Segue a última parte da tradução livre dos
comentários de Guillaume Collinet sobre o livro “Le fétichisme chez Marx, le marxisme
comme théorie critique” de Antoine
Artous . Nesta postagem, Collinet se pergunta o que seria de uma sociedade sem
qualquer fetiche? E admite que “os erros
cometidos pelos países do "socialismo real" veio para preencher as
lacunas internas na teoria de Marx, lançando sobre elas um forte facho de luz”.
“O mais interessante é o capítulo final do livro de
Artous, que examina a delicada questão da natureza do socialismo, as
implicações da necessária expansão da teoria do fetichismo além daquela que se
circunscreve meramente à mercadoria. O que seria uma sociedade sem qualquer
fetiche? Sabemos que Marx responde a esta pergunta com a ideia de "plano
comum/consertado/harmonizado (conserté) ". Em uma sociedade onde, baseada
na propriedade comum dos meios de produção, a atividade econômica assume uma
forma planificada e as relações sociais tornam-se simples e transparentes.
Com tal resposta, Marx se apresenta curiosamente
infiel à sua própria intuição de um fetichismo próprio da forma organizada. Como
testemunho, destaque-se a comparação que ele mesmo estabelece entre a abordagem
de Robinson Crusoé, anotando em um livro o trabalho já realizado e os restantes
para ser feito, e a lógica prevalecente na futura sociedade comunista.
O planejamento, mesmo o “concertado”, como o
realizado dentro da empresa capitalista, corresponde a uma forma social, que
cristaliza o trabalho social realizado pela cooperação entre os vários produtores.
Em outras palavras, a operação consiste em, depois de um plano, transformar uma multidão de forças de trabalho
individuais em uma única força de trabalho social não pode ser reduzida a uma
"administração de coisas", a
uma simples operação de tecnologia
social.
Falta a Marx, a despeito de suas intuições, uma análise do “plano” como uma relação social de produção. Isso vale também para o marxismo ulterior. Trotsky, por exemplo, cujo mérito é se aperceber que, com base nas contradições de uma economia estatizada e planificada, pode se construir uma burocracia, no entanto se recusou ao menos a considerar que esta classe social pudesse intervir no processo de produção (ele circunscreveu sua ação ao segmento da distribuição). Será que é preciso dizer que a falta de uma caracterização do “plano” como provável formador de uma classe pesou muito no destino dos regimes ditos marxistas?
Não é, no entanto, intenção de Artous, fazer de
Marx o responsável por esse destino, mas
apenas a admitir que os erros cometidos pelos países do "socialismo
real" veio para preencher as lacunas internas na teoria de Marx, lançando
sobre elas um forte facho de luz.
Ao final, a leitura da obra de Artous deixa a todos
convencidos do imenso painel teórico aberto a todos aqueles para os quais a
crítica das relações sociais capitalistas ainda tem como se alimentar na obra
Marx.
Que status deve ser dado aos pressupostos jurídicos
e políticos contidos nos relatórios e comerciais e organizacionais? Qual é a
relação entre o capitalismo, mercado e organização ? Como pensar, em uma
sociedade socialista, a articulação entre as formas de mercado, organizadas e
de produção associativa? Como se vê, não é possível se contentar com simples
ajustes à teoria de Marx ou até mesmo
correções marginais. A tarefa com a qual os marxistas contemporâneos estão
confrontados é a reconstrução do marxismo.
Ao identificar a possibilidade de um fetichismo da
organização, estabelecendo que o capitalismo se define também pelo
desenvolvimento de formas específicas de administração (e não apenas pelo
mercado), sublinhando que o socialismo não pode ser identificado pelo formato
de organização da produção, sem dúvida, o trabalho de Artous aporta uma
contribuição muito útil para esta tarefa.”
Referência:
Guillaume Collinet, "Antoine Artous, o
fetichismo de Marx marxismo como teoria crítica,"| 2006 posted 27 de
dezembro de 2012, http://variations.revues.org/525
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