sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Alvaro Cunhal. O sonho nunca se acaba.


Nos primeiros dias de  junho de 1974, eu, Thereza e um amigo desembarcamos em Portela de Sacavém e encontramos uma Lisboa que ainda comemorava o 25 de abril. Nas calçadas da Avenida de Liberdade espalhavam-se livros da Editora Vitória, certamente fugidos da perseguição da ditadura militar brasileira. E nas bancas, o jornal do Partido Comunista Português ainda estampava a foto de Álvaro Cunhal a liderança histórica do PCP em seu retorno a Portugal, depois de anos de exílio. Em 21 de maio de 1993 - doze anos antes de sua morte e quatro após a queda do muro – Cunhal profere palestra com o tema “O Comunismo hoje e amanhã”. Segue um pequeno trecho que comprova que os sonhos nunca se acabam, pelo menos para sonhadores com o líder lusitano.
“Considerando a derrocada da URSS e dos regimes do leste da Europa, a mudança daí resultante da correlação mundial de forças e a nova pretensão de restabelecimento do domínio, exploração e hegemonia mundial pelo imperialismo, espalha-se a ideia de que o projecto comunista fracassou, de que “o comunismo morreu”, de que “o comunismo não tem futuro” e de que afinal o capitalismo mostrou ser um sistema capaz de resolver os problemas da humanidade, um sistema superior e melhor que um sistema socialista.
Temos opinião diferente.
Nem o projecto comunista de uma sociedade nova e melhor, deixou de ser válido, nem o capitalismo se mostrou ou mostra capaz de resolver os grandes problemas da humanidade e se pode considerar um sistema definitivo.
O capitalismo sofreu, é certo, alterações ao longo do século XX nas suas estruturas económicas e sociais. Desenvolveram-se a internacionalização dos processos económicos e sistemas de cooperação e integração. As forças produtivas receberam poderoso impulso com a revolução científico-técnica.
Mas o capitalismo manteve e mantém as suas características essenciais, como sistema de exploração, opressão e agressão, marcado por injustiças, desigualdades e flagelos sociais. O capitalismo é um sistema em que há classes que exploram e classes que são exploradas, classes que dominam e outras que são dominadas, classes que governam em seu proveito e outras que para seu mal são governadas, classes que constituem uma minoria da população que concentra a riqueza e a usufrui em excesso e classes que constituem a maioria esmagadora da população que vive com graves carências e que, em vastíssimos sectores, vive numa zona social sombria de pobreza e miséria.
Internacionalmente, é um sistema em que os países mais desenvolvidos, mais ricos e mais fortes exploram, dominam, subjugam e oprimem pelas mais variadas formas os países mais atrasados, mais pobres e mais fracos, mantendo e criando no mundo zonas imensas de fome que afecta e mata milhões de seres humanos.”


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