segunda-feira, 29 de abril de 2013

O Fetichismo sem Mercadoria.


Isleide Arruda Fontenelle produziu um excelente artigo sobre o fetichismo da mercadoria – “O trabalho da ilusão: produção, consumo e subjetividade na sociedade contemporânea” – com ênfase na substituição do “ter” pelo “estar”, na Sociedade do Hiperconsumo e do Espetáculo que estamos vivendo nesta segunda década do século 21. A autora passa muito perto da afirmativa, defendida por este blog, que o fetichismo da mercadoria é o conceito precursor do marketing e do neuromarketing.  A não referência ao fetichismo nos textos dos formuladores das bases do marketing, nas décadas de 50 e 60, é perfeitamente explicável pela “guerra fria” (fria?) quando Marx era sinônimo de União Soviética/Stalin. Quem poderia imaginar Phillip Kotler – guru de todos nós – citando o velho Karl ?
A substituição do “ter” pelo “estar” já foi tema de postagem aqui no blog:
É sempre oportuno relembrar que, com a evolução dos produtores/consumidores, os produtos foram se metamorfoseando em serviços.

Seguem dois trechos do trabalho da Professora Isleide:

“O termo “fetichismo da mercadoria” já é amplamente consagrado na teoria sociológica marxista, sendo tomado especialmente como ponto de partida para sua crítica à Economia Política do século XIX, no período de consolidação do capitalismo industrial. A construção do conceito deu-se, portanto, a partir de uma interpretação da realidade da época, enfocando aspectos objetivos e subjetivos ligados à nova forma social estabelecida pelo capitalismo vigente. Portanto, a uma organização social da produção, poderíamos dizer que Marx respondeu com uma “organização social da ilusão”.
Dos muitos aspectos trabalhados no “fetichismo da mercadoria”, um em especial ainda se sustenta (e não por acaso precisa ser retomado em uma discussão sobre o novo estatuto do fetichismo na sociedade de consumo contemporânea): de que o valor da mercadoria não está no próprio corpo da mercadoria. Para Marx, ele é produto de uma organização social: da que produz a mercadoria (força-trabalho/valor­trabalho/mais-valia) e da que consome a mercadoria, que mediante valores culturais da época, também passa a valorizar a mercadoria (valor-desejo/valor-de-gozo). Portanto, em Marx, o fetichismo da mercadoria indicava uma espiritualização do corpo-mercadoria, embora a mercadoria ainda fosse vendida como aquilo que era: algodão, café etc.
Com o desenvolvimento tecnológico a partir dos anos 1960 e a criação da imagem de marca, a mercadoria ganhou uma alma, aquela alma que Walter Benjamin ainda se perguntava, 50 anos depois dos escritos marxistas.”
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Sem dúvida, o suporte materialista para pensarmos os desdobramentos do fetichismo está na questão do valor, pois ele é o “Real da ilusão” no qual estamos enredados. E foi em busca dessa compreensão, a partir de uma análise interna aos mecanismos do marketing na sociedade de consumo contemporânea, que constatei o estágio atual do fetichismo das imagens “coincidindo” com um momento do desenvolvimento econômico no qual dá-se início a uma nova etapa comercial em que a mercadoria torna-se, de fato, desnecessária.
Trata-se da “economia do acesso” – uma forma de economia que promove o acesso a serviços e experiências, a fim de que se possa deles gozar, sem que se obtenha a propriedade do serviço. Ou seja: o capitalismo está entrando em uma nova fase na qual o acesso a um bem ou serviço passa a ser mais importante do que a compra/propriedade desse serviço. E isso altera radicalmente a noção de propriedade, um dos elementos centrais do capitalismo industrial e do contrato social moderno. Assim como a questão do valor: veicula-se agora o valor da experiência.”

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