domingo, 27 de fevereiro de 2011

Hobsbawn e o "fim da fé na URSS".


Em 1971, Hobsbawn  - “Os Intelectuais e a luta de classes” – marca a diferença entre os revolucionários dos anos 60/70 e os de sua geração. Já no início dos anos 70 a fé na “grande revolução de outubro” havia desaparecido – bem antes do desmoronamento do muro, em 89. Selecionei um pequeno trecho:
“ Há, contudo, uma diferença notável entre o novo movimento revolucionário e o da minha geração, nos anos entre guerras. Contávamos, talvez erroneamente, com uma esperança e um modelo concreto de uma sociedade alternativa : o socialismo. Hoje em dia essa fé na grande Revolução de Outubro e na União Soviética desapareceu em grande parte – esta é uma observação de fato, não um juízo – e nada a substituiu. Porque, embora os novos revolucionários busquem possíveis modelos e objetos de lealdade, nenhum dos regimes revolucionários pequenos e localizados – Cuba, Vietnã do Norte, Coréia do Norte ou qualquer outro, mesmo a própria China – representa hoje o que a União Soviética significou em minha época.”
Uma observação: Coréia do Norte a parte, onde Hobsbawn encontraria hoje “regimes revolucionários pequenos e localizados”? A ilha do Caribe, por exemplo, aguarda o óbito do seu carismático líder para acelerar o processo de “abertura”. Dois sintomas da “febre capitalista” da China: 1. Em 2010, o faturamento dos Cassinos de Macau foi quatro vezes os de Las Vegas; 2. Também no ano passado, a China foi maior importador de vinhos de Bordeaux – 20 milhões de litros.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

João Amazonas: a queda do muro e "a crise do marxismo".


João Amazonas é figura histórica. Expulso do PCB, em 1961, por discordar das novas teses do XX Congresso do PCUS, funda o PC do B. É inspirador da miopia ideológica que orienta o Partido até nossos dias. Já no período “pós-muro”, confunde o fim da URSS com a crise no marxismo – e assegura que ela será superada – em artigo publicado em 1990, na Revista Princípios nº 18 ( pequeno trecho, a seguir). Amazonas morreu em 2002, sem se aperceber que o fim da União Soviética significaria o renascimento de Marx.

“A crise do marxismo será superada tão prontamente quanto maior for o empenho dos autênticos revolucionários em investigar suas causas e ir ao fundo das questões teóricas que norteiam a marcha da classe operária no rumo do comunismo.
A teoria revolucionária ilumina o caminho da libertação, da construção de uma vida nova. Não se pode avançar com segurança sem o domínio da ciência social. Os princípios que dela decorrem são fundamentais para orientar a estratégia e a tática das forças progressistas em luta contra o sistema reacionário e ultrapassado do capitalismo monopolista.
Defendendo os fundamentos teóricos do marxismo, avancemos, respondendo aos desafios de nossa época. O socialismo, o comunismo são invencíveis, representam o futuro radioso da Humanidade.”

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Babeuf e o "Manifesto dos Iguais"


Marx considerava Babeuf o “primeiro comunista ativista” e a Conjuração do Iguais o "primeiro partido comunista". Para Rosa de Luxemburgo, Babeuf é "o primeiro precursor dos levantes revolucionários do proletariado".
François Noël Babeuf, conhecido como Gracchus Babeuf nasceu em Saint-Quentin, Picardia em 23 de novembro de 1760 foi sucessivamente servo doméstico, artesão, pedreiro e depois encarregado dos registros (contabilidade) de uma propriedade senhorial.
Seu “Manifesto dos Iguais” de 1796 tem o mesmo “clima” que envolve o Manifesto Comunista, de 1848. Veja esses dois trechos:


“Povo da França!

Chegou a hora das grandes decisões. O mal encontra-se no seu ponto culminante, está a cobrir toda a face da terra. O caos, sob o nome de política, há já demasiados séculos que reina sobre ela. Que tudo volte, pois, a entrar na ordem exata e que cada coisa torne a ocupar o seu posto. Ao grito de igualdade, os elementos da justiça e da felicidade estão a organizar-se. Chegou o momento de fundar a República dos Iguais, este grande refúgio aberto a todos os homens. Chegaram os dias da restituição geral. Famílias sacrificadas, vinde todas sentar-vos à mesa comum posta para todos os vossos filhos.”
“Povo da França!
Os hábitos inveterados, os antigos preconceitos, farão novamente tudo para impedir a implantação da República dos Iguais. A organização da igualdade efetiva, a única que satisfaz todas as necessidades sem provocar vítimas, sem custar sacrifícios, talvez em princípio não agrade a todos. Os egoístas, os ambiciosos, rugirão de raiva. Os que conquistaram injustamente as suas possessões dirão que está a cometer-se uma injustiça em relação a eles. Os prazeres individuais, os prazeres solitários, as comodidades pessoais, serão motivo de grande pesar para os indivíduos que sempre se caracterizaram pela sua indiferença ante os sofrimentos do próximo. Os amantes do poder absoluto, os miseráveis partidários da autoridade arbitrária, baixarão pesarosos as suas soberbas cabeças perante o nível da igualdade real. A sua visão estreita dificilmente penetrará no próximo futuro da felicidade comum. Mas que podem fazer alguns milhares de descontentes contra uma massa de homens completamente satisfeitos de terem procurado durante tanto tempo uma felicidade que sempre tiveram à mão?”

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A"profecia" de Alan Woods


Alan Woods, o novo conselheiro de Hugo Chávez, publicou, recentemente, artigo “Porque somos marxistas” onde afirma que um número crescente de pessoas estão abertas às idéias do marxismo, que deixarão os pequenos grupos e “serão zelosamente seguidas por milhões”.
“Estamos ingressando num período dos mais convulsivos que permanecerá por alguns anos, semelhante ao período de 1930-1937 na Espanha. Haverá derrotas e recuos, mas sob essas condições as massas aprenderão muito rápido. Naturalmente, não devemos exagerar: nós estamos ainda no começo de um processo de radicalização. Mas está muito claro aqui que nós estamos testemunhando o início de uma mudança na consciência das massas. Crescente número de pessoas está questionando o capitalismo. Essas pessoas estão abertas às idéias do marxismo de forma nunca vista antes. No próximo período, as idéias que estavam confinadas em pequenos grupos de revolucionários serão zelosamente seguidas por milhões.”

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Woods X Trotsky. O Manifesto.


O trotsquista Alan Woods é o mais novo conselheiro de Hugo Chávez – Heinz Dieterich caiu em desgraça, depois de apoiar o ex-aliado Baduel. A leitura do texto em que Woods analisa o Manifesto mostra uma profunda contradição com seu líder. Certamente, Alan nunca leu o prefácio de  Trotsky (1937) à edição sul-africana da até hoje polêmica obra de Marx/Engels. Woods afirma que o Documento explica como a livre empresa conduziria ao monopólio. Trotsky demonstra que no Manifesto “o capitalismo é o reino da livre concorrência”. Apenas anos depois, em O Capital, é que “Marx constatou a tendência para a transformação da livre concorrência em monopólio”. Seguem os dois texto referidos.
O texto de Alan Woods
“O que é mais surpreendente sobre o Manifesto é como antecipa os mais fundamentais fenômenos que ocupam nossa atenção em escala mundial no presente momento. Consideremos um exemplo. No tempo em que Marx e Engels o escreveram, o mundo das grandes companhias multinacionais era ainda música de um futuro muito distante. A despeito disto, eles explicaram como a “livre empresa” e a concorrência inevitavelmente conduziriam à concentração de capital e à monopolização das forças produtivas.”
O texto de Trotsky
“3. Para o Manifesto, o capitalismo é o reino da livre concorrência. Referindo-se à crescente concentração do capital, o texto não tira deste fato a necessária conclusão a respeito dos monopólios, que se transformaram na força dominante do capitalismo em nossa época, premissa mais importante da economia socialista. Foi apenas mais tarde, em O Capital que Marx constatou a tendência para a transformação da livre concorrência em monopólio. A caracterização científica do capitalismo monopolista foi dada por Lênin em seu livro Imperialismo, Estágio Superior do Capitalismo.”



quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Trotsky. A visão crítica do Manifesto. Parte 5


Em outubro de 1937, Trotsky escreve o prefácio da edição Sul-Africana do Manifesto de 1848 e faz uma serena e sensata revisão critica de partes do Manifesto. Neste 5º trecho selecionado, ele reforça o equívoco, já registrado pelos autores em 1872 e afirma que “Em nossos dias não pode haver programa revolucionário sem sovietes e sem poder operário”. A pergunta que não quer calar: onde estão, em 2011, os sovietes? Nem em Cuba, quem sabe, na Venezuela.......


“5. O Manifesto, escrito para uma época revolucionária, contém, no final do segundo capítulo, dez reivindicações que respondem ao período da imediata transição do capitalismo ao socialismo. No prefácio de 1872, Marx e Engels mostraram que essas reivindicações se encontravam parcialmente superadas e que, de qualquer modo, não tinham mais que um significado secundário. Os reformistas se apoderaram desta avaliação para interpretá-la no sentido que, para eles, as palavras-de-ordem revolucionárias transitórias davam definitivamente lugar ao "programa mínimo" da social-democracia que, como sabemos não ultrapassava os limites da democracia burguesa.
Na verdade, os autores do Manifesto indicaram de modo preciso a principal correção a ser feita em seu programa transitório: "Não basta que a classe operária se utilize da máquina estatal para colocá-la a serviço de seus próprios fins. "A correção era contra o fetichismo a respeito da democracia burguesa. Ao Estado burguês, Marx opôs, mais tarde, o Estado do tipo da Comuna. Este "tipo" tomou, em seguida, a forma muito mais precisa de sovietes. Em nossos dias não pode haver programa revolucionário sem sovietes e sem poder operário. Quanto ao mais isto é, às dez reivindicações do Manifesto que na época da pacífica atividade parlamentar, pareceram "caducar", é preciso que se diga que recobraram, hoje, todo seu verdadeiro significado. O que caducou inapelavelmente foi o "programa mínimo" social-democrata.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Trotsky. A visão crítica do Manifesto. Parte 4


Em outubro de 1937, Trotsky escreve o prefácio da edição Sul-Africana do Manifesto de 1848 e faz uma serena e sensata revisão critica de partes do Manifesto. Neste 3º trecho selecionado, ele mostra que a expectativa de proletarização generalizada da sociedade não aconteceu. Destaque para a proletarização da classe média – imagine a frustração dos dois alemães ao assistir, no Brasil de 2010, a ascensão das classes D e E à classe média.

“4. Tomando como base sobretudo o exemplo da "Revolução Industrial" inglesa, os autores viam de maneira muito unilateral o processo de liquidação das classes médias com a proletarização completa do artesanato, do pequeno comércio e do campesinato. Na verdade, as forças elementares da concorrência ainda não finalizaram esta obra, ao mesmo tempo progressista e bárbara. O capital arruinou a pequena burguesia bem mais rapidamente do que a proletarizou. Por outro lado, a política consciente do Estado burguês, há muito tempo, visa conservar artificialmente as camadas pequeno-burguesas. No pólo oposto, o crescimento da técnica e a racionalização da grande produção, ao mesmo tempo em que engendram um desemprego orgânico, freiam a proletarização da pequena burguesia. Houve um extraordinário adormecimento do exército de técnicos, administradores, empregados de comércio, em uma palavra, daquilo que é chamado de "novas classes médias". O resultado de tudo isso é que as classes médias cujo desaparecimento o Manifesto previa de modo tão categórico, constituem, mesmo em um país altamente industrializado como a Alemanha, quase a metade da população. Mas a conservação artificial das camadas pequeno-burguesas, desde há muito caducas, em nada atenua as contradições sociais; torna-as, pelo contrário, particularmente, mórbidas. Somando-se ao exército permanente de desempregados, ela é a expressão mais nociva do apodrecimento capitalista. “


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Trotsky. A visão crítica do Manifesto. Parte 3


Em outubro de 1937, Trotsky escreve o prefácio da edição Sul-Africana do Manifesto de 1848 e faz uma serena e sensata revisão critica de partes do Manifesto. Neste 3º trecho selecionado, ele mostra que apenas anos depois, em O Capital é “que Marx constatou a tendência para a transformação da livre concorrência em monopólio”. No Manifesto, “o capitalismo é o reino da livre concorrência”.

“3. Para o Manifesto, o capitalismo é o reino da livre concorrência. Referindo-se à crescente concentração do capital, o texto não tira deste fato a necessária conclusão a respeito dos monopólios, que se transformaram na força dominante do capitalismo em nossa época, premissa mais importante da economia socialista. Foi apenas mais tarde, em O Capital que Marx constatou a tendência para a transformação da livre concorrência em monopólio. A caracterização científica do capitalismo monopolista foi dada por Lênin em seu livro Imperialismo, Estágio Superior do Capitalismo.”

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Marx, De Masi e Chris Anderson.


Domenico De Masi, o sociólogo italiano, inventor do “Ócio Criativo”, sempre se declarou marxista e, embora nunca tenha se filiado ao PCI, sempre votou com os comunistas.  De Masi, afirma que o trabalho é uma profissão e o ócio uma arte e sentencia que Marx previu o fim do trabalho: "Em 1857, isto é, há quase um século e meio, Marx tinha escrito : 'É chegado o tempo em que os homens não mais farão o que as máquinas podem fazer' e tinha concluído que o capitalismo, tendendo de forma inexorável para a abolição do trabalho, teria dessa forma provocado sua própria morte."
Mais recentemente, Chris Anderson, autor do best-seller mundial “A Cauda Longa” (“The Long Tail”) - Editora Campus-Elsevier – relembra o pioneirismo de Marx em “A Ideologia Alemã”. Uma observação – a expressão “Pro-Am” significa Profissionais e Amadores.
“ Com efeito, Karl Marx foi, talvez, o primeiro profeta da economia Pro-Am. Como observa o Demos, Marx sustentou em  “A Ideologia Alemã”, escrito entre 1845 e 1847, que o trabalho forçado, não-espontâneo e assalariado seria superado pela atividade autônoma.  Finalmente, esperava ele, chegaria um tempo em que a “produção material criará condições para que todas as pessoas disponham de tempo ocioso para o exercício de outras atividades”. Marx evocava uma sociedade comunista em que “..... ninguém tem uma esfera de atividade exclusiva, mas cada uma delas pode ser executada da maneira que mais aprouver a cada um (......) caçar de manhã, pescar de tarde, criar gado à noite, criticar depois do jantar, do mesmo modo como tenho uma mente, sem nunca ter sido caçador, pescador ou critico”.

Trotsky. A visão crítica do Manifesto. Parte 2


Em outubro de 1937, Trotsky escreve o prefácio da edição Sul-Africana do Manifesto de 1848 e faz uma serena e sensata revisão critica de partes do Manifesto. Neste 2º trecho selecionado, ele destaca alguns equívocos relevantes como a “superestimação da maturidade revolucionária do proletariado” e da consequência  da revolução de 1848 que, ao invés da revolução socialista “criou, para a Alemanha, a possibilidade  de um formidável desenvolvimento capitalista”.

“2. O erro de Marx e Engels a respeito dos prazos históricos decorria, de um lado, da subestimação das possibilidades posteriores inerentes ao capitalismo e, de outro, da superestimação da maturidade revolucionária do proletariado. A revolução de 1848 não se transformou em revolução socialista, como o Manifesto havia previsto, mas criou, para a Alemanha, a possibilidade de um formidável desenvolvimento capitalista. A Comuna de Paris demonstrou que o proletariado não pode arrancar o poder à burguesia sem ter à sua frente um partido revolucionário experiente. Ora, o longo período de desenvolvimento capitalista que se seguiu à Comuna conduziu não à educação de uma vanguarda revolucionária, mas, ao contrário, à degeneração burguesa da burocracia operária que se tornou, por sua vez; o principal obstáculo à vitória da revolução proletária. Esta "dialética” os autores do Manifesto não podiam prever.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Trotsky. A visão crítica do Manifesto. Parte 1


Em outubro de 1937, Trotsky escreve o prefácio da edição Sul-Africana do Manifesto de 1848 e faz uma serena e sensata revisão critica de partes do Manifesto. Neste 1º trecho selecionado, ele enfatiza que, em pleno século XIX, o capitalismo ainda não havia cumprido o seu ciclo e, conforme o ensinamento do próprio Marx , não poderia “deixar a cena”.

“O pensamento revolucionário nada tem em comum com a idolatria. Os programas e os prognósticos verificam-se e corrigem-se à luz da experiência, que é para o pensamento humano a suprema instância O Manifesto requer correções e complementos. Entretanto, mesmo correções e complementos não podem ser aplicados com sucesso senão nos servimos do mesmo método que se encontra à base do Manifesto, como, além disso, o prova a própria experiência histórica. Mostraremos isso servindo-nos dos exemplos mais importantes.
1. Marx ensina que nenhuma ordem social deixa a cena antes de ter esgotado suas possibilidades criadoras. O Manifesto ataca o capitalismo porque ele bloqueia o desenvolvimento das forças produtivas. Contudo, na sua época e mesmo durante várias décadas seguintes, este entrave possuía apenas um caráter relativo. Se, na segunda metade do Século XIX tivesse sido possível à economia se organizar sobre fundamentos socialistas, o ritmo de seu crescimento teria sido incomparavelmente mais rápido. Esta tese, teoricamente incontestável, não modifica o fato de que as forças produtivas continuaram a crescer em escala mundial, e sem interrupção, até a Primeira Guerra Mundial. Foi unicamente nos últimos vinte anos que, malgrado as mais modernas conquistas científicas e técnicas, se abriu a época da estagnação completa e da própria decadência da economia mundial. A humanidade começa a viver do capital acumulado e a próxima guerra ameaça destruir por longo tempo as próprias bases da civilização. Os autores do Manifesto pensavam que o capital seria liquidado muito antes de passar de ser um regime relativamente reacionário para a sua fase absolutamente reacionária. Esta transformação, porém, só se consumou aos olhos da atual geração, fazendo de nossa época a época de guerras, revoluções e do fascismo.

Trotsky e os noventa anos do Manifesto. Parte 2


Em outubro de 1937, Trotsky escreve o prefácio da edição Sul-Africana do Manifesto de 1848 e registra os temas ainda atuais do Manifesto. Selecionei mais  um item (11) das teses do Manifesto que ele julgava que “conservam integralmente sua força”. O item ilustra bem as sensíveis diferenças entre o sonho e a realidade e o delírio da implantação do socialismo a partir de uma ditadura; seja ela do proletariado, dos milicos, dos aiatolás ou de qualquer outro gênero.

11. "A partir do momento em que, no curso do desenvolvimento, as diferenças de classe tenham desaparecido e que toda a produção esteja concentrada nas mãos de indivíduos associados, o poder público perde seu caráter político. " Em outras palavras, o Estado extingue-se. Resta a sociedade liberta de sua camisa-de-força. E é exatamente isso o socialismo. O teorema inverso: o monstruoso crescimento da imposição e violência estatais na URSS demonstra que a sociedade soviética se afasta do socialismo.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Trotsky e os noventa anos do Manifesto


Em outubro de 1937, Trotsky escreve o prefácio da edição Sul-Africana do Manifesto de 1848 e registra os temas ainda atuais do Manifesto. Selecionei um trecho da abertura e o item 4 das teses do Manifesto que Trotsky julgava que “conservam integralmente sua força”. Alguém, além dos remanescentes da Polop, endossa o item 4?
“No prefácio à edição de 1872, Marx e Engels afirmaram que, mesmo tendo certos trechos secundários do Manifesto envelhecido, não tinham o direito de modificar o texto original, visto que, no decorrer dos vinte e cinco anos então passados ele já se transformara em um documento histórico. De lá para cá mais sessenta e cinco anos transcorreram. Algumas partes isoladas envelheceram ainda mais. Consequentemente, neste prefácio apresentaremos, de forma resumida, as idéias do Manifesto que, até nossos dias conservam integralmente sua força e aquelas que necessitam de sérias modificações ou complementos.”
“4. A tendência do capitalismo em rebaixar o nível de vida dos operários, a torná-los cada vem mais pobres. Esta tese foi violentamente atacada. Os padres, os professores, os ministros, os jornalistas, os teóricos socialdemocratas e os dirigentes sindicais levantaram-se contra a assim chamada teoria do "empobrecimento". Invariavelmente enumeravam sinais do bem-estar crescente dos trabalhadores, tomando a aristocracia operária por todo o proletariado, ou tomando uma tendência temporária por uma situação perdurável. Paralelamente, a própria evolução do mais poderoso capitalismo, o dos Estados Unidos transformou milhões de operários em párias, sustentados às custas da caridade estatal ou privada.”

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

André Breton e o jovem Marx


André Breton (1896/1966), fundador do surrealismo, foi filiado ao PCF durante oito anos. Decepcionado com Stalin, deixou o Partido e aliou-se a Trotsky, já asilado no México. No manifesto “Por Uma Arte Revolucionária Independente”, redigido a quatro mãos com Diego Rivera, cita o jovem Marx e aprofunda a sua delirante tese de que ninguém deve “viver e escrever para ganhar dinheiro”.

“A idéia que o jovem Marx tinha do papel do escritor exige, em nossos dias, uma retomada vigorosa. É claro que essa idéia deve abranger também, no plano artístico e científico, as diversas categorias de produtores e pesquisadores. "O escritor, diz ele, deve naturalmente ganhar dinheiro para poder viver e escrever, mas não deve em nenhum caso viver e escrever para ganhar dinheiro . . . O escritor não considera de forma alguma seus trabalhos como um meio. Eles são objetivos em si, são tão pouco um meio para si mesmo e para os outros que sacrifica, se necessário, sua própria existência à existência de seus trabalhos . . . A primeira condição da liberdade de imprensa consiste em não ser um ofício.”
Íntegra do texto original em /www.andrebreton.fr