terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Marx amanhã. Parte 2

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A edição de outubro/novembro/2005 do Jornal da Unicamp reuniu o cientista político Armando Boito (Unicamp), o historiador Jorge Grespan (USP), o filósofo Roberto Romano (Unicamp) e o deputado federal Fernando Gabeira para um debate sob o tema “Marx ontem e hoje. E amanhã? “ Selecionei alguns trechos. Seguem reflexões de Boito e Grespan.

Armando Boito - A obra de Marx não é apenas inacabada. Ela é uma obra que apresenta contradições internas, teses superadas, umas abandonadas pelo próprio Marx, outras não. Basta recordarmos que a obra de juventude, principalmente aquelas escritas na primeira metade da década de 1840, é abandonada e negada pela obra de maturidade.
Depois de Marx, muitas coisas novas foram descobertas e produzidas nas ciências sociais e na história. A função dos marxistas hoje é considerar todo esse volume de produção, trabalhá-lo criteriosamente, para retificar e desenvolver a obra apenas iniciada por Marx. Eu arriscaria dizer que se passa hoje com o marxismo algo semelhante ao que ocorreu com o darwinismo nas primeiras décadas do século XX. Os darwinistas souberam, apropriando-se das descobertas da genética, criar a teoria sintética da transformação das espécies pela seleção natural, o que é conhecido também com o neodarwinismo. Os marxistas precisam, hoje, de um marxismo renovado, de um neomarxismo, que permita construir o programa socialista do século XXI.
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Jorge Grespan – Depois de mais de um século de disputas políticas e teóricas bastante acirradas, a teoria de Marx demonstrou ser a mais consistente e a mais fértil para a compreensão das condições do mundo capitalista. Mas a discussão com os que discordam total ou parcialmente dela foi muitas vezes bastante rica para o esclarecimento, o desenvolvimento ou o ‘aggiornamento’ do próprio marxismo.
Como eu disse antes, faz parte da definição do capitalismo mesmo a modificação permanente das formas em que se expressa a sua contradição constitutiva – a relação capital/trabalho assalariado. E com a modificação das formas reais é evidente que os temas de análise e da pauta política vão também se modificando. Seria uma traição ao sentido profundo do marxismo se alguém acreditasse que Marx já pensou tudo o que havia de importante para ser pensado, que a tarefa atual é apenas de aplicar suas idéias, que as novas questões são secundárias etc...

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