Natureza, que lhe deu aqui a chave para a compreensão da história da Segunda República francesa. Esta história serviu-lhe para pôr à prova a sua lei, e mesmo trinta e três anos depois, temos ainda que dizer que esta prova foi brilhantemente passada. “

2 comentários:

  1. Também dou ao marxismo caráter científico, na medida em que trouxe à luz leis até então desconhecidas (base material das sociedades, luta de classes).

    Contudo, é ciência, mas ciência social e humana, portanto livre da tentação da "definitividade". O marxismo não pode ser considerado "acabado", sob pena de traição ao próprio marxismo: que é dialético e não estático.

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  2. Prezado JL,
    Concordo integralmente com a sua afirmativa de que o "marxismo não poe ser considerado acabado". Segue um trecho do Bobbio nessa linha: “A cada crise o marxismo renasceu e renovou-se, cortando ramos secos e enxertando outros novos. Disso derivaram diversos marxismos, muitas vezes em violento contraste entre si. O marxismo não é mais, e na verdade nunca foi, um sistema: é uma família de sistemas, entre os quais as relações são frequentemente litigiosas, como aliás ocorre nas melhores famílias."Em relação às "ciências sociais"tenho cá minhas dúvidas. Quando vejo alguém se intitular "cientista político", sinto um cheiro de positivismo no ar....
    Mas, como sempre, seus comentários aprofundam a reflexão.
    Elysio Pires

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