domingo, 19 de dezembro de 2010

"Marxismos"


Penso que, decorridos um século e meio da publicação dos principais textos de Marx e Engels, ainda surgem leituras diversificadas e, por vezes, contraditórias do significado do conjunto da obra. Obra inacabada, o marxismo permite leituras e releituras ao sabor das tendências ideológicas de cada intérprete. Nem o final melancólico de 1989/91 impediu delírios do tipo Cuba, Coréia do Norte e, aqui na Terra, o PC do B. Como afirmam os autores de “História das Ideias Políticas” , as tentativas de interpretação “ só podem ser julgadas em função do projeto próprio que as anima, em sua época e em suas circunstâncias políticas”. Selecionei um trecho do livro de Fançois Châtelet, Olivier Duhamel e Evelyne Pisier-Kouchner (tradução de Carlos Nelson Coutinho, meu contemporâneo de UNE e Partidão) que comenta o “equívoco profundo” de análise do pensamento conjunto de Marx:
“O tema que Lenin recolheu de Friederich Engels, segundo o qual o pensamento de Marx possui três fontes ( a filosofia alemã, a economia política inglesa e o socialismo francês), não é falso, contanto que não se infira dele, como o faz Lênin, que esse pensamento – tendo extraído a quintessência desses três elementos – soube integrá-los num conjunto coerente. Pois o que espanta, quando lemos as milhares de páginas de textos redigidos por Karl Marx (1818-1883) e Friederich Engels(1820-1895), é ao mesmo tempo a diversidade dos temas tratados, dos níveis de intervenção e das técnicas de argumentação, por um lado, e, por outro, o equívoco profundo do projeto de conjunto; e isso porque ora se trata de elaborar nada menos do que uma nova concepção global do mundo, da sociedade e do homem, ora – mais modestamente – de contribuir, através de pesquisas Teóricas, para a luta revolucionária do movimento operário.”

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