quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O Marxismo de Roberto Campos


Em 31 de outubro de 1999, comemorando os 10 anos da “queda do muro” (já apodrecido), um dos principais ideólogos da direita brasileira – Roberto de Oliveira Campos, tb conhecido como Bob Fields – escreve um surpreendente artigo. “Perdeu-se o marxismo?” reconhece a “extraordinária originalidade do pensamento critico de Marx” e a genialidade do alemão ao formular “em plena era do vapor e do aço, a noção de que a existência determina a consciência”. Selecionei dois trechos do artigo daquele que, nos meus tempos de política estudantil, era considerado “entreguista” e alvo de uma passeata que terminou na porta do BNDES ( Campos era o Presidente), para protestar contra o “Acordo Roboré”, em 1958. Ainda era aluno do Pedro II e tenho grandes lembranças dessa passeata, mas, isso é outra história.

“Foi uma pena que, nestes últimos 80 anos, a complicada dinâmica da História, ao soterrar os regimes socialistas do bloco soviético, acabasse soterrando simultaneamente a florescência da extraordinária originalidade do pensamento crítico de Marx. Falo do pensamento crítico. No resto, Marx foi um péssimo profeta e um mau político. Predisse o empobrecimento do proletariado, e ele emburguesou-se. Predisse a explosão do capitalismo, e foi o socialismo que implodiu. Predisse o fenecimento do Estado e a floração da liberdade, e no "socialismo real" o contrário aconteceu: o Estado explodiu de elefantíase e as liberdades desapareceram,”
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“Nestes arrabaldes, pouca gente se tem dado conta de que o novo pensamento de raiz marxista está descobrindo, com evidente surpresa, uma série de temas novos sobre o desenvolvimento e a História. Sugestiva, por exemplo, é a ótica dos "sistemas mundiais", trabalhada, entre outros, por I. Wallerstein e E. Wolf, contestada por A. Gunder Frank, para quem o sistema político mundial pré-data de muito a ascensão do capitalismo na Europa e sua hegemonia no mundo. Ou seja, uma completa desarticulação da visão "mecânica" da "dialética da História", substituída por uma espécie de superdarwinismo, a luta de todas as forças e formações entre si. Quando o velho Marx, em plena era do vapor e do aço, formulou a noção de que a existência determina a consciência, chamou a atenção geral para o fato de que as grandes transformações pelas quais estava passando o mundo tinham uma base nas condições concretas, nas relações de produção e na tecnologia. Depois disso, tivemos uma formidável aceleração (eletricidade, motor a explosão, eletrônica, síntese química, biologia, eletrônica) e, agora, com a globalização digital, estamos entrando em cheio na era da informação. Tudo está mudando muito mais depressa do que nossa capacidade de acompanhar. Assim como o capitalismo do século 14 acabou com o escravo e o servo da gleba e o capitalismo americano atual criou uma sociedade democrática de classe média e de consumo de massa, o novo modo de produção da informação vai criar - o quê? Não sei. Precisamos de pensar. Mesmo errando, ou parecendo errar.”


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