quinta-feira, 11 de abril de 2013

Fetichismo X Alienação.


Antoine Artous, autor de diversos livros sobre a obra de Marx, concedeu uma estimulante entrevista ao pesquisador da Unicamp Henrique Amorim. Na pergunta sobre o conceito de fetichismo da mercadoria, Artous insiste na tese de dois Marxs – o dos Manuscritos de 1844 versus o de O Capital

Henrique Amorim - Qual é a importância do conceito de fetichismo da mercadoria em Marx? A teoria do fetichismo é um desenvolvimento da teoria da alienação?
Antoine Artous - Existe certamente um elo nas preocupações de análise. Trata-se de dar conta sobre como, nas relações de produção capitalistas, as relações sociais se conectam acima da cabeça dos indivíduos (e, em primeiro lugar, dos assalariados) e aparecem como o movimento da “coisa social” (o capital, o trabalho, a mercadoria...), relações sociais que são “naturalizadas”, consideradas como “naturais”. Em todo caso, a teoria da alienação, caso se queira levá-la a sério, se apoia numa problemática “essencialista”; assim, nos Manuscritos de 1844, o jovem Marx faz referência a uma essência humana (do trabalho) que se expressaria sob uma forma alienada no trabalho capitalista. Naturalmente Marx, que conhece Hegel , não a considera naturalista, ela se constrói através da história. Isto tem diversas consequências na análise (o trabalho explorado é pensado sob a forma de um trabalho artesanal dominado pelo capital) e nas problemáticas de emancipação: a emancipação é a marcha para uma sociedade transparente, pois acaba permitindo que se realize a essência humana. Ora, fundamentalmente, em O Capital, Marx toma outro ponto de partida: a especificidade das relações sociais de produção capitalista e seu efeito sobre o agir e o pensamento dos indivíduos. Neste quadro, a teoria do fetichismo não remete ao que seria uma forma de consciência alienada, mas à opacidade específica produzida pela dominação social da forma valor caracterizada pelas relações de produção capitalistas. Aqui, a concepção da dita “ideologia” é interessante, pois Marx não se refere inicialmente à produção manipulada de ideias pela classe dominante, mas – de certa forma – a um campo de visão imbricado nas relações sociais. É, por exemplo, desta maneira que Marx critica a economia política clássica, sem fazer disso um simples discurso apologético.



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