quinta-feira, 18 de abril de 2013

Desencantamento do mundo e fetichismo.


Segue a segunda parte da tradução livre dos comentários de Guillaume Collinet sobre o livro “Le fétichisme chez Marx, le marxisme comme théorie critique” de Antoine Artous . Nesta postagem, Collinet registra o movimento de ruptura do capitalismo e o movimento de “desencantamento do mundo”, na era burguesa.

“Este conceito não designa outra coisa que um véu pudico lançado sobre a origem do valor. Mais especificamente, este conceito abriga  a intenção de refletir sobre a forma de opacidade específica que caracteriza as relações sociais capitalistas.
Cada sistema social cria suas formas específicas de opacidade. No que concerne às formas pré-capitalistas, esta opacidade tem a marca das relações sociais de  produção contidas nas relações de dependência pessoal (patrão / escravo, senhor / servo ...) legitimadas pela referência a uma ordem natural ou cósmica.
É preciso constatar que, a partir deste ponto de vista, o capitalismo é um ruptura. A era burguesa é marcada por um movimento de "desencantamento do mundo" (Weber). Marx registra perfeitamente, esta ruptura; e é por isso que ele ressaltou que o assalariado moderno não vende a sua pessoa, mas apenas a sua força de trabalho (a relação salarial não é equivalente a uma dependência pessoal).
No entanto, Marx mostra também que, apesar da retirada dos deuses  da vida da cidade, as relações sociais capitalistas não são apresentadas como elas realmente são - ou seja, relações de exploração.
Em vez disso, elas mascaram a representação social do objeto - e da força de trabalho – como mercadoria; elas tomam a forma de uma relação entre coisas, a qual se atribui, fantasmagoricamente, o poder de definir a ordem social.
É para prestar conta desta forma específica de opacidade, que consiste em coisificar uma relação social, que Marx mobiliza a categoria de fetichismo, originalmente destinada a caracterizar as formas de religiosidade as mais primitivas e o fato de adorar um objeto ao qual eram atribuídos poderes divinos. Este empréstimo tem inicialmente uma função crítica: uma categoria que identifica uma forma arcaica é usada para capturar algumas características de  sociedades ditas mais desenvolvidas.

Tais formas de opacidades específicas geradas por cada sistema social, como corretamente insiste Artous, não são uma mera ilusão, justificando a posteriori as relações de produção que poderiam sobreviver perfeitamente fora deles.
Estas representações sociais constituem relações sociais  a quem servem para legitimar. Elas são a pressuposição, a condição. Sua redução a um mero reflexo, mais ou menos deformado, das condições materiais de produção, pode autorizar, é verdade, alguns dos textos de Marx.
Ela tornou-se um verdadeiro lugar comum do marxismo ulterior. Este não é o menor dos méritos do trabalho de Artous que rompe definitivamente com o lugar-comum. Ele estabelece de forma convincente que o esforço permanente de Marx em pensar a dimensão ideal das relações sociais não se enquadra com a teoria da representação-reflexo.”
Referência:
Guillaume Collinet, "Antoine Artous, o fetichismo de Marx marxismo como teoria crítica,"| 2006 posted 27 de dezembro de 2012, http://variations.revues.org/525



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